Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Olívia Bulla
São Paulo – O Ibovespa opera em alta na volta do feriado apesar do dia negativo no cenário externo ontem e de investidores ainda mostrarem alguma cautela em função das incertezas em torno das negociações comerciais entre China e Estados Unidos.
No entanto, embora existam ruídos, ainda há a percepção que os dois países podem assinar um acordo, além de a cena política local ter trazido algumas notícias positivas, como a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) paralela da Previdência no Senado ontem e andamento da lei de prisão em segunda instância.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava alta de 0,26% aos 106.146,81 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 6,8 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em dezembro de 2019 apresentava avanço de 0,39% aos 106.515 pontos.
“Apesar de ontem ter sido um dia negativo, ontem à tarde e hoje as bolsas norte-americanas já se recuperaram um pouco e aqui tivemos notícias levemente positivas”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo. Ontem, quando a B3 esteve fechada, os mercados internacionais sentiram uma reportagem da agência de notícias “Reuters”, que afirmou que um acordo comercial entre as duas potências mundiais só seria assinado em 2020.
Já hoje, há notícias mistas sobre a guerra comercial. Apesar de ainda existirem algumas informações negativas para um acordo, como a aprovação nos Estados Unidos de leis de apoio aos protestos em Hong Kong, uma reportagem do “Wall Street Journal” afirmou que a China teria convidado os Estados Unidos para mais uma rodada de conversas presenciais em Pequim, o que foi visto com um bom sinal.
Com a indefinição vista lá fora, investidores também observam a cena política doméstica, sendo que, ontem, foi concluída a votação da PEC paralela da reforma da Previdência no Senado, que segue agora para votação na Câmara. A PEC paralela inclui pontos como a entrada de Estados e municípios na nova Previdência. Também foi aprovada a admissibilidade do texto sobre lei que permite prisão após condenação em segunda instância na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).
Entre as ações, as de bancos, como as do Bradesco, e as da Petrobras, que refletem os preços do petróleo, ajudam o índice a operar no campo positivo. Já as maiores altas do Ibovespa são das ações da CVC, que sentem reflexo da queda do dólar, assim como os papéis da Azul.
Na contramão, as maiores perdas são da Marfrig, da Cogna e da Braskem, que reflete a notícia de que o ex-presidente da companhia, José Carlos Grubisich, foi preso nos Estados Unidos acusado de corrupção.
O dólar comercial voltou a oscilar sem direção definida frente ao real, apresentando viés de alta e descolando do exterior, onde o dólar perde terreno frente a moedas pares e de países emergentes em meio às incertezas com as negociações entre Estados Unidos e China a respeito da disputa tarifária.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 0,17%, sendo negociado a R$ 4,2110 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em dezembro de 2019 apresentava avanço de 0,41%, cotado a R$ 4,214.
O analista de mercado da Oanda na América Latina, Alfonso Esparza, reforça que a volatilidade nas declarações de representantes dos Estados Unidos e da China tem pressionado os mercados de países emergentes. “As dúvidas de que um acordo da chamada fase um possa ser alcançado neste ano aumentam e o apetite ao risco entra em colapso”, salienta.
Entre informações desencontradas a respeito das negociações, na abertura, o mercado reagia à China, que tentava acalmar investidores com declarações de que os canais de comunicação permanecem abertos e existe vontade de chegar a um acordo antes do fim do ano.
“Os comentários negativos do início da semana foram equilibrados com as declarações desta manhã e, embora o mercado não esteja completamente convencido até conhecermos mais detalhes no momento, os mercados da América Latina podem recuperar terreno”, avalia Esparza.
Aqui, o economista-chefe da Infinity, Jason Vieira, reforça a preocupação em curto prazo com a moeda estrangeira. “Seu aspecto internacionalizado diminui as pressões sob a equipe econômica, ainda que a saída de capital estrangeiro esteja intensa. A preocupação vem da inflação [que segue comportada]”, diz.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) seguem em alta, reagindo à fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem, de que qualquer ação em caso de impacto do câmbio na inflação se dará via a condução da Selic. Porém, a queda do dólar e o cenário externo limitam o avanço da curva a termo.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2020 tinha taxa de 4,701%, de 4,712% no ajuste anterior, na terça-feira; o DI para janeiro de 2021 projetava taxa de 4,75%, de 4,66%; o DI para janeiro de 2023 estava em 5,94%, de 5,81% após o ajuste da última sessão; e o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 6,52%, de 6,39%, na mesma comparação.