São Paulo, 3 de setembro de 2021 – Dados mostrando que a economia dos Estados Unidos criou apenas um terço dos empregos previstos em agosto, mas com um aumento quase duas vezes maior que se previa nos salários, deixaram os investidores divididos em relação à possibilidade de o banco central do país diminuir o estímulo ao crescimento a partir de setembro, o que deixou os investidores mais cautelosos e aumentou a aversão ao risco no exterior e no mercado brasileiro.
Com isso, as bolsas da Europa fecharam em baixa, os índices acionários dos Estados Unidos operam quase estáveis – mas em leve queda, em sua maioria – e o Ibovespa recuava 0,73%, para 115.818 pontos. O dólar comercial caía 0,21% no mercado à vista, para R$ 5,1710, e no mercado futuro o contrato da moeda com vencimento em outubro caía 0,34%, a R$ 5.188,00.
A economia dos Estados Unidos criou 235 mil postos de trabalho em agosto – ante previsão de 750 mil -, mas o salário médio por hora no setor privado somou US$ 30,73 em agosto, alta de 0,56% em relação a julho – ante previsão de 0,30%.
Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, o “número de vagas criadas, muito abaixo do esperado, enfraquece o dólar”. Ela ainda acredita que, neste cenário, as moedas emergentes são beneficiadas. “Com isso, o mercado entende que fica mais difícil prever quais serão os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) quanto ao tapering (retirada de estímulos) e sobre as taxas de juros”, analisou.
Segundo o gestor de renda fixa da Porto Seguro Investimentos, Bruno Canesin, “os números abaixo da expectativa postergam o início do tapering e mantêm a postura dovish (menos propenso ao aumento de juros e à remoção de estímulos) do Fed. Canesin, porém, aborda a política fiscal doméstica, calcanhar de Aquiles do governo: “O mercado espera alguma solução para o orçamento, de como o governo irá encaixar o novo Bolsa Família e os precatórios [no orçamento]”, pontuou.
Sobre este aspecto, o mercado reage em particular à previsão do secretário de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, de que a reforma do imposto de renda deve aumentar o déficit primário do ano que vem – o que significa menos espaço para a expansão e modificação do Bolsa Família em direção ao Auxílio Brasil.
Os investidores também digerem comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre as dificuldades enfrentadas pela instituição para alcançar a meta de inflação diante de um cenário tomado por choques de preço externos e internos e afetado também pelo “ruído” que antecede o ano eleitoral.
A proximidade do feriado da Independência do Brasil, na terça-feira (7), também aumenta o clima de cautela no mercado brasileiro. Isso porque, para a mesma data, estão agendadas manifestações a favor do governo e contrárias ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, durante uma transmissão ao vivo, o presidente Jair Bolsonaro ressaltou este aspecto das manifestações, dizendo que elas devem sensibilizar “uma ou duas pessoas” em Brasília para que “mudem seu comportamento”.
O comentário do presidente faz referência indireta aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF, que tomaram medidas das quais Bolsonaro discorda. As declarações do presidente, somadas às manifestações, diminuem as chances de redução na tensão entre o Executivo e o Judiciário no curto prazo.
Os receios fiscais e políticos contribuíam para elevar as taxas de juros, em particular nos contratos com vencimento mais distante. A taxa de DI para janeiro de 2022 subia a 6,87%, de 6,86% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,705%, ante 8,675%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,85%, de 9,78% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,27%, de 10,20%, na mesma comparação.