São Paulo – O Ibovespa acelerou ganhos puxado por ações como as de bancos e da Eletrobras, em meio a uma queda mais expressiva do dólar frente ao real após as mudanças anunciadas ontem pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Há a leitura de o Fed pode manter juros mais baixos por mais tempo, o que enfraquece o dólar e aumenta o apetite por risco, sendo positivo para Bolsas e para países emergentes.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava alta de 1,55%, aos 102.189,27 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 11,5 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2020 apresentava avanço de 1,38%, aos 102.420 pontos.
As Bolsas norte-americanas também seguem em alta, além de continuarem expectativas sobre as medidas que estão sendo preparadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, com a questão fiscal ainda podendo trazer volatilidade.
“Essa aceleração do Ibovespa pode ter relação com a queda mais acentuada do dólar, devido ao Fed ter mantido uma visão mais ‘dovish’, o que aumenta apetite ao risco. Pode vir mais dinheiro para comprar Bolsa aqui com o dólar mais desvalorizado”, disse o diretor de operações da Mirae Asset Corretora, Pablo Spyer.
Ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, anunciou que a autoridade monetária passará a trabalhar com uma meta de inflação média de 2%, sugerindo que pode ser mais tolerante com a inflação e manter os juros mais baixos por mais tempo.
Entre as ações, as de bancos avançam e dão sustentação ao Ibovespa, já que segundo, Spyer, são mais sensíveis ao risco. Já as ações da Eletrobras estão entre as maiores altas do índice em meio a notícias de que o governo busca novas alternativas para dar andamento à privatização da estatal.
Ao lado da Eletrobras, estão os papéis da Cyrela após elevação de recomendação para compra pelo J.P.Morgan e meio ao oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da sua controlada, a Cury Construtora.
Na contramão, as maiores quedas são das ações de papel e celulose, Klabin e da Suzano, que sentem a queda do dólar por serem exportadoras. Os papéis da Braskem também caem após notícias de que companhia e os seus executivos foram alvo de ação coletiva nos Estados Unidos, acusados de não terem informado aos acionistas a extensão dos problemas que ocorriam em Maceió (AL).
Na cena política doméstica, continua o receio em relação à situação fiscal, com dúvidas sobre os impactos da proposta que será apresentada por Guedes ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo analistas, há rumores de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, irá sugerir estender o auxílio emergencial no valor de R$ 300,00, mas que o Renda Brasil seja lançado em outro momento.
“Caso o valor de R$ 300,00 seja anunciado é uma vitória da ala política e mostra que Guedes está cedendo cada vez mais. Bolsonaro reafirma a importância do teto mas age contra isso, ele ta querendo gastar mais dinheiro”, disse o responsável pela mesa de futuros da Genial Investimentos, Roberto Motta, em live.
O dólar comercial acelerou a queda frente ao real e recua mais 2%, no nível de R$ 5,45, acompanhando o exterior positivo para as moedas de países emergentes, enquanto a divisa norte-americana perde terreno também para as moedas pares. Aqui, o cenário fiscal segue no radar dos investidores à espera de definições da equipe econômica do governo sobre o auxílio emergencial, atento ao programa Renda Brasil.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava queda de 2,24%, sendo negociado a R$ 5,4500 na venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em setembro de 2020 apresentava recuo de 2,17%, cotado a R$ 5,449.
“A mudança na dinâmica de política monetária do Fed ainda repercute com a leitura de que a taxa de juros deverá seguir baixa nos Estados Unidos, com apostas de até, pelo menos, 2022. Diante disso, dólar perde fortemente para moedas pares e de países emergentes e ligadas às commodities de forma contundente”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.
O economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, avalia que, segundo algumas pistas que já passadas por dirigentes do Fed, de maneira antecipada, existe a possibilidade de que a autoridade monetária opte por manter estímulos até que a inflação ao consumidor atinja ou supere a meta de 2,0% estabelecida pela instituição.
“Com base nesta visão, já existem avaliações que apontam para a manutenção do juro ‘zero’ nos Estados Unidos por um período de cinco anos. Evento que dá fôlego ao mercado norte-americano e leva o dólar a perdas acentuadas”, reforça Beyruti. O profissional da Correparti acrescenta que, apesar de seguir o movimento externo, a “moeda mais volátil” entre as emergentes – o real – se valoriza, mas descolado das moedas pares. “Com mais intensidade”, diz.
No cenário doméstico, a política fiscal segue no radar do mercado com expectativa para em cima do auxílio emergencial que poderá ser definido hoje.
“Ao que tudo indica, teremos uma parcela de R$ 300 mensais [hoje a parcela é de R$ 600]. Resta saber se o presidente Bolsonaro vai conseguir estender este montante indefinidamente com o Renda Brasil. Por ora, o ministério da Economia tenta ganhar tempo com discussões voltadas apenas ao auxílio temporário”, destaca o economista do Guide.
Rugik acrescenta que a grande preocupação do mercado ainda é “de onde vai sair” o montante para arcar com o custo sem “estourar” do teto de gastos. Mas parece que investidores locais estão dando um voto de confiança para a equipe econômica do governo”, pondera.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) seguem em baixa, sendo que o ritmo de retirada de prêmios ganhou força em meio à aceleração da queda do dólar, que já recua mais de 2%, voltando à faixa de R$ 5,45. O movimento da moeda norte-americana ainda reflete o discurso ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ofuscando os riscos fiscais por aqui.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,82%, de 2,87% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,01%, de 4,11% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 5,84%, de 5,98%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,81%, de 6,96%, na mesma comparação.