Lira envia “sinal amarelo” sobre erros na pandemia e freará reformas

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São Paulo – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse ontem à noite que estava enviando um “sinal amarelo” aos responsáveis pela condução do combate à pandemia de covid-19 no Brasil, indicando que estará menos tolerante ao que for considerado erro na condução da crise, e deixou claro que a prioridade no momento é votar pautas relacionadas à pandemia, em vez de reformas econômicas.

“Eu estou apertando hoje um sinal amarelo, para quem quiser enxergar. Não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o País, se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que não são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a ser praticados”, disse Lira ontem à noite ao plenário da Câmara.

“E eu aqui não estou fulanizando, vou repetir: eu não estou fulanizando, dirijo-me a todos que conduzem os órgãos diretamente envolvidos no combate à pandemia, o Executivo Federal, os Executivos Estaduais, os milhares de Executivos Municipais também, como sabemos, o sistema de saúde é tripartite.”

“Por isso mesmo, todos têm que estar mais alertas do que nunca, pois a dramaticidade do momento exige. A razão não está de um lado só, com certeza, os erros não estão de um lado só, sem dúvida; mas, acima de tudo, os que têm mais responsabilidade têm maior obrigação de errar menos, de se corrigir mais rapidamente e de acertar cada vez mais, é isso ou o colapso”, afirmou o presidente da Câmara.

Ele acrescentou em seguida que “não é justo descarregar toda a culpa de tudo no governo federal ou no presidente” Jair Bolsonaro, e que antes de responsabilização individual pelos erros cometidos na contenção da covid-19 é preciso “tentar que o coletivo se imponha sobre os indivíduos, esgotar todas as possibilidades deste caminho”.

No entanto, mandou um recado claro para o Planalto de que insistir em soluções conhecidamente ineficazes contra a covid-19 – como o “tratamento precoce” – ou se recusar a mudar de postura diante dos apelos da sociedade terá consequências políticas.

“É nesse esforço solidário e genuíno que estarei engajado, junto com os demais Poderes, mas será preciso que essa capacidade de ouvir tenha como contrapartida a flexibilidade de ceder. Sem esse exercício, a ser praticado por todos nós, esse esforço não produzirá os resultados necessários”, disse Lira.

“Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos; alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta Presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política”, acrescentou.

“Não é hora de tensionamentos. Prefiro também repetir essa frase: não é hora de tensionamentos, de CPIs ou de lockdowns parlamentares. Medidas com níveis decrescentes de danos políticos devem ser evitadas, mas isso não depende apenas desta Casa; depende também, sobretudo, daqueles que, fora daqui, precisam ter a sensibilidade de que o momento é grave, a solidariedade é grande, mas tudo tem limite. Tudo. E o limite do Parlamento brasileiro, a Casa do povo é quando o mínimo de sensatez em relação ao povo não está sendo obedecido.

REFORMAS

Lira também explicitou que seu objetivo de curto prazo é votar medidas que facilitem o combate à pandemia de covid-19, e não as reformas econômicas defendidas pelo Planalto. “Quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando matérias teóricas, como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no noticiário.”

“Dentre todas as mazelas brasileiras, nenhuma é mais importante do que a pandemia. Esta não é Casa da privatização, não é a Casa das reformas, não é nem mesmo a Casa da leis, é a Casa do povo brasileiro, e, quando o povo brasileiro está sob risco, nenhum outro tema ou pauta é mais prioritário.”

“Então, faço um alerta amigo, leal e solidário. Dentre todos os remédios políticos possíveis que esta Casa pode aplicar no momento de enorme angústia do povo e de seus representantes, o de menor dano seria um freio de arrumação, até que todas as medidas necessárias e todas as posturas inadiáveis fossem imediatamente adotadas, até que qualquer outra pauta pudesse ser novamente colocada em tramitação”, afirmou.

“Falo de adotarmos uma espécie de esforço concentrado para a pandemia. Durante duas semanas em que os demais temas da pauta legislativa sofreriam uma pausa para dar lugar ao único que importa, como salvar vidas, como obter vacinas, quais os obstáculos políticos legais e regulatórios precisam ser retirados, para que o nosso povo possa obter a maior quantidade de vacinas no menor prazo de tempo possível.”