São Paulo – O Ibovespa acelerou perdas refletindo preocupações com a situação fiscal do Brasil, com investidores aguardando mais detalhes sobre a proposta de orçamento do governo para 2021 e sobre a extensão do auxílio emergencial. No exterior, as Bolsas passaram a mostrar maior fraqueza após altas recentes, embora mostrem variações mais modestas.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 1,29%, aos 100.819,96 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 10,0 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2020 apresentava recuo de 1,51%, aos 100.950 pontos.
Com a queda vista neste momento, o índice pode encerrar o mês de agosto com perdas de mais de 2%, após quatro meses seguidos de alta.
“A grande pergunta é como o governo vai arranjar dinheiro para cobrir os gastos previstos, alguma coisa vai ter que acontecer. Vamos ter que acompanhar o que o governo prevê e também como vai ser o auxílio emergencial, há dúvidas se a economia vai voltar a andar sem isso”, disse o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos.
O último pregão do mês é também é o último dia para o governo entregar ao Congresso a sua proposta de orçamento para o ano que vem, o que ocorre em meio a receio de investidores com aumento de gastos e após impasses sobre o programa social Renda Brasil, que expôs divergências entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Além do orçamento de 2021 e do Renda Brasil, investidores ainda aguardam mais detalhes sobre a extensão do auxílio emergencial nesta semana, que pode ficar em R$ 300,00.
Números divulgados há pouco pelo Banco Central (BC) mostram que o setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 483,8 bilhões entre janeiro e julho, um aumento de 56 vezes em relação ao mesmo período do ano passado.
Entre as ações, os papéis da Eletrobras estão entre as maiores altas do Ibovespa após altas recentes e manutenção de dúvidas em relação à privatização da companhia. Ao lado da Eletrobras, estão as ações do IRB Brasil, que reagem a seu balanço do segundo trimestre. Ações de peso para o índice, como as da Petrobras e de bancos, como do Itaú Unibanco, também recuam.
Após exibir volatilidade no início dos negócios, o dólar comercial acelerou a alta frente ao real e sobe mais de 1%, em busca do patamar de R$ 5,50, no último pregão de agosto, antes da formação de preço da taxa Ptax de fim de mês. Além disso, investidores acompanham a desvalorização das moedas de países emergentes em correção à forte alta de sexta-feira e seguem atentos ao cenário fiscal do país à espera dos desdobramentos sobre o auxílio emergencial.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 0,99%, sendo negociado a R$ 5,4710 na venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em setembro de 2020 apresentava avanço de 1,49%, cotado a R$ 5,471.
“Os comprados estão a fim de jogo e tentando recuperar um pouco o prejuízo [após a forte queda da moeda na sexta-feira] e levam a moeda para perto de R$ 5,50. É dia de briga de cachorro grande”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik. Ele destaca o desempenho das moedas emergentes que operam em queda frente ao dólar, como o peso mexicano.
Aqui, o cenário fiscal segue no radar do mercado que avalia os riscos atento ao orçamento de 2021 previsto para ser entregue no Congresso hoje e à espera da prorrogação do auxílio emergencial.
Sobre o auxílio, o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, diz que o mercado avalia que o valor da parcela mensal virá como pista para o que está sendo cogitado pelo governo federal para ser pago no programa Renda Brasil. “A expectativa é pela definição de um pagamento mensal da ordem de R$ 300. Em suma, as contas públicas seguirão sob o escrutínio de investidores”, reforça.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) firmaram-se em alta, acompanhando a aceleração do dólar, que já sobe mais de 1%, aproximando-se da faixa de R$ 5,50, em dia de formação da taxa Ptax. Os investidores corrigem parte dos exageros na última sexta-feira, quando houve intensa retirada de prêmios da curva a termo e forte desvalorização da moeda norte-americana, atentos ao risco fiscal no país e à agenda econômica da semana.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 2,86%, de 2,82% no ajuste anterior, ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,07%, de 4,01% após o ajuste na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2025 estava em 5,90%, de 5,82%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,86%, de 6,78%, na mesma comparação.