Minerva mostra otimismo com reabertura da China, mas espera impacto da “vaca louca” no primeiro trimestre

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São Paulo – A Minerva Foods mostrou perspectiva positiva para a reabertura do mercado chinês, mesmo após a auto suspensão das exportações ao país por conta da detecção de um caso de “vaca louca” no Pará, reiterando a informação divulgada ontem de que atenderá a demanda chinesa através de suas plantas na América do Sul. A companhia também destacou boas perspectivas com a demanda ao atendimento de mercados devido à restrições nos Estados Unidos e uma possível abertura do mercado mexicano. No entanto, a companhia estima impacto negativo na receita e margem do primeiro trimestre 2023 devido ao caso de “vaca louca”.

“Estamos otimistas com a reabertura da China pós pandemia, apesar da suspensão das exportações brasileiras por conta do caso de BSE [Bovine Spongiform Encephalopathy, como a doença é conhecida internacionalmente]. Hoje, o embaixador chinês foi informado do caso [de “vaca louca”] e o Ministério da Agricultura tem sido extremamente diligente no atendimento aos protocolos relacionados à detecção da doença”, disse Fernando Queiroz, presidente da Minerva, na teleconferência de resultados realizada na manhã desta sexta-feira.

“Também tivemos uma boa notícia, de que o México deve abrir seus mercados à exportação brasileira”, acrescentou o executivo, sem dar mais detalhes. “Nossas exportações para o México não estarão sujeitas a sistema de cotas, isso nos deixa bastante otimistas.”

Queiroz falava de Dubai, onde participa de uma feira, e disse que notou uma elevação de preços na China devido à demanda do food service e varejo por conta do aquecimento do mercado após a reabertura do mercado.

“É factível esperar um crescimento de 10 a 15% dos volumes em 2023 considerando a demanda mais forte da China e outros mercados”, disse o o diretor de finanças e relações com investidores da Minerva Edson Ticle, também durante a reunião com investidores e analistas.

Através de sua operação no Brasil, a Minerva realiza as exportações para a China pelas unidades de Barretos (SP), Palmeiras de Goiás (GO) e Rolim de Moura (RO). Entretanto, a companhia seguirá atendendo a demanda chinesa por meio de quatro plantas de abate: três no Uruguai e uma na Argentina, sem comprometer o seu share de mercado e o relacionamento com clientes, destacou o comunicado da empresa divulgado na manhã de quinta-feira (23/2).

A China representou 39% e 43% das exportações no 4T22 e em 2022. As Américas representaram 42% do breakdown de receita bruta trimestral do 4T22. A companhia atingiu market share de 20% das exportações na América do Sul no ano passado.

Em relação à Argentina, o diretor de finanças e relações com investidores Edson Ticle disse que a companhia não vai colocar capital nem esforço operacional no mercado enquanto não tiver mais clareza das condições no país. O executivo citou o problema com as cotas como a grande questão na Argentina.

As despesas com a aquisição ALC anularam o resultado de dois meses da operação australiana, disse Ticle. A companhia comprou a Australian Lamb Company (ALC) em outubro do ano passado, por US$ 260 milhões e de uma joint venture com o fundo soberano da Arábia Saudita (Salic). A Minerva detém 65% da JV.

“A Austrália tem um ciclo e uma plataforma forte para penetrar mais mercados. A ALC permite à Minerva atuar em cordeiros e bovinos, com um portfólio mais completo e em novos mercados. A diversificação geográfica continua sendo um dos pilares da nossa estratégia”, acrescentou Queiroz sobre a operação australiana.

O diretor financeiro disse que até o final 2T23 espera concluir a aquisição da Breeders and Packers Uruguay (BPU), anunciada em novembro, e mostrou expectativa positiva para a operação no Uruguais, apesar de impactos esperados por conta de uma previsão de clima mais seco, como a redução dos abates.

Ticle disse que problemas climáticos podem reduzir o abate pontualmente em algumas regiões como o Uruguai e o Paraguai no primeiro trimestre deste ano, mas que no geral, a perspectiva é positiva por conta da forte demanda de mercados como a China.

O diretor financeiro disse que a recompra de bonds ajudou a companhia a gerenciar o encarecimento do crédito no Brasil e que a a companhia seguirá recorrendo a essa estratégia para gerenciar seu endividamento.

