Mercado mostra visão otimista para Vale após acordo por Brumadinho

Há expectativa que o desconto dado às ações da mineradora seja revisto; detalhes sobre o desembolso do R$ 37,7 bi serão observados

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São Paulo – A assinatura do acordo entre a Vale, o governo e a Justiça de Minas Gerais sobre os danos causados pelo rompimento da barragem em Brumadinho animou investidores ao por um fim nas discussões judiciais que pesavam sobre a mineradora e traz uma perspectiva de valorização das ações. O valor do acordo, que ficou em R$ 37,7 bilhões, veio em linha com o previsto pelo mercado nos últimos dias e, agora, são esperados mais detalhes sobre o cronograma do desembolso do montante pela Vale.

Para Pedro de Marco, analista da Reach Capital, o fechamento do acordo deve valorizar o preço das ações da companhia, traz boa perspectiva de pagamento de dividendos e traz segurança para futuros investidores.

“A Vale está com um desconto de 30% a 40% em relação às mineradoras australianas, por conta do risco de não saber o valor do acordo, que poderia chegar a R$ 54 bilhões, muito acima do valor que a Vale tinha projetado. Agora esse desconto pode ser revisado”, disse o analista, que faz uma análise conservadora para o preço do minério de ferro, na faixa de US$ 108 dólares na
média do ano.

No entanto, o analista pontua que ainda faltam detalhes sobre o cronograma de desembolsos, que considera importante para saber a previsão de dividendos que a companhia irá pagar.

“O dividendo de 2020, que será pago em abril, será afetado pelo acordo, segundo a métrica divulgada pela companhia e, para 2021, sabendo que a companhia tem uma meta de endividamento, o que ela tiver de caixa acima disso poderá ser distribuído em dividendos extraordinários”, explicou.

Na visão do analista, quem não investia por conta do acordo pode passar a buscar os papéis.

“Já houve uma saída de fundos por conta do dano ambiental causado pela empresa. Agora, resolvido o acordo e com a empresa mostrando planos para enfrentar danos ambientais futuros, é uma boa sinalização para o investidor, que poderá investir em uma mineradora com boa atuação e com demanda forte de commodities, principalmente da China, e outros países que precisam de aço.”

Para Henrique Esteter, analista da Guide Investimento, o acordo feito com Brumadinho veio em linha com o esperado pelo mercado e os papéis também refletem outras condições do mercado.

“O acordo vem em linha pelo que a gente esperava. Acho também que o mercado tinha algo nessa medida, embora as ações tenham revertido a tendência positiva do começo do dia. Mas não acho que seja por conta do acordo. Não acho que (o mercado) tenha tido muita surpresa com o acordo”, explicou.

No momento que o acordo foi anunciado, as ações da mineradora (VALE3) subiam mais de 1%, mas depois apagaram ganhos ao longo dia e operavam em leve queda perto do fechamento.

RECOMENDAÇÕES

A XP Investimentos reiterou a recomendação de compra dos papéis da mineradora, em relatório sobre o acordo, baseada na análise do impacto financeiro informado pela companhia, que inclui um valor adicional estimado a ser despendido de cerca de R$ 19,8 bilhões, com base nos fluxos já desembolsados, que será reconhecido no resultado de exercício de 2020 e engloba R$ 5,4 bilhões, que serão quitados mediante a liberação de depósitos judiciais e R$ 14,4 bilhões, acrescidos no passivo referente à Brumadinho.

“Vemos a dívida líquida/ebitda em 2021 em torno de 0,4 vez e os dividendos não devem ser afetados, em nossa opinião, embora o dividendo mínimo possa diminuir para 7,5% de rendimento em 2021, de 9%”, disseram os analistas Yuri Pereira e Thales Carmo, da XP.

“É importante destacar que nosso cenário base permanece considerando um retorno com dividendos de 9% para 2021, com forte balanço patrimonial da Vale e geração robusta de caixa daqui para frente (retorno com fluxo de caixa de 20% em 2021, assumindo preço médio de US$135/t para o minério de ferro).”

Os analistas do BTG Pactual são outros que reiteraram a recomendação de compra após os dados de produção de minério de ferro, divulgados ontem à noite, e também por consideraram que o preço das ações da empresa está muito descontado.

A expectativa é que esse desconto seja reavaliado devido a diversos fatores, como a expectativa de redução do risco da história do patrimônio líquido, baseada em distribuição de dividendos mais elevados este ano, gradual recuperação de volumes e redução de custos e melhora marginal da percepção em fatores de ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).

RATINGS

Em comentário, a agência de classificação de risco Fitch Ratings disse que o acordo relativo ao desastre de Brumadinho não impacta a nota de crédito ‘BBB’ da companhia.

“A Vale já tinha provisionado US$ 3,1 bilhões em 30 de junho de 2020 relacionadas a Brumadinho, após fazer pagamentos que totalizaram US$ 1,6 bilhão durante 2019 e os primeiros nove meses de 2020. Este acordo resultará na empresa fazendo um pagamento adiantado de, aproximadamente, US$ 1 bilhão por meio da liberação de depósitos judiciais existentes para este valor e desembolsos adicionais de cerca de US$ 3 bilhões”, disseram Joseph Bormann, Claudio Miori e Hector Collantes, diretores da agência.

Segundo a Fitch, a companhia ainda está se beneficiando dos preços elevados do minério de ferro e do cobre devido aos níveis recordes de produção de aço na China, grandes quantidades de estímulos fiscais e monetários e interrupções no fornecimento e terá cerca de US$ 15 bilhões de fluxo de caixa livre antes de dividendos e pagamentos de indenizações, segundo projeções da agência.

“Positivamente, o plano de assentamento estabelece as diretrizes e a governança para a execução do plano de reparação socioambiental da Vale. Isso deve permitir que a empresa aumente seu foco na melhoria da produção durante 2021.”

Edição: Danielle Fonseca (daniele.fonseca@cma.com.br)