MERCADO AGORA: Veja um sumário dos negócios até o momento

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São Paulo – Após acelerar ganhos refletindo as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e sinais de que a autoridade monetária pode manter os juros mais baixos por mais tempo, o Ibovespa voltou a cair puxado por perdas de ações como as da Vale e siderúrgicas. A cena política local, com dúvidas sobre o programa Renda Brasil e sobre a relação entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro, também seguem trazendo alguma cautela e volatilidade.

Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 0,17%, aos 100.453,02 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 11,1 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2020 apresentava recuo de 0,04%, aos 100.595 pontos.

Segundo Powell, não haverá uma fórmula para a inflação média de 2%, mas a autoridade monetária não hesitará em conter a inflação se houver aceleração, assim como quer impedir um ciclo de declínio das expectativas de inflação.

Para o estrategista do banco digital Modalmais, Felipe Sichel, Powell apresentou elementos “dovish” (pró-afrouxamento monetário) no seu discurso, destacando a adoção de uma meta de média de inflação que “não seguirá uma rígida fórmula matemática”. Outro elemento que destacou foi a sinalização de que “o Fed deixará o mercado de trabalho aquecer significativamente, reconhecendo que no ciclo anterior houve fortalecimento sem que houvesse sinais de aceleração de inflação”.

Já os analistas da Commcor Corretora afirmam que a mudança na estratégia reforça apostas de que “a autoridade tardará em seu próximo ciclo de aperto monetário”. “Ou seja, é de se esperar que o Fed não reaja prontamente aos primeiros sinais de repique nos preços”, reiteraram.

Apesar de sinais positivos vistos, investidores ainda digerem os possíveis impactos das mudanças, com a Bolsas norte-americanas em alta, mas também mostrando volatilidade.

Na cena local, também há motivos para incertezas, após ruídos e especulações sobre a saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, depois que o presidente Jair Bolsonaro barrou e criticou a proposta do ministro sobre o programa Renda Brasil ontem. No entanto, a demissão do “Posto Ipiranga” foi desmentida mais uma vez e a expectativa é que ele apresente nova proposta até sexta-feira.

“Com boatos de que Guedes sairia do governo já desmentidos, investidores respiram um pouco mais aliviados hoje, mas sem dúvida incomodados com esses intermináveis ruídos políticos. Afinal, a crise fiscal está aí e o governo resolveu voltar ao começo das discussões sobre programas sociais (Renda Brasil) e medidas compensatórias de combate de gastos”, afirmam os analistas da Commcor Corretora.

O dólar comercial exibe forte oscilações após acelerar queda frente ao real, renovando mínimas sucessivas a R$ 5,55, em reação ao anúncio do presidente do Fed sobre a mudança na política monetária com foco em inflação média de 2%, o que deverá manter a taxa de juros baixa por mais tempo.

Às 13h30, o dólar comercial registrava queda de 0,40%, sendo negociado a R$ 5,5940 na venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em setembro de 2020 apresentava recuo de 0,33%, cotado a R$ 5,593.

“Nossa abordagem pode ser vista como uma forma flexível de meta de inflação média da meta de 2%”, disse Powell durante simpósio virtual de Jackson Hole. Ele acrescentou que, ao buscar atingir essa média de inflação ao longo do tempo, o Fed não está “se amarrando a uma fórmula matemática particular que define a média”.

No discurso, o presidente afirma a importância de promover um mercado de trabalho forte e disse que a mudança do banco central dos Estados Unidos é, em grande parte, destinada a lidar com um ambiente de taxas de juros persistentemente baixas e inflação fraca, que limitam a capacidade de curto prazo do banco central norte-americano de cumprir seu mandato duplo.

O estrategista-chefe da Levante, Rafael Bevilacqua, explica que a mudança na estratégia da autoridade monetária de combate à inflação vai mudar a gestão das expectativas dos investidores.

“Indicadores de preços e de atividade econômica, como os pedidos de seguro-desemprego, são olhados com lupa, na tentativa de antecipar as decisões do Fed. Com o novo modelo, isso vai mudar. E as mudanças são positivas no longo prazo, pois permitem esperar mais eficiência no combate à desaceleração econômica”, avalia.

O diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, reforça que a mudança agradou o mercado e mostra que o Fed poderá manter a taxa de juros baixas depois de 2022. “Até o fim do ano que vem estava dado. A mudança traz essa expectativa de juro baixo por mais tempo”, comenta.

Após abrirem em alta, as taxas dos contratos de juros futuros chegaram a ser negociadas em queda, reagindo ao discurso do presidente do Fed que levou o trecho mais longo às mínimas da sessão. Contudo, o movimento teve fôlego curto, com o risco fiscal no Brasil prevalecendo e resgatando a trajetória de abertura da curva a termo, apesar de o dólar seguir em queda, cotado abaixo de R$ 5,60. O tradicional leilão de títulos públicos também pressiona os negócios com DIs.

Às 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,88%, de 2,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,12%, de 4,07% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,01%, de 5,96%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,99%, de 6,97%, na mesma comparação.