Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Olívia Bulla
São Paulo – Após dois pregões seguidos de queda, o Ibovespa mostra recuperação e sobe mais de 1% acompanhando o otimismo externo depois da retirada formal do projeto de lei de extradição em Hong Kong, atendendo à demanda dos manifestantes, além de dados mais fortes vindos da China. Investidores também acompanham as falas de membros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), vendo sinalizações de mais um corte de juros este mês, enquanto na cena doméstica, observam o andamento da reforma da Previdência, que não deve trazer surpresas.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava alta de 1,10% aos 100.777,74 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 6,9 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2019 apresentava avanço de 0,95% aos 101.360 pontos.
“O cenário externo está tendo grande influência e a questão de Hong Kong tende a arrefecer protestos, vimos altas fortes nas bolsas asiáticas hoje. Algumas declarações de membros do Fed também sinalizaram cortes de juros, o mercado está aumentando probabilidade de um corte de 0,50 pontos percentual este mês “, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.
As bolsas asiáticas subiram, com destaque para a Bolsa de Hong Kong, que avançou 3,90% depois que a chefe do Executivo, Carrie Lam, retirou formalmente o controverso projeto de lei de extradição, atendendo pela primeira vez a uma demanda dos manifestantes, que ocupavam as ruas da cidade desde o início de junho. Também chamaram a atenção os dados do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços da China, que subiu para 52,1 pontos em agosto, de 51,6 pontos em julho.
Entre as falas de membros do Fed, o presidente da unidade do Fed de Nova York, John Williams, por exemplo, afirmou que a autoridade monetária vai agir de forma apropriada para manter expansão da economia dos Estados Unidos.
Na cena doméstica, as notícias também são positivas já que o andamento da Previdência no Senado pode ser rápido e não tem trazido surpresas negativas. Hoje, deve ocorrer a votação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da versão revisada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma que veio da Câmara e, logo em seguida, a PEC paralela, que reunirá pontos não incluídos na PEC original – como a inclusão de estados e municípios.
Entre as ações, as da Petrobras estão entre as maiores altas do Ibovespa refletindo a alta de mais de 2% dos preços do petróleo. Ontem, também foi aprovada, no plenário do Senado, a PEC da cessão onerosa (PEC 98/2019). O texto agora volta para a Câmara dos Deputados.
Além dos papéis da Petrobras, estão entre as maiores altas as ações da Braskem e os da Ultrapar. As ações da Ultrapar também estavam entre as maiores altas ontem e têm atraído investidores em meio a dados positivos sobre demanda de combustíveis e ganhos de mercado da companhia, conforme apontaram analistas do Credit Suisse ontem.
Na contramão, as maiores baixas são da MRV, depois de rumores de que a empresa irá comprar o controle da AHS Residential, sediada nos Estados Unidos. Segundo a agência de notícias “Bloomberg”, o empresário Rubesn Menin, o maior acionista da MRV, com cerca de 32% das ações, é também fundador e presidente do conselho da AHS. Também recuam as ações da NotreDame Intermédica e do banco BTG Pactual.
O dólar comercial acelerou as perdas frente ao real e cai 1,5%, no patamar de R$ 4,11, reagindo ao bom humor externo que contamina os mercados de países emergentes em meio ao alívio vindo da China com indicadores mais positivos, indicando recuperação da economia, mesmo em meio à guerra comercial com os Estados Unidos. Os avanços da reforma da Previdência no Senado corroboram para o cenário benigno.
Por volata das 13h30, o dólar comercial registrava queda de 1,72%, sendo negociado a R$ 4,1090 para venda, No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em outubro de 2019 apresentava recuo de 1,42%, cotado a R$ 4,114.
O economista-chefe da Necton, André Perfeito, destaca que o real tem um dos melhores desempenhos entre as moedas globais com um ambiente mais benigno lá fora, o que leva o dólar a perder contra todas as principais moedas no dia de hoje.
Além dos dados positivos na China indicando recuperação da economia do país no mês passado, Perfeito destaca a derrota do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em que o parlamento evitará uma “saída a qualquer custo” do Reino Unido da União Europeia, o Brexit. “Analistas acreditam numa melhora dos humores, afinal, uma saída não negociada será péssima para o ambiente de negócios”, diz o economista.
Aqui, a reforma da Previdência volta ao radar dos investidores com a votação do texto paralelo hoje na CCJ do Senado. “O que interessa no Brasil é a aprovação da reforma e os investidores, principalmente, os estrangeiros, acompanham a velocidade com que ela é, de fato, aprovada”, comenta o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) intensificaram o ritmo de queda, amparadas pelo recuo mais acelerado do dólar e pela melhora do sentimento em relação ao risco no exterior. O noticiário político envolvendo Hong Kong e o Reino Unido ajudam a dar sustentação à melhora do humor global, com a cena em Brasília também ajudando.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2020 tinha taxa de 5,37%, de 5,40% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2021 projetava taxa de 5,42%, de 5,50%; o DI para janeiro de 2023 estava em 6,46%, de 6,56%, após o ajuste anterior; e o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 6,99%, de 7,09%, na mesma comparação.