Por: Olívia Bulla
São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) foi claro ao indicar ontem, no comunicado que acompanhou a decisão de cortar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual (pp) para 5%, que haverá “um ajuste adicional, de igual magnitude” na próxima reunião, em dezembro, levando a Selic a 4,5% ao final de 2019. Porém, o mercado financeiro debate se o ciclo de cortes chegará mesmo ao fim na última reunião deste ano ou se cabem novas quedas no início de 2020.
O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, explica que aqueles que advogam por um juro básico em 4% ou menos não viram o Copom tão explícito ao determinar a pausa após dezembro quanto na comunicação que sinalizou um novo corte de 0,50pp na reunião do mesmo mês. “Para o mercado, [o próximo encontro] tende a ser o ‘início do fim’ do ciclo”, diz.
Ou seja, o Banco Central teria deixado a porta aberta para quedas menos intensas no início do ano que vem. “Antes trabalhávamos com mais um corte de 0,50pp em dezembro e aí parando. Agora vemos espaço para queda de 0,25pp na reunião de fevereiro, finalizando, então, o ciclo de cortes”, afirma o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito.
Na mesma linha, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, avalia que o BC calibrou a comunicação para reduzir as expectativas, por parte do mercado, de flexibilização monetária adicional. “Mas as projeções apresentadas sugerem que o Copom se sente confortável em levar a taxa de juros para 4%”, diz, em relatório, acrescentando que a Selic deve chegar a este nível em março, após dois cortes de 0,25pp no início de 2020.
Para o Bank of America Merrill Lynch, o comunicado do Copom visou, de fato, conter o entusiasmo do mercado financeiro, que já discutia a possibilidade de a Selic cair a 3%. “O tom mais duro (“hawkish”) sinaliza uma possível redução no ritmo de cortes ou uma parada abrupta após outro corte de dezembro”, diz, em relatório. Para o BofA, a taxa terminal da Selic também deve ser de 4% ao final do primeiro trimestre do ano que vem.
Cautela
Já a Capital Economics (CE) avalia que o comunicado foi muito claro. “Será apenas mais um corte e pronto”, diz o economista-chefe de mercados emergentes, William Jackson. Para ele, a mensagem do Copom serviu para “moderar as expectativas de cortes mais agressivos” na Selic nos próximos meses. “Da mesma forma, o Copom não deu pistas de que deve mexer na taxa em 2020, como o mercado está cobrando”, avalia.
Para o Bradesco, o BC sinalizou cautela nos próximos passos da política monetária, condicionando ajustes adicionais à evolução do cenário econômico. “O Comitê avalia que o cenário permitirá um corte adicional de 0,50pp e que eventuais novos ajustes no grau de estímulo requerem cautela”, afirma o banco, que prevê a Selic em 4,5% no fim do ciclo, mas não descarta reduções adicionais, caso necessário.
Na mesma linha, o BB Investimentos avalia que o ciclo de queda chega ao fim na última reunião deste ano. “A principal mensagem do Copom é a clara sinalização de que há espaço para mais um corte de 0,50pp na reunião de dezembro, quando, então, o ciclo de queda da Selic deve chegar ao fim, considerando uma recuperação mais intensa da economia doméstica”, diz, em relatório.