Mercados estressam com falta de acordo nos EUA por pacote econômico

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São Paulo – Em dia de forte volatilidade, o Ibovespa virou perto do fim do pregão e fechou em queda de 0,49%, aos 95.615,03 pontos, depois que a proposta dos democratas sobre o novo pacote de ajuda fiscal nos Estados Unidos foi rejeitada pelo governo de Donald Trump, que ordenou que as negociações sejam suspensas até depois da eleição presidencial de 3 de novembro.

Além das declarações de Trump, o índice já tinha mostrado uma piora ao longo do pregão com incertezas locais, já que segundo o Blog do jornalista Valdo Cruz, no site “G1”, o presidente Jair Bolsonaro pode deixar para depois das eleições municipais a definição sobre de onde virá o dinheiro para bancar o programa social Renda Cidadã.

Na máxima do dia, perto da abertura, o Ibovespa chegou aos 97.158,71 pontos, subindo mais de 1%, já a mínima foi de 95.211,05 pontos. O volume total negociado foi de R$ 27,4 bilhões.

Para o CIO e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, “sem fiscal até novembro, e depois mais pelo menos uma a duas semanas para aprovação, a economia americana deve apresentar forte desaceleração nas próximas semanas”. Ainda havia esperança de que um acordo fosse fechado entre democratas e republicanos depois de avanços nas negociações na semana passada.

O analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, avalia que o Trump “está fazendo política” e concorda que é possível que ocorra um enfraquecimento da atividade nos Estados Unidos e dos mercados, embora o dia 3 de novembro esteja perto. “Só o fato das eleições já gerava incerteza para os mercados e podemos ver uma piora maior agora no curto prazo sim”, disse.

O presidente do Fed, Jerome Powell, já tinha voltado a alertar hoje que a economia norte-americana ainda tem um longo caminho de recuperação pela frente, devendo precisar de mais estímulos. As Bolsas do país fecharam com quedas de mais de 1%.

Além do exterior, a indefinição sobre como o governo vai financiar o programa social Renda Cidadã segue pesando sobre a Bolsa, já que informações do “G1” apontam que Bolsonaro quer evitar polêmicas antes das eleições e postergar a decisão. Havia a expectativa de que pudessem ser anunciadas novidades sobre o custeio do programa amanhã, já que o senador Márcio Bittar afirmou ontem que apresentaria seu relatório e prometeu que o Renda Cidadã irá respeitar o teto de gastos.

Porém, há pouco, Bittar disse a jornalistas que o programa estará pronto apenas na semana que vem, “se Deus quiser”, e sem dar muitos detalhes, afirmando que as propostas ainda estão sendo costuradas. Na semana passada, o governo tinha anunciado que o programa seria financiado com recursos de precatórios e de parte do Fundeb, o que foi visto como uma manobra fiscal e levou o governo a sinalizar que voltaria a atrás na decisão.

Entre as ações, as maiores quedas do índice foram do IRBR (IRBR3 -17,68%), que devolveram ganhos de ontem e refletiram a recomendação do UBS, que retomou a cobertura do papel com classificação de venda. Ao lado do IRB, ficaram as ações da Marfrig (MRFG3 -3,72%) e da B3 (B3SA3 -3,58%).

Já as maiores altas foram da Gol (GOLL4 7,30%), da CVC (CVCB3 9,68%) e da Azul (AZUL4 6,95%). Ao lado dos papéis de turismo e aviação, ficaram as ações da Ambev (ABEV3 4,13%), depois que o Credit Suisse disse que o terceiro trimestre deve ser o melhor da história recente para a venda de cerveja no Brasil.

O dólar comercial fechou em alta de 0,52% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5980 para venda, em sessão de forte volatilidade e amplitude com a moeda renovando mínimas a R$ 5,48 e máximas a R$ 5,61. Na primeira parte dos negócios, o otimismo prevaleceu no mercado doméstico e no exterior reagindo à melhora do estado de saúde do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enquanto aqui, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, deram trégua nos ruídos políticos.

Porém, na reta final dos negócios, Trump anunciou, por meio de mensagens no Twitter, que rejeitou a proposta dos democratas de uma nova rodada de ajuda ao novo coronavírus, avaliada em US$ 2,4 trilhões, e ordenou que as negociações do novo pacote de estímulo fiscal sejam suspensas até depois da eleição, em 3 de novembro.

“Perto do fechamento, o dólar acelerou os ganhos com essa notícia”, diz o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek. Para o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, Trump “jogou um banho de água fria nos mercados”, já que na abertura, parte do otimismo observado no exterior vinha das expectativas de que haveria negociações no Congresso norte-americano para a aprovação do plano.

Para a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, Trump ignorou o alerta feito por Powell sobre os estímulos”, referindo-se a declarações feitas mais cedo pelo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, sobre a necessidade de mais apoio fiscal para garantir a recuperação da economia norte-americana em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.

Aqui, investidores reagiram com otimismo após Paulo Guedes e Rodrigo Maia sinalizarem o fim de ruídos políticos entre legislativo e executivo após críticas ao ministro da Economia na semana passada.

Porém, o programa Renda Cidadã voltou a gerar incertezas entre os investidores em meio à notícia de que o presidente Jair Bolsonaro teria declarado a assessores e aliados que não irá dar aval a propostas polêmicas de financiamento do programa Renda Cidadã antes das eleições municipais, que serão realizadas no mês que vem.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, Spyer acredita que o mercado seguirá monitorando o noticiário em torno do Renda Cidadã, além do risco fiscal, enquanto os desdobramentos em torno do adiamento do pacote de estímulos norte-americano deverá pautar os mercados mais uma vez, após o forte impacto na reta final dos negócios, que levou as bolsas de Nova York a fecharem com mais de 1% de queda.

Tem ainda a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Fed, no mês passado, no qual a autoridade monetária deverá ressaltar a importância de estímulos por parte do governo federal para recuperar a economia dos Estados Unidos.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram o dia alta acelerada, revertendo toda da queda acentuada vista logo na abertura do pregão, com os investidores reavaliando os riscos fiscais. A trégua entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na noite de ontem não conseguiu dissipar as incertezas em relação ao Renda Cidadã, o que manteve a curva a termo pressionada. A mudança de sinal no dólar, que também passou a subir, favoreceu o movimento de colocação de prêmio.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,35%, de 3,23% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,80%, de 4,67% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,66%, de 6,51%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,55%, de 7,44%, na mesma comparação.

O presidente norte-americano, Donald Trump, colocou fim às negociações sobre novos estímulos e também aos fortes ganhos de Wall Street, fazendo com que os principais índices do mercado de ações atingissem mínimas na sessão e terminassem o dia com mais de 1% de queda.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -1,34%, 27.772,76 pontos

Nasdaq Composto: -1,57%, 11.154,60 pontos

S&P 500: -1,39%, 3.360,97 pontos