Maior parte do mercado aposta em manutenção da Selic e comunicado cauteloso, com questão fiscal no radar

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Porto Alegre, 6 de dezembro de 2022 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia hoje (6), em Brasília, a última reunião do ano para definir a taxa básica de juros, a Selic. Amanhã (7), ao fim do dia, o Copom anunciará a decisão. A maioria do mercado ainda mantém aposta em manutenção da Selic em 13,75% ao ano. Mas as dúvidas em torno da questão fiscal, decorrentes da PEC da transição que tramita no Congresso, sugere cautela, que deverá ser mantida no comunicado.

 

De acordo com o boletim Focus, a expectativa é que a Selic termine o ano nesse patamar. Mas para o próximo ano, os ajustes já começaram a ser feitos, indicando que o corte na Selic poderá ser menor do que o esperado anteriormente. Nesta semana, o mercado elevou a estimativa para o juro básico de 11,50% ao ano para 11,75%.

 

Em entrevista à Agência CMA, o CEO da VG Research, Vicente Guimarães, disse que trabalha com manutenção, mas que não descarta aumentos agora ou nos próximos encontros, devido à questão fiscal e seus efeitos sobre a inflação. Guimarães citou ainda o cenário externo recessivo e a proximidade da definição da política monetária americana como pontos que merecem atenção redobrada e que devem fazer com que o Copom opte por um tom cauteloso.

 

A XP disse que espera que a Selic seja mantida em 13,75% na reunião do Copom. Ela também destacou que as incertezas fiscais ganham força no médio prazo, e projeta o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 5,9% ao final de 2022 e de 5,0% no término do próximo ano.

Para 2024, a estimativa permaneceu em 2,9%.

 

“Há sinais, contudo, de que a economia vem gradualmente desacelerando, especialmente nos setores mais sensíveis à política monetária. No cenário externo, a tendência de aperto monetário foi reforçada, com a manutenção do discurso duro pelos principais bancos centrais. Os preços das commodities seguem relativamente estáveis, e indicadores de custos de produção melhoram consistentemente (pesquisas PMIs de preços; custos de frete; indicadores de aperto nas cadeias globais). Com isso, aumentou a probabilidade de um quadro de desinflação global em 2023. Esses fatores já se traduzem em deflação nos índices de preço no atacado (IPA) no Brasil, o que tende a melhorar o balanço de riscos da inflação de curto prazo (2023)”, disse a XP.

 

A companhia entende, porém, que “as discussões fiscais em torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição aumentaram o risco de gastos maiores do que o esperado no próximo ano, e uma dinâmica de despesas (e de dívida pública) nos anos seguintes. Se esse risco se materializar, as expectativas de inflação de médio prazo (2024) que já estão acima da meta tanto na pesquisa Focus como nos mercados futuros (inflação implícita) podem ficar mais pressionadas. Assim, o quadro de desinflação para o próximo ano não necessariamente significa que o desafio da política monetária será menor adiante”.

 

Em relatório, o BTG afirmou que espera que o Copom mantenha a taxa Selic em 13,75% a.a., mais uma vez. “Em outubro, o comitê demonstrou uma postura vigilante e reafirmou sua estratégia de manter a Selic inalterada por um período suficientemente prolongado, avaliando se tal ação será capaz de garantir a convergência da inflação para a meta”, afirmou em relatório.

 

Por outro lado, o BTG lembra que o fluxo das últimas notícias veio em direções opostas desde então. O cenário internacional permanece volátil, apesar da sinalização do presidente do Fed, Jerome Powell, de que o ritmo dos aumentos do Fed diminuirá em dezembro. Internamente, o quadro é igualmente desanimador.

 

“A política fiscal parece mais expansionista do que esperado no próximo ano. De fato, os programas de transferência de renda, inicialmente vistos como temporários, serão mantidos, sem contrapartidas, pelo menos no curto prazo”, lamentou o banco. “A renúncia à regra do teto de gastos, negociada no Congresso, também aponta para valores bem acima das expectativas”, prosseguiu.

 

Segundo o BTG, a regra fiscal, cuja credibilidade foi fortemente corroída este ano, deve ser substituída por outra estrutura (ainda indefinida).

 

“Assim, não seria de estranhar que o Copom optasse por sinalizar uma deterioração do cenário fiscal componente de seu balanço de riscos”, completou.

 

O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

 

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