São Paulo – O Brasil adotará uma política de testagem em massa da população para a covid-19, e o objetivo será submeter 20 milhões de pessoas por mês às análises para melhorar o isolamento dos contaminados e evitar a disseminação da doença, disse o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante uma audiência no Senado.
Ele afirmou que até agora o Brasil “testou pouco” a população para detectar a presença da doença e por isso ficou sem políticas apropriadas de isolamento dos casos positivos e daqueles que tiveram contato com os infectados.
“A tecnologia hoje nos permite testes rápidos de antígeno. O Ministério da Saúde já aprovou no Conass e Conasems uma política para testagem com dois pilares. O primeiro são testes na atenção primária, dