Manutenção de juros altos em 2023 deve forçar novas reestruturações de empresas

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São Paulo – A expectativa é que os juros permaneçam altos durante todo 2023, o que provavelmente forçará muitas empresas a fazerem reestruturações, fechando lojas e demitindo funcionários. A análise é do José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.

“Com o juro alto, o crédito fica mais caro, dificultando que as varejistas consigam financiar os clientes por um período maior de tempo. E o resultado disso são menos vendas, que agravam ainda mais a situação já delicada.”

O analista destaca que o momento para as varejistas não é dos melhores, dado que o aperto monetário, através do aumento das taxas de juros, tem pressionado o capital de giro, apertando os estoques e reduzindo a possibilidade de concessão de crédito aos consumidores.

“O ano de 2023 já foi marcado por grandes solavancos no mercado de capitais, com o anúncio de três gigantes do mercado buscando reestruturar as suas dívidas para evitar a tão temida recuperação judicial, embora a Americanas não tenha conseguido escapar.”

Além do caso da Americanas, que renegocia uma dívida de mais de R$ 40 bilhões, a Oi caminha para um segundo pedido de recuperação judicial. Azul e Gol renegociam vencimentos, Light, Marisa e CVC, contrataram assessores financeiros para encabeçar tratativas com os credores. Com isso, o total de dívidas das empresas é de mais de R$ 90 milhões.

“Sem dúvida, o elo em comum entre empresas como essas empresas – e possivelmente as que ainda virão – é que entraram em um cenário de aperto monetário com uma alavancagem financeira desequilibrada”, avalia o analista da Suno, que cita entre as razões a manutenção da inflação elevada por muito tempo, o que exigiu do Banco Central uma posição contracionista, com o consequente aumento das taxas de juros.

“Isso pegou de surpresa muitas empresas, sejam aquelas que estavam em crescimento – caso da Americanas -, sejam aquelas que estavam com problemas operacionais (Light e Marisa, por exemplo). Além de estarem mais alavancadas, a Marisa e a Americanas atuam em um setor altamente competitivo, em que precisa financiar o seu cliente para finalizar a compra. É a famosa compra parcelada, muitas vezes.”

DEVOLUÇÃO DE GALPÕES

A devolução de galpões logísticos pela Americanas, segundo dados divulgados pela SDS Properties, imobiliária especializada em galpões em condomínios logísticos, utilizados para a sua operação de comércio eletrônico e a queda da procura pela busca por seu site de maneira acentuada, como reflexo do pedido de recuperação judicial, devem indicar o início de uma ampla reestruturação da empresa, que vai muito além da equalização das dívidas financeiras.

“Isso ocorre porque, assim como toda empresa, a credibilidade e segurança são fatores preponderantes para a realização da venda. Nesse sentido, tanto os consumidores quanto fornecedores ficam receosos de fazer compras ou até vender seus produtos para a empresa, com receio que não os receberão no futuro. Por consequência, a situação da varejista que já era grave, com dívidas financeiras impagáveis, se torna ainda mais delicada, porque o resultado operacional deve cair”, comenta Daronco.

“Justamente por esses motivos, os bancos credores exigem um aporte alto dos acionistas de referência, porque, sem ele, provavelmente a empresa não conseguiria manter as suas operações”, acrescenta o analista.

Segundo reportagem do “Estadão”, a Americanas já vinha devolvendo espaços de armazenagem antes do pedido de recuperação judicial feito pela varejista no dia 19 de janeiro. E essa prática continuou no início deste ano. A empresa fechou um centro de distribuição em Fortaleza (CE). Agora, a operação da varejista no Ceará terá como base o centro de distribuição em Recife (PE).

Segundo o levantamento da SDS, no ano passado a companhia chegou a ocupar 830 mil metros quadrados (m) em condomínios logísticos espalhados pelo País. Desse total, a Americanas devolveu quase 20%. Foram desocupados 159 mil m, espalhados entre Betim (MG), Resende (RJ), Cajamar (SP) e Ribeirão Preto (SP).

Para este ano, serão devolvidos mais 69 mil m distribuídos em condomínios logísticos localizados na Grande Curitiba (PR), Grande Porto Alegre (RS) e Hortolândia (SP).

Em novembro do ano passado, a Americanas avisou que devolveria 26 mil m2 de um galpão no condomínio logístico em Hortolândia (SP), da gestora RBR, por exemplo. Pelo contrato, a varejista tem de cumprir 12 meses de aviso prévio até entregar o imóvel. Ou seja, a desocupação está prevista para novembro deste ano. Localizado a 90 quilômetros da capital paulista, o empreendimento fica num raio onde a demanda por galpões está aquecida então sua desocupação não preocupa.

Segundo a Americanas, o encerramento de parte da operação nos centros logísticos citados pela reportagem já fazia parte de uma estratégia de otimização dos espaços de armazenagem, em andamento desde 2022 e que é comum a todo o varejo e a iniciativa não causou impactos de entrega aos clientes.