São Paulo – A Bolsa opera no negativo desde a abertura e amplia queda para mais de 2% acompanhando os índices em Nova York em um dia de aversão a risco global. Os temerosos em relação à disparada da inflação e crise energética deixam os investidores temerosos. Somado a isso, os riscos fiscais por aqui permanecem no radar dos agentes financeiros.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em queda de 2,42%, aos 110.164,50 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 17,0 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2021 apresentava recuo de 2,55%, aos 110.230 pontos.
Boa parte das ações negociadas no Ibovespa está em queda, com destaque para o setor de consumo, Bradesco e siderúrgicas. No campo corporativo, hoje os BDRs ( Brazilian Depositary Receipts) da XP -certificados que vão representar os papéis da corretora listados nos Estados Unidos- começaram a ser negociados hoje na B3.
Alguns analistas do mercado financeiro ficaram surpresos com a queda forte no início do pregão e não conseguiram identificar o real motivo da perda. Luiz Henrique Wickert, analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul, comentou que não notou nenhuma notícia específica para a perda e aposta em uma realização de lucros. “Não acredito que as informações sobre as empresas offshore do Guedes e do Campos em paraíso fiscal estejam fazendo preço”.
O analista sênior da plataforma de investimentos sim;paul acredita em uma realização diante da alta na sexta[fechou em alta de 1,73%]. “As ações do setor financeiro e empresas consumo estão liderando as quedas em um movimento de realização e, por outro lado, os papéis ligados a dólar e mercado externo se destacam”.
Por aqui, os investidores acompanham os desdobramentos em relação à notícia divulgada na véspera de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mantêm empresas em paraísos fiscais, conhecidas como offshore, mesmo fazendo parte do governo Jair Bolsonaro. A oposição disse que pretende pedir ao Ministério Público Federal (MPF) que investigue ambos. Segue no radar do investidor os precatórios e a reforma do Imposto de Renda.
Nos Estados Unidos, os investidores ficam com as atenções voltadas ao impasse do teto da dívida do país e retirada de estímulos da economia.
Para os analistas da Ajax Capital, com uma agenda econômica fraca por aqui, “os mercados devem acompanhar o exterior com as atenções voltadas à Opep+ e, por aqui, à possível prorrogação do auxílio emergencial”, afirmaram. Em relação à Opep+, os analistas comentaram que “existe uma especulação de que a Opep+ pudesse acelerar o aumento da produção em meio à demanda recente mais robusta”. O petróleo Brent opera com estabilidade.
Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, comentou que vários indicadores relevantes serão conhecidos esta semana, como o Indice de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) de setembro, na sexta-feira, dados da indústria e vendas no varejo referentes a agosto. “São dados importantes para ver como se encontra a economia brasileira, principalmente o IPCA porque a inflação está sendo o principal fator que o BC acompanha para decisões da Selic”.
Impactado pelos ventos do exterior, o dólar opera em forte alta. A desaceleração chinesa e a falta de uma solução para a gigante Evergrande, além da inflação em economias desenvolvidas, geram um movimento de aversão ao risco.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 1,34%, sendo negociado a R$ 5,4400 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em setembro de 2021 apresentava avanço de 1,43%, cotado a R$ 5,461.
Segundo o analista de investimentos da Toro, Victor Lima, “existe grande receio vindo do exterior, com a ‘estagflação’ em diversos países. Ainda não vemos uma sinalização de aumentos de juros no Estados Unidos”.
Concomitante a isso, a falta de solução para o caso Evergrande ainda “pesa muito no mercado”. A desaceleração da economia chinesa também é preocupante, pontua Lima.
De acordo com a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, “existe muita cautela com a China, com a suspensão da aquisição da Evergrande. Isso gera grande aversão ao risco e valoriza o dólar ante as moedas emergentes”. A economista ainda sublinha que alguns analistas projetam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês abaixo dos 8%.
Consorte, por outro lado, não vê as notícias sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, possuírem valores em paraísos fiscais como algo que interfira no câmbio: “É muito mais falatório”, pontua.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) iniciaram a sessão em alta, acompanhando uma cautela no Brasil diante da revelação da notícia da existência de contas offshores do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e as consequências disso sobre o andamento das reformas econômicas.
Por volta das 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,220%, de 7,192% no ajuste da semana passada; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,225%, de 9,125%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,260%, de 10,160% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,630%, de 10,550%, na mesma comparação.