Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Olívia Bulla
São Paulo – Logo após a abertura do pregão, o Ibovespa ampliou perdas refletindo o sentimento de cautela no exterior frente ao aumento de casos de coronavírus, com infectados em novos países. A disseminação do vírus afetou fortemente os mercados asiáticos e os preços de commodities, impactando ações como as da Vale e de siderúrgicas, que têm grande peso no Ibovespa.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 0,72% aos 117.535,95 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 8,5 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em fevereiro de 2020 apresentava recuo de 0,63% aos 117.800 pontos.
Há pouco, agências afirmaram que um novo caso da doença foi confirmado em Cingapura. O vírus surgiu de um mercado de frutos do mar e pecuária em Wuhan, na China, e já se espalhou pelos Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Tailândia. Para conter uma maior disseminação do vírus na China, onde 17 pessoas já morreram e mais de 500 foram infectadas, o governo do país isolou duas novas cidades, além de Wuhan.
Para os analistas do Societe Generale, Wei Yao e Michelle Lam, ainda “há considerável incerteza quanto à evolução da situação”. No entanto, usando como referência a epidemia de Sars em 2003 – que durou nove meses e infectou mais de 5 mil pessoas na China -, a previsão é que se a situação não estabilizar por volta de março, o crescimento do PIB chinês no primeiro trimestre cairá para abaixo de 6%. “Sem dúvida, os setores relacionados ao consumo e ao turismo seriam os mais afetados”, disseram, em relatório.
O possível impacto na economia chinesa afeta ainda os preços de commodities, como do minério de ferro, o que faz com que as ações da Vale, do Bradespar e de siderúrgicas, como da Gerdau, fiquem entre as maiores perdas do Ibovespa hoje.
Ainda entre as maiores perdas estão as ações da Eletrobras, que devolvem ganhos de ontem. Já as maiores altas são da Braskem, do Carrefour e da Cogna.
Após oscilar na abertura dos negócios, o dólar comercial acelerou as perdas frente ao real, descolado do exterior, em meio à correção após a moeda subir mais de 3% ao longo do mês e atento ao ingresso de recursos estrangeiros, mas perto do início da tarde a moeda passou a apresentar volatilidade entre os campos positivo e negativo.
Por volta das 13h30, o dólar comercial operava estável, sendo negociado a R$ 4,1760 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana apresentava recuo de 0,16%, cotado a R$ 4,177.
“O dólar cai descolado do exterior em consequência do ingresso de fluxo estrangeiro antecipando os IPOs [ofertas públicas iniciais de ações] anunciados. Com isso, tem bastante vendedor no mercado”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Ele acrescenta que, após a moeda operar acima de R$ 4,21 nesta semana, o movimento é de correção com a “alta exagerada”. Na semana, o dólar já acumula alta ao redor de 1,75%, enquanto no mês, a valorização chega a 3,8%.
Aqui, investidores seguem calibrando as apostas em torno da taxa básica de juros (Selic) após a divulgação da prévia da inflação de janeiro, com o IPCA-15 subindo 0,71% – na maior alta para o mês desde 2016 – ante o resultado positivo de 1,05% em dezembro.
A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, ressalta que a desaceleração do indicador foi motivada pelo grupo alimentação que, de qualquer forma, segue pressionando a inflação.
“O que deve influenciar um corte de juros é uma questão de estratégia do Banco Central e não apenas os dados divulgados neste mês. Acredito que seja um passo já desenhado antes dos dados divulgados neste mês. Até porque esse dado de inflação no mês está contaminado pela pressão dos preços dos alimentos no fim do ano passado”, reforça a economista.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) seguem em alta, na contramão do sinal negativo exibido pelo dólar. Os investidores recompõem prêmios enquanto digerem os números do IPCA-15 e calibram as expectativas sobre o rumo da Selic, ao mesmo tempo em que monitoram o leilão de títulos públicos ofertados pelo Tesouro Nacional.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 4,405%, de 4,340% ao final do ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2022 projetava taxa de 5,04%, de 4,95% após o ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 5,62%, de 5,54%; e o DI para janeiro de 2025 estava em 6,34%, de 6,30%, na mesma comparação.