A companhia destacou o fluxo de caixa livre ao final de 2022, de R$ 647 milhões, mesmo com investimentos realizados. “O pagamento de dividendos anunciados no resultado e ontem mostra nossa capacidade de gerar valor ao acionista e disciplina financeira.”

Caso Americanas

Em relação à nota sobre “fornecedores convênio” em seu balanço, o diretor financeiro disse que a companhia preserva a relação mercantil com seus fornecedores, por meio da qual disponibiliza uma linha de crédito e que o caso da Americanas não muda essas operações, que são “corriqueiras e normais em seus negócios , mas podem ser alteradas pelos bancos, enventualmente.”

A companhia disse que teve efeito negativo com o caso Americanas por conta da elevação do custo de crédito para o mercado como um todo.

Resultados do 4T22 e 2022

A Minerva registrou prejuízo líquido de R$ 25,7 milhões no quarto trimestre de 2022 (4T22), ante lucro líquido de R$ 150,3 milhões no 4T21. No acumulado de 2022, o lucro líquido foi de R$ 655,1 milhões, um crescimento de 9,4% em comparação com 2021, segundo informou a companhia em balanço divulgado nesta quinta-feira (23/2).

O resultado financeiro líquido do 4T22 foi negativo em R$ 562,4 milhões, impactado pela rubrica de despesas financeiras, que reflete uma taxa de juros DI mais elevada, e, em particular, pelo impacto negativo de R$ 198,4 milhões relativo aos instrumentos financeiros de proteção cambial (hedge) – a companhia tem uma política de manter, no mínimo, 30% da sua exposição cambial de longo prazo “hedgeada”.

Os investimentos do quarto trimestre totalizaram R$ 1,1 bilhão. Desse montante, cerca de R$ 103,7 milhões foram destinados à manutenção e R$ 988,1 milhões foram utilizados para expansão operacional, em particular nas operações fora do Brasil e, notadamente no desembolso de R$ 802,9 milhões relacionados a aquisição da ALC.

A receita líquida no trimestre somou R$ 6,8 bilhões, baixa de 8,9% na comparação anual, enquanto o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) piorou 17,4% no período, somando R$ 607,5 milhão, na mesma base de comparação.

A companhia abateu 855,3 mil cabeças de gado no 4T22, queda de 4% ante o 4T21 e 3,7 milhões de cabeças em 2022, 5% acima de 2021.

A expansão anual do abate é impulsionada pela consistente demanda internacional por carne bovina, além da crescente disponibilidade de animais prontos para o abate, especialmente no Brasil.

O volume total de vendas nos mesmos períodos somaram 303,2 mil toneladas (+5,3%) e 1,2 milhão de toneladas (+5,4%).

O endividamento líquido da Minerva somava R$ 6,7 bilhões ao final do período, uma queda de 9,7% na comparação com o 4T21 e levemente superior aos R$ 6,5 bilhões no trimestre anterior.

A alavancagem, medida pela relação dívida líquida por ebitda, passou para 2,15 vezes no final de 2022, queda de 0,3% ante 2,4 vezes um ano antes.

“A alavancagem líquida do 4T22, medida através do múltiplo Dívida Líquida/ebitda dos últimos 12 meses, impactada pelo desembolso de cerca de R$ 802,9 milhões relativos à conclusão da aquisição e pelo ebitda proforma de R$ 262,4 milhões da ALC (referente a 10 meses de Australian Lamb Company), encerrou o ano em 2,15 vezes, o menor nível desde 2007”, informou a empresa, no relatório.

Em consonância com a sua política de destinação de resultados, que prevê distribuir no mínimo 50% do lucro líquido sempre que a alavancagem líquida for menor ou igual a 2,5 vezes, a administração da Minerva irá submeter à assembleia de acionistas o pagamento de dividendos complementares de R$ 208,6 milhões ou R$ 0,36 por ação e, se aprovados, devem ser pagos no início de maio. “Desse modo, totalizamos o montante de R$ 336,7 milhões ou R$ 0,58 por ação, distribuídos como proventos referentes ao exercício fiscal de 2022, reiterando o nosso compromisso com a geração de valor ao acionista”, informou a Minerva, no relatório divulgado após o fechamento desta quinta-feira.