Mau humor externo faz bolsa fechar em queda e dólar em alta

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São Paulo – A Bolsa teve um dia de mau humor e fechou em queda de 1,73%, aos 118.723,97 pontos, com os investidores seguindo o pessimismo em Nova York e à espera do importante evento de amanhã, de Jackson Hole, para tratar sobre a política econômica dos Estados Unidos. A grande expectativa é para a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) sobre o tapering (redução de estímulos).

Por aqui, os investidores se preocupam com a crise hídrica e o impacto na inflação, além das questões fiscais. As ações com peso no índice caíram e favoreceram a retração no Ibovespa. Os papéis do setor financeiro caíram em bloco, as ações da Vale perderam mais de 1% .

Nem mesmo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) -316,5 mil empregos formais em julho, com 1.656.182 contratações e 1.339.602 desligamentos- contribuíram para animar os investidores.

Para Breno Bonani, especialista do Valor Investimentos, a Bolsa segue atrativa. “Hoje negociou com desconto de 64% frente ao PL (preço sobre lucro) dos EUA, historicamente fica em 33% “. Mais cedo, as falas de dirigentes do Fed afirmando que já enxergam uma redução na compra de ativos também refletiram negativamente no mercado.

O dirigente do Fed da unidade de Dallas, Robert Kaplan, defendeu a redução da compra de ativos já na reunião do banco central, em setembro, e disse preocupado com a inflação. A presidente do Fed de Kansas City, Esther George, também compartilhou da mesma opinião, mas não disse quando isso deve ocorrer.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, afirmou que dois fatores estão impactando o mercado, as apostas para o evento de Jackson Hole a insistência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em colocar a reforma fiscal na pauta.

“O mercado vinha em uma precificação de que a autoridade monetária não faria nenhum comentário sobre a redução de estímulos à economia, mas depois começou antecipar a possibilidade do Powell entrar com alguma sinalização de tapering”. Mas Miraglia, enfatizou que “Powell não sinalizará nada de tapering”.

Para Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, o mau humor na Bolsa é atribuída ao pessimismo no mercado externo e atenção à piora das condições hídricas por aqui. “O mercado lá fora está cauteloso com o evento de Jackson Hole e existe muita preocupação com a crise hídrica, após a fala do Guedes [ministro da Economia] ontem sobre o aumento da energia elétrica”.  O ministro disse que não teria problema a energia elétrica subir um pouco agora.

Mas para Simone, o maior pano de fundo hoje é o evento de Jackson Hole. “O presidente do Fed deve apontar as maiores causas de preocupação com a economia e como a autoridade monetária vai lidar com isso. Não espero uma indicação direta, mas uma sinalização de quando o banco central norte-americano vai diminuir os estímulos monetários drenando a injeção de dinheiro”, enfatizou.

Para a economista-chefe do Reag Investimentos “Não acredito que o cenário do Afeganistão, com a explosão em Cabul, impacte no Ibovespa”. Por aqui, o cenário político-institucional segue no radar dos investidores.

Para José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, a fala do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, impactou negativamente no mercado e causou esse estresse. “Os comentários de Bullard geraram dúvida no mercado, um dia antes da fala de Powell, quando disse que a retirada dos estímulos está atrasada e está vendo preocupações com a possível bolha imobiliária”.

O dólar fechou em R$ 5,2560, com alta de 0,86%. Esta elevação pode ser explicada basicamente por fatores domésticos, como a aproximação de uma provável crise hídrica que acarretaria um inevitável aumento da inflação, o que influi diretamente no câmbio.

Para o economista da Nova Futura Investimentos, Matheus Jaconeli, “a questão hídrica é muito importante, com o mercado esperando que a inflação aumente em até 1 p.p, gerando mais um fator de risco”.

“Ainda existe a crise entre os poderes, embora Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) e Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados) tentem equilibrar a situação. Existe preocupação que a manifestação do dia 7 de setembro cause ruído e deixe o mercado apreensivo”, analisa Jaconeli.

Segundo o economista da Renascença Corretora, Daniel Queiroz, “a principal questão é a inflacionária, com a crise hídrica, que irá elevar novamente a bandeira vermelha. Isso acaba jogando o dólar para cima”.

“A questão fiscal também pode piorar, com a possibilidade da diminuição da arrecadação do governo com a aprovação da reforma tributária”, pontua Queiroz.

De acordo com a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “o mercado melhorou nos últimos dias, com o tom conciliador de Arthur Lira, mas o problema (fiscal e político) ainda está longe de ser resolvido”.

Consorte também é reticente quanto ao valor atual do dólar: “Eu não confiaria neste patamar, creio que o cenário cambial ainda é muito volátil, e imagino uma depreciação do real”. A economista também acredita que os problemas domésticos, neste momento, refletem muito mais na moeda do que o cenário internacional.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam com leves oscilações, depois de terem passado toda a sessão orbitando níveis próximos da estabilidade, com os investidores em compasso de espera diante da expectativa de possíveis sinalizações do presidente do

Fed durante sua intervenção no simpósio de banqueiros centrais de Jackson Hole, esperada para amanhã.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 6,765%, de 6,720% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,47%, de 8,45% o DI para janeiro de 2025 fechou estável, a 9,42%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,80%, de 9,78%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano interromperam a sequência recente de vitórias e terminaram o dia queda, com os investidores aguardando os detalhes sobre o processo de retirada de estímulos do Fed e também acompanhando com cautela os últimos eventos no Afeganistão.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,54%, 35.213,12 pontos

Nasdaq Composto: -0,64%, 14.945,80 pontos

S&P 500: -0,58%, 4.470,00 pontos