São Paulo – O Ibovespa voltou a registrar alta na sessão. Após abrir com avanço, a pressão externa e o cenário político fizeram pressão negativa no índice que havia passado a cair. Lá fora, as Bolsas norte-americanas ainda operam em queda, com Nasdaq caindo 0,95%, Dow Jones cedendo 0,23% e S&P 500 recuando 0,33%.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em alta de 0,12%, aos 114.925,84 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 12,5 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em abril de 2021 apresentava avanço de 0,15%, aos 115.000 pontos.
De acordo com Vicente Chess Matheus Zufo, da Chess Capital, a demissão do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pode contribuir para a melhora do Ibovespa. “A queda da manhã estava acompanhando as bolsas norte-americanas. Com a demissão de Araújo pode ser que o mercado anime um pouco, conclui. No entanto mesmo com a saída do chanceler o índice continuou em queda.
Nesse fim de semana o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, iniciou um contra-ataque ao Senado porque se sente pressionado pelo Congresso, empresários, e outros setores da sociedade a deixar o cargo.
Uma insinuação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, dirigida à senadora Kátia Abreu (PP-TO), causou indignação no Senado e aumentou a pressão política para que ele saia do cargo.
Ontem, Araújo escreveu em sua conta no Twitter que “em 4 de março recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.’ Não fiz gesto algum.”
A declaração, uma insinuação de que os ataques que vêm sofrendo são resultado de sua resistência a atender interesses velados do Senado, revoltou os congressistas – inclusive o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
“A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao País”, disse ele, em sua conta no Twitter.
A declaração de Pacheco foi uma crítica direta ao Planalto, apenas alguns dias depois de uma reunião que supostamente forjaria a união entre os Poderes para o combate da pandemia de covid-19. A aliança já havia sido colocada em dúvida por declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na semana passada, de que estava enviando um “sinal amarelo” ao governo em relação à condução da crise.
De acordo com Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, a mudança de direção do Indice é atribuída às incertezas no cenário político, econômico e sanitário do País que provoca instabilidade no mercado. A mau humor das bolsas norte-americanas com o efeito do setor financeiro e prejuízos aos bancos como Credit Suisse e Nomura afetam o mercado.
O dólar comercial tem alta firme frente ao real, renovando máximas a R$ 5,80, refletindo o temor local em torno do cenário fiscal do país, em meio aos desdobramentos em relação ao Orçamento para 2021 votado na semana passada, além dos receios com a política local e o avanço da pandemia de covid-19 no país e o ritmo lento de vacinação em massa. Lá fora, o ambiente é negativo para os mercados emergentes em meio ao fortalecimento da moeda norte-americana com expectativa de recuperação econômica dos Estados Unidos.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 0,10%, cotado a R$ 5,7460 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em março de 2021 apresentava recuo de 0,20%, cotado a R$ 5,747.
Ao operar nas máximas desde o início do mês, acima de R$ 5,80, o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, reforça que parte deste movimento pode ser creditado a uma maior aversão ao risco no exterior, uma vez que maioria das moedas emergentes perde contra a divisa norte-americana.
“Pode conspirar para este fato o preço do petróleo em queda hoje, possivelmente por conta do fim da crise no canal de Suez, o que faria diminuir os custos de transporte e, logo, no preço final das mercadorias. Mas não apenas isso”, comenta.
Ele avalia que uma declaração recente do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, em uma entrevista ao “Financial Times” chama a atenção ao alertar para o fato que as dívidas de países em desenvolvimento podem sair de controle após os esforços de combate à pandemia, já que seis países “deram calotes” nas dívidas externas, entre eles, a Argentina, que na semana passada declarou não ter dinheiro para pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
“O risco na mesa é que países que não têm dívida relevante em dólar, como o Brasil e a África do Sul, estão se financiando internamente com taxas muito mais altas do que as praticadas nos países centrais. O secretário-geral da ONU cita especificamente o Brasil numa questão que estamos alertando há tempo: o prazo médio da dívida vem caindo, e isso pode se tornar um problema em potencial”, destaca.
Perfeito acrescenta que há um “risco real” do Brasil perder o controle da dinâmica da dívida caso não se estabilize mais rapidamente as impressões sobre o governo federal, que “tem sofrido crises reiteradas”, em meio ao cenário de inflação que se mostra cada vez mais “selvagem”.
Além do exterior, onde a divisa estrangeira se fortalece ante as de países emergentes diante a expectativa de recuperação econômica mais rápida do que a esperada nos Estados Unidos, que tem avançado com a vacinação em massa, a pandemia segue preocupando investidores.
“A situação segue delicada e investidores buscam avaliar até quando as medidas de isolamento agressivas impostas em diversos estados serão estendidas. Ao mesmo tempo, o cenário de fragilidade fiscal vai se agravando na medida em que um orçamento inexequível chega à mesa do presidente Jair Bolsonaro para ser sancionado, ameaçando dar um fim ao teto de gastos”, pondera o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) operam em alta, ainda refletindo a preocupação do mercado com o orçamento de 2021 aprovado pelo Congresso na semana passada. Como as despesas obrigatórias foram calculadas com um salário mínimo abaixo do verdadeiro, a previsão é de que o Planalto terá de fazer um contingenciamento que pode paralisar o setor público.
Por volta das 13h30 (de Brasília), o DI para janeiro de 2022 subia para 4,735%, de 4,725% na sexta-feira. O DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,635%, de 6,53%, e o DI para janeiro de 2025 ia a 8,23%, de 8,11%, e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,79%, de 8,69%.