São Paulo – O Ibovespa desacelerou a queda com a alta Vale e melhora na queda do setor financeiro, após uma expressiva baixa nas ações com a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes. O mercado também reagiu à divulgação do reajuste no valor da bandeira tarifária vermelha patamar 2, preocupado com a crise hídrica no País.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em queda de 0,41%, aos 126.902,08 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 12,0 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em agosto de 2021 apresentava recuo de 0,32%, aos 127.590 pontos.
Para o analista José Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, a melhora no Ibovespa é atribuída à “aceleração na compra de Vale diminuição da queda dos bancos”, afirma. Mas observa que a liquidez é baixa.
Mas cedo, uma fonte do mercado financeiro afirmou que o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a proposta da reforma tributária em taxar os lucros e dividendos em 20% causou estresse na Bolsa, chegando cair mais de 0,90%. “O ministro disse que é pouco tributar 20% e o mercado reagiu”.
Na véspera o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) disse em taxação de 15%. “Está sendo ventilado uma redução de 10%, mas acredito em 15%”, afirma o sócio da Renova Invest, Rodrigo Friedrich.
Os bancos caem pelo terceiro dia consecutivo pressionados pelos impactos da reforma tributária. Mais cedo, recuavam mais de 1,00% e passaram a desacelerar a queda. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) 0,94% e 0,38%, respectivamente. Itaú (ITUB4) baixam 0,88% e Santander (SANB11) desvalorizam 0,28%.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu aumentar a taxa da bandeira tarifária vermelha nível 2 em 52%, R$ 6,24 por cada 100 quilowatts/hora (kWh) para R$ 9,49 (kWh) consumidos. O valor é cobrado adicionalmente nas contas de luz devido à falta de chuvas e acionamento das termelétricas. “A energia elétrica está ajudando o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] a subir”. O aumento começa a valer em julho.
O sócio da Renova Invest acredita que a Bolsa “terá ligeira alta, como na véspera, à espera de notícias que possam impactar o mercado”.
Friedrich comenta que a situação política no Brasil é de cautela. “Começa a ficar complicado pela nova proposta da reforma tributária e a crise hídrica, além das complicações para o governo federal na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da covid”.
A respeito da CPI da covid, existe a possibilidade do ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello se manifestar publicamente para blindar o presidente Jair Bolsonaro. A CPI ouve hoje o deputado estadual do Amazonas, Fausto Vieira dos Santos Junior.
O dólar comercial tem alta firme frente ao real desde a abertura dos negócios acompanhando o exterior, onde a moeda ganha terreno ante os pares e as divisas de países emergentes com investidores atentos ao avanço da disseminação da variante delta do novo coronavírus e aos impactos à recuperação econômica global. Aqui, as incertezas locais prevalecem em torno das mudanças de tributação de investimentos, como propõe a reforma tributária, além dos desdobramentos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 e a crise energética.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 0,22%, cotado a R$ 4,9390 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em julho de 2021 apresentava avanço de 0,30%, cotado a R$ 4,940.
O diretor de câmbio de uma corretora nacional reforça que, lá fora, o dólar ganha força em meio às incertezas quanto aos impactos da recuperação das principais economias diante da disseminação da variante delta no novo coronavírus, mesmo com o avanço da vacinação na Europa e nos Estados Unidos.
“Nós estamos acompanhando o exterior, mas tem no radar captações externas e o lançamento de vários IPOs [ofertas públicas iniciais de ações]”, comenta, reforçando que o volume de entrada de recursos estrangeiros no país tem segurado a moeda abaixo dos R$ 5,00.
Mesmo com o pessimismo doméstico com a proposta da reforma tributária entregue na semana passada, pondera o trader da mesa de câmbio da Travelex Bank, Thiago Penteado. “Investidores estão pessimistas com a proposta de uma nova taxação sobre os Fundos de Investimento Imobiliário [FIIs]e sobre os dividendos”, acrescenta.
Ainda no radar do mercado doméstico, está a crise hídrica e, consequentemente, energética. Há pouco, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a elevação da bandeira vermelha nível 2 de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 quilowatt-hora (kwh) consumidos, aumento de 52%, que será válido para os consumidores a partir de julho. Há expectativa de que a bandeira continue nesse patamar até o fim do ano.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, avalia que o reajuste “pesa muito” no bolso do consumidor e deverá refletir no índice da inflação oficial. “O IPCA deve subir novamente. No mínimo, podemos ter um cenário extremamente ruim para a inflação”, ressalta. O cenário inflacionário aqui e no mundo tem sido mencionado e acompanhado de perto por bancos centrais e investidores.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) operam em queda com os investidores reagindo positivamente ao resultado do Indice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) de junho, que desacelerou em relação a maio e veio abaixo das expectativas dos participantes do mercado. Pelo momento, nem mesmo o anúncio do reajuste de 52% na bandeira vermelha da tarifa de energia elétrica foi capaz de reverter o fluxo no mercado futuro de taxas de juro.
Por volta das 13h30, o DI para janeiro de 2022 apresentava taxa de 5,59%, de 5,64% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,96%, de 7,025%; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,95%, de 8,02% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,40%, de 8,48%, na mesma comparação.