São Paulo – Após uma manhã sem rumo definido, o Ibovespa passou a subir mais de 1% refletindo a decisão extraordinária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de cortar a taxa de juros em 0,50 ponto percentual (pp) em meio ao surto do novo coronavírus.
Porém, o índice já desacelerou ganhos acompanhando as Bolsas norte-americanas, com a volatilidade devendo continuar nos mercados enquanto investidores aguardam, agora, a coletiva de imprensa do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava alta de 0,66% aos 107.332,13 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 14,9 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em abril de 2020 apresentava avanço de 0,35% aos 107.685 pontos.
A decisão do Fed foi unânime e a autoridade monetária afirmou em comunicado que o novo coronavírus representa riscos para a atividade econômica, embora os fundamentos da economia permaneçam sólidos.
Para o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara, a medida era esperada pelo mercado, que já especulava sobre uma possível ação mais rápida do Fed e aguardava medidas por parte de bancos centrais mundiais.
“É positivo pelo fato de ajudar a sustentar a economia, atender aos pedidos do mercado mas, mostra quão grave deve ser o impacto ainda do coronavírus nos negócios globais”, pondera. Na sua avaliação, porém, “a única certeza que temos para os próximos dias é volatilidade”.
O dólar comercial oscila frente ao real após virar sinal e renovar mínimas sucessivas após o Fed cortar a taxa de juros de forma extraordinária, em 0,50 ponto percentual, indo a 1,00% a 1,25% em decisão unânime. Mais cedo, o presidente do Fed, Jerome Powell, esteve na reunião entre os ministros de Finanças do G-7 (grupo composto por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) e líderes de bancos centrais.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava ligeira alta de 0,04%, sendo negociado a R$ 4,4920 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em abril de 2020 apresentava avanço de 0,40%, acotada a R$ 4,499.
“O Fed cortar a taxa de juros de forma extraordinária pega todo mundo de surpresa e traz uma leitura de que queira antecipar um cenário de crise global. É bom porque tem liquidez, mas é ruim porque a leitura é de as coisas não estão boas e pode ser um contexto de crise”, comenta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. A última vez que o Fed tomou medida parecida foi em 2008.
Ela acrescenta que o corte é “oportuno”, porém, aumentam as chances de corte aqui. “A magnitude do corte da Selic [taxa básica de juros] não vai importar muito. O que importa é a direção que o Copom vai seguir. Mas a expectativa é de mais cortes de juros tanto aqui, como lá fora também”, diz.
No encontro, o G-7 declarou que usaria “todas as ferramentas para conter os impactos econômicos” provocados pelo avanço da doença. “Nós, ministros das Finanças do G-7 e governadores do Banco Central, estamos monitorando de perto a propagação da doença de coronavírus e seu impacto nos mercados e condições econômicas”, afirmou o grupo em comunicado publicado pelo departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
Segundo o documento, além de dar maior apoio aos serviços de saúde, os ministros de finanças afirmaram estar “prontos para tomar atitudes, inclusive medidas fiscais, onde for apropriado, para ajudar e apoiar a economia durante esta fase”.
Para o consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello, após o fim do encontro, os mercados esperavam um “comprometimento maior” das lideranças econômicas. O que fez o dólar ganhar mais força no exterior e levar a moeda estrangeira aos níveis acima de R$ 4,50.
“Foi bom o corte. É isso que o mercado quer ver: ação. Agora, é pensar no que o Fed vai fazer na reunião de política monetária [marcada para 17 e 18 de março, quando sairá a decisão do BC norte-americano”, pondera.
Faganello acrescenta que ainda não é possível mensurar se, mesmo diante dos estímulos dos BCs, isso será suficiente para a melhoria da atividade global, mas se eles não vierem o sentimento pode piorar. “Acho que ainda vamos acompanhar um bom momento de volatilidade”, diz.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) apagaram a alta, acompanhando a mudança de sinal no dólar e no Ibovespa, após o corte de 0,50 ponto percentual (pp) na taxa de juros dos Estados Unidos anunciado pelo Federal Reserve. A decisão extraordinária do Fed, a primeira desse tipo desde 2008, levou os investidores a calibraram as apostas em relação ao Comitê de Política Monetária (Copom).
Às 13h30, o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 3,89%, de 3,965% após o ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2022 estava em 4,27%, de 4,36% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,89%, de 4,97% ao final da última sessão; e o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 5,81%, de 5,90%, na mesma comparação.