São Paulo – Após já abrir em queda com a maior cautela vista no cenário externo, o Ibovespa acelerou perdas puxado principalmente pelas ações da Petrobras e mostrando volatilidade em meio a dúvidas sobre a retomada econômica e sobre o andamento da reforma tributária.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 1,34%, aos 100.417,54 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 10,6 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em agosto de 2020 apresentava recuo de 1,44%, aos 100.525 pontos.
Para o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, ainda há incertezas não apenas sobre o ritmo da recuperação econômica global, mas sobre a economia doméstica. “Vários indicadores foram divulgados na China e nos Estados Unidos, mas no Brasil não temos muitos dados ainda e há incerteza sobre a agenda do Congresso”, disse.
No exterior, os dados norte-americanos divulgados hoje, como vendas no varejo, vieram, em geral, melhores do que o esperado, apesar dos pedidos de seguro-desemprego terem caído um pouco menos que o previsto. Na China, por sua vez, o PIB cresceu mais do que o estimado por analistas no segundo trimestre e a produção industrial também cresceu, mas as vendas no varejo recuaram em junho, mostrando que ainda falta confiança ao consumidor e que a retomada não será fácil.
Ainda no cenário externo, ainda há preocupações com o contínuo avanço de casos coronavírus, principalmente em estados norte-americanos como a Flórida.
Já no Brasil, há ruídos sobre a reforma tributária, apesar de avanços nas discussões. Há pouco, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que quer debater a reforma em comissão mista e que ainda aguarda a proposta do governo. Há duas propostas de reforma em andamento, na Câmara e no Senado e a expectativa era que as duas fossem debatidas em conjunto, mas as conversas foram interrompidas com mudanças no funcionamento do Congresso em função da pandemia.
A proposta do Planalto, por sua vez, não foi formalizada, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, já indicou alguns pontos, como um novo imposto sobre transações no comércio eletrônico e estudos para desonerar a folha de pagamentos de funcionário que recebem um salário mínimo.
O dólar comercial tem queda frente ao real, abaixo de R$ 5,35, acompanhando o exterior onde a moeda apresenta ligeira queda frente às moedas pares e de países emergentes refletindo os indicadores de atividade mistos na China e nos Estados Unidos. Porém, investidores seguem atentos ao noticiário a respeito da relação comercial entre os dois países, enquanto acompanham o crescimento da curva norte-americana de casos confirmados de covid-19.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava queda de 1,09%, sendo negociado a R$ 5,3250 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em agosto de 2020 apresentava recuo de 0,87%, cotado a R$ 5,327.
Desde a abertura dos negócios, os ativos globais digerem os resultados dos dados de atividade na China em junho, no qual mostrou queda nas vendas no varejo, de 1,8% ante junho de 2019, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 3,2% no segundo trimestre na comparação anual.
“A economia chinesa avança, mas os sinais claros de que a crise segue abalando a confiança do consumidor local e externo trazem questionamentos sobre a sustentabilidade do ritmo da retomada [econômica”, diz o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti. Além dos dados de atividade na China e nos Estados Unidos, mais cedo, saiu a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) no qual a taxa básica de juro foi mantida em zero.
O consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello, destaca que o BCE, além de manter as taxas, esclareceu que o “amplo” estímulo monetário é necessário e será aplicado conforme apropriado, diante de um cenário em que o crescimento econômico tende a se recuperar neste trimestre. “Porém, em velocidade e escala incertas, provavelmente, desiguais. Mas dados de atividade indicam uma retomada”, diz.
Nos Estados Unidos, as vendas no varejo aumentaram mais do que o esperado em junho (+7,5%) ante maio, mas o “ressurgimento” de novos casos do novo coronavírus em importantes regiões do país, que “forçam” o fechamento de negócios ou interrompem a reabertura de setores produtivos, ainda preocupa, diz Faganello.
O consultor da Advanced ressalta que, com os mercados em busca de fatos que correspondam a uma recuperação econômica em “formato de V” – mais rápida – mas com dados que vez sim e vez não passam essa impressão, não é “de se estranhar” a volatilidade com algumas incertezas que ainda pairam no ar. “A única certeza que temos tido no câmbio é a forte amplitude e volatilidade, o que aconteceu na sessão”, acrescenta o diretor de uma corretora nacional.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) operam perto da estabilidade, com ligeiro viés de queda, influenciadas pela melhora nos dados da China, principalmente o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano. Segundo analistas de mercado, os dados ajudam economias emergentes.
Às 13h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 2,055%, de 2,06% após o ajuste do último pregão; o DI para janeiro de 2022 estava em 3,02%, de 3,05% do ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,13%, de 4,16%; o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 5,60%, de 5,61% na mesma comparação.