São Paulo – O Ibovespa mostra fraqueza nesta manhã e dificuldades de acompanhar a alta de Bolsas no exterior diante de preocupações com a situação fiscal e a cena política locais. Embora haja sinais de que o governo pode voltar atrás na decisão de usar recursos de precatórios para financiar parte do programa Renda Cidadã, investidores estão desconfiados e também veem uma estagnação da agenda de reformas e privatizações, diante de brigas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 0,80%, aos 93.841,58 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 11,0 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2020 apresentava recuo de 1,27%, aos 93.850 pontos.
“Há notícias de que Bolsonaro voltou atrás na ideia de usar precatórios, se for isso mesmo é positivo, mas não resolve o problema. Outro ponto importante é que Maia e Guedes [Paulo, ministro da Economia], que já tinham rompido, trocaram novas acusações, o clima está piorando. Tudo isso é negativo, são ruídos fiscais, políticos”, disse o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara.
A decisão de bancar o programa Renda Cidadã, que irá substituir o Bolsa Família, com parte de recursos de precatórios e do Fundeb foi visto como uma manobra fiscal e muito criticada pelo mercado, que já se preocupava com o aumento dos gastos públicos. Além disso, Guedes acusou Maia de fazer um acordo com a esquerda para travar privatizações. Maia, por sua vez, disse que o ministro está desequilibrado.
No cenário externo, Bolsas europeias e norte-americanas sobem após indicadores divulgados nos Estados Unidos e na expectativa de alguma evolução nas negociações entre democratas e republicanos sobre o novo pacote de estímulos econômicos. A Câmara dos Deputados norte-americana adiou a votação do pacote de US$ 2,2 trilhões dos democratas para permitir mais negociações, o que foi visto como um sinal de que um progresso pode ser feito.
Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa são da Natura (NTCO3 -4,57%), da Minerva (BEEF3 -4,42%) e da CVC (CVCB3 -2,58%). A Natura fará uma oferta pública global de 121.400 ações ordinárias, que pode alcançar R$ 6,207 bilhões. Diante da oferta, decidiu parar de divulgar projeções financeiras, para alinhar sua política de divulgação. Já a CVC informou que teve um prejuízo líquido de R$ 1,151 bilhão no primeiro trimestre do ano.
Na contramão, as maiores altas são da Azul (AZUL4 6,27%) e da Gol (GOLL4 6,31%), que têm se recuperado depois de sofrerem com a pandemia de coronavírus.
O dólar comercial tem alta firme frente ao real, após exibir forte volatilidade na abertura dos negócios, em movimento descolado do exterior com investidores locais precificando as incertezas em relação ao cenário fiscal do país, assunto que deverá prevalecer nos mercados no quarto trimestre. Lá fora, o ambiente é um pouco mais positivo para as moedas de países emergentes, enquanto os mercados monitoram os desdobramentos em torno do pacote de estímulo fiscal norte-americano.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 0,60%, sendo negociado a R$ 5,6520 na venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em outubro de 2020 apresentava avanço de 0,72%, cotado a R$ 5,655.
O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, avalia que os “impasses” sobre a fonte de financiamento do programa Renda Cidadã e os sinais de desgaste do ministro da Economia, Paulo Guedes, mantém o viés de cautela no cenário doméstico. “Os boatos sobre a fritura do Paulo Guedes voltam a fazer preço no mercado”, diz.
O consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello, reforça que no exterior, sem a aprovação de um novo pacote de estímulo fiscal, as perspectivas são de que aconteça desaceleração no mercado de trabalho.
“Além disso, as incertezas eleitorais deixam as empresas inseguras para fazer contratações. Mesmo com as perspectivas de crescimento da economia norte-americano no terceiro trimestre projetando recuperação, se o apoio fiscal por parte do governo não for concretizado, as dificuldades serão maiores”, comenta. Amanhã, sai os números de setembro do relatório do mercado de trabalho norte-americano, o payroll.
Após uma abertura indefinida, as taxas dos contratos de juros futuros (DIs) firmaram-se em alta, voltando a incorporar prêmios, diante das incertezas fiscais no país. As dúvidas sobre as formas de financiar o novo programa social do governo, o Renda Cidadã, mantêm a curva a termo pressionada, relegando o cenário externo mais favorável, enquanto os investidores digerem a oferta de títulos públicos, no tradicional leilão do dia.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 3,16%, de 3,05% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,65%, de 4,51% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,63%, de 6,50%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,59%, de 7,48%, na mesma comparação.