São Paulo, 15 de abril de 2021 – A aceleração da vacinação contra a covid-19 no Brasil – com o ritmo diário de doses aplicadas chegando perto da meta de 1 milhão – e a divulgação de indicadores positivos sobre a economia dos Estados Unidos ajudaram a diminuir a aversão ao risco, impulsionando o Ibovespa e empurrando para baixo tanto o dólar quanto as taxas de juros.
O ritmo de vacinação no Brasil com a primeira dose das vacinas disponíveis contra a covid-19 encolheu 74,2% ontem em relação ao dia anterior, para 661.328, enquanto com a segunda dose houve queda de 54,9%, para 390.540, segundo dados compilados pelo Ministério da Saúde.
A média diária de vacinação em abril, porém, aumentou para 911.289, quase o dobro do observado no início do mês, alcançando o nível mais alto observado desde o início da campanha de imunização.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, ressaltou a aceleração no ritmo médio de vacinação num evento mais cedo e disse que, nas estimativas da instituição, o Brasil estará em situação de reabertura da economia no segundo semestre.
As estimativas foram feitas com base no cronograma de vacinação contra a covid-19 do Ministério da Saúde e com dados sobre a eficácia das vacinas na contenção das mortes pela doença em outros países. No entanto, considera números mais otimistas que os atuais.
A curva de vacinação baseada no cronograma do Ministério da Saúde aponta que agora deveria haver 40 milhões de pessoas vacinadas com a primeira dose, e na realidade há 24,3 milhões de pessoas neste grupo. A discrepância deve-se a atrasos na entrega de vacinas em função da escassez de insumos.
No exterior, os novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos caíram na última semana para o nível mais baixo em pouco mais de um ano, enquanto a produção industrial do país voltou a crescer em março depois de encolher em fevereiro, embora o crescimento tenha ficado aquém das expectativas. As vendas no varejo do país, por sua vez, cresceram quase 10% em março ante fevereiro, bem mais que os 6,1% esperados pelo mercado.
Na avaliação de Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante, “é um dia positivo no Brasil e no mundo, esse dados estão fazendo preço no mercado”. Ele ressaltou, no entanto, que o volume de negócios é baixo e por isso o Ibovespa encontra dificuldades para subir com mais força. “Vai de lado e o número de investidores estrangeiros é reduzido”, afirmou.
O chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, também aponta os dados norte-americanos como elementos que amparam a alta da bolsa e a queda do dólar ante o real. “O cenário externo está bem positivo hoje. Aqui, o dólar acompanha, mas o cenário político inibe uma queda maior, tanto que a taxa vai, volta, mas poderia estar ainda mais baixo. As incertezas aqui são muito grandes.”
O fator político mencionado por Nagem é o impasse a respeito do orçamento de 2021, que ainda não foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro por causa de falhas estruturais graves em sua montagem – as despesas obrigatórias foram subestimadas para abrir espaço aos gastos discricionários, o que deixa ao Planalto essencialmente as opções de cortar emendas parlamentares e desagradar o Congresso ou colocar despesas fora do teto de gastos e desagradar o mercado.
No início da tarde, o Ibovespa subia 0,34%, para 120.713 pontos, enquanto o dólar comercial caía 1,02% no mercado à vista, para R$ 5,6110. Entre os juros, a taxa do contrato futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caía a 4,70%, de 4,73%, enquanto a taxa de janeiro de 2023 recuava a 6,470%, de 6,555%. O DI para janeiro de 2025 ia a 8,17%, de 8,28% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,82%, de 8,94%.
No caso dos juros, também pesa sobre as taxas a desaceleração da alta doo IGP-10 – para 1,58% em abril, de 2,99% em março. O leilão de dívida ocorrido mais cedo teve pouco efeito no mercado.
“Foi um leilão bem grande, mas as taxas não sentiram tanto”, observou um operador do mercado de renda fixa. Na avaliação dele, o leilão não afetou a curva a termo principalmente por causa do recuo das taxas de títulos soberanos no exterior.
Edição: Gustavo Nicoletta (g.nicoletta@cma.com.br)