Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Olívia Bulla
São Paulo – Depois de tentar uma recuperação puxado pelas ações de bancos e da Ambev, o Ibovespa perdeu força voltando a seguir as bolsas norte-americanas, que aprofundaram perdas após o indicador ISM de atividade industrial dos Estados Unidos vir mais fraco do que o esperado pelo mercado e reacender temores de uma desaceleração econômica.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 0,68% aos 99.935,79 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 9,6 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2019 apresentava recuo de 0,84% aos 100.520 pontos.
“O ISM pesou, trouxe um choque de realidade, de que o mundo pode desacelerar rápido. Estados Unidos e China precisam dar algum sinal…”, afirmou o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.
A atividade industrial dos Estados Unidos medida pelo índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) caiu para 49,1 pontos em agosto, de 51,2 pontos (revisado) em julho. Analistas previam queda para 51,0 pontos. Números acima de 50 indicam expansão da atividade, enquanto números menores sugerem contração. Com isso, os índices norte-americanos, que já caíam mostrando uma correção depois do feriado de ontem, ampliaram perdas.
O medo de uma desaceleração dos Estados Unidos também aumenta expectativas sobre avanços nas negociações comerciais com a China. Hoje, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que as negociações comerciais com a China estão indo bem, mas que se ele for reeleito um acordo entre os dois países será muito mais difícil, enquanto uma nova administração prejudicaria os norte-americanos. Apesar das declarações, investidores ainda aguardam que os dois países possam voltar a se reunir ainda este mês.
Antes da divulgação do indicador, porém, o Ibovespa tentava uma recuperação, com alguns papéis mostrando altas mais fortes. Para o gerente da mesa de operações da H.Commcor, Ari Santos, o início do mês, com investidores trocando de carteiras, podem ter motivado compras. “O pessoal julga o que está mais barato na primeira semana e troca de carteira, acaba comprando”, afirmou.
Entre as ações, as de bancos, que tinham ajudado a puxar o índice, voltaram a cair, caso dos papéis do Itaú Unibanco. Já as ações da Ambev reduziram ganhos. As ações da Vale e de siderúrgicas, como da CSN, também têm um dia negativo em meio a temores em relação à guerra comercial.
As maiores quedas do Ibovespa, por sua vez, são das ações da MRV, Qualicorp e da Sabesp. Na contramão, as maiores altas são da Ultrapar, das Lojas Americanas e da CCR. Recentemente a Ultrapar e a Lojas Americanas anunciaram que estudam parceria no segmento de lojas de conveniência.
O dólar comercial acelera as perdas frente ao real, renovando mínimas, em meio a correção após a forte alta ontem – acima de R$ 4,18 – mesmo com a ausência do mercado norte-americano em função de um feriado. Lá fora, as atenções seguem voltadas à guerra comercial entre Estados Unidos e China, com investidores atentos à confirmação de uma possível reunião ainda neste mês.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava queda de 0,35%, sendo negociado a R$ 4,1690 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em outubro de 2019 apresentava recuo de 0,42%, cotado a R$ 4,175.
“Tem um fator relacionado a correção, mas também tem o BCE [Banco Central Europeu] que prepara um pacote de estímulos para a zona do euro, e inclui um corte no juro e a promessa de manter as taxas baixas por mais tempo”, comenta o operador de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello.
Porém, lá fora, o ambiente segue de aversão ao risco com a “falta de trégua” na guerra comercial. Para Faganello, mesmo diante de algumas declarações “dando a sensação” de que setembro marcará um novo encontro entre representantes dos países, norte-americanos e chineses resistem em confirmar a data, o que a aumenta a “desconfiança” do mercado, diz.
Com a nova rodada de tarifas implementadas no domingo, a expectativa é de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) afrouxe a política monetária no dia 18, diz o operador. “Se a autoridade monetária não confirmar que esse movimento será o início de um novo ciclo, o que é bem possível, a apreensão dos agentes pode subir”, ressalta.
Na sexta-feira, tem discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, colocando o mercado “bastante” atento. “Diante de um quadro em que as tarifas em vigor podem contribuir para a desaceleração econômica global, a atitude do Fed é vital para as projeções de apostas”, avalia.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) intensificaram o ritmo de queda, acompanhando as perdas mais aceleradas do dólar, mas o cenário externo mais avesso ao risco inibe a recuperação dos negócios locais. Ainda assim, os dados fracos da produção industrial sustentam as chances de novos cortes na Selic.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2020 tinha taxa de 5,40%, de 5,425% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2021 estava em 5,49%, de 5,58%; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,57%, de 6,66% após o ajuste anterior; e o DI para janeiro de 2025 estava em 7,08%, de 7,18%, na mesma comparação.