São Paulo – A preocupação dos investidores com o atraso na produção e distribuição de vacinas contra a covid-19 no Brasil, somada ao aumento de casos da covid-19 no país, elevou as apostas de que o governo precisará recorrer a medidas de estímulo para evitar a derrocada da economia e, com isso, piorará ainda mais a situação fiscal.
Este cenário pesa sobre o Ibovespa, que cai 1,29%, aos 119.075 pontos, descolado do movimento observado no exterior, onde as bolsas sobem diante da expectativa de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, que tomará posse hoje, adotará medidas que inundarão o sistema financeiro com trilhões de dólares que buscarão abrigo no mercado acionário, diante das baixas taxas de juros norte-americanas.
Até agora, o Brasil possui apenas 6 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Sinovac em parceria com o instituto Butantan à disposição. Os insumos para a fabricação precisam ser importados da China, mas houve atrasos nas remessas.
A China é um dos países cujas relações com o Brasil sofreram deterioração durante o governo do presidente Jair Bolsonaro por causa de críticas ao país feitas por membros da administração e pessoas correlatas – como o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que chegou a brigar publicamente com a embaixada da China no Brasil via Twitter.
Hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reuniu-se com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, e disse que o diplomata refutou alegações de que os chineses estariam atrasando o envio dos insumos por questões políticas.
Maia disse que Yang citou dificuldades técnicas para a entrega dos insumos e disse que eles “estarão sendo superados rapidamente”, mas não apresentou data para a entrega dos produtos.
Há outra vacina aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso emergencial – a da AstraZeneca, que no Brasil será fabricada e distribuída pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mas neste caso os insumos não estão chegando nem da China nem da Índia, país com o qual o presidente Bolsonaro é mais alinhado.
Os indianos deveriam ter enviado uma remessa de 2 milhões de doses da vacina da Astrazeneca ao Brasil esta semana, mas até o momento o produto não foi liberado. Além disso, ontem, o governo da China indicou que o Brasil não está na lista de países que receberão as doses no curto prazo. O Ministério das Relações Exteriores disse que continuam as negociações para a importação do imunizante.
“Preocupa muito o cenário de atraso na vacinação”, observa Stefany Oliveira, analista da Toro Investimentos.
No mercado de câmbio, o dólar comercial recua 0,87%, aos R$ 5,2970, acompanhando o movimento do mercado internacional, onde a moeda norte-americana perde força diante da expectativa de ampla oferta de dólares no mercado, seja por meio de estímulos monetários – com os programas do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) -, seja por pacotes a serem adotados por Biden.
“Além de acompanhar o exterior, em meio ao enfraquecimento do dólar na esteira da expectativa por novos estímulos fiscais nos Estados Unidos com a posse de Biden, houve ainda um ingresso de fluxo financeiro para a nossa bolsa [de valores, a B3]”, comentou o diretor de uma corretora nacional.
A queda do dólar pesou também sobre os juros, com as taxas dos contratos futuros das taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caíam a 3,225%, de 3,24% ontem, e as para janeiro de 2023 recuavam a 4,955%, de 4,995%.
“O dólar continua caindo e cai com mais força agora. Os DIs viraram com isso, mas continuam esperando o comunicado” do Comitê de Política Monetária (Copom), explica o analista da CM Capital, Jefferson Lima.
O colegiado deve se reunir hoje e anunciar a decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic. A expectativa do mercado é de que ela seja mantida na mínima histórica, mas alguns apontam que o Copom pode remover do comunicado com a decisão o trecho em que se compromete a manter a taxa neste nível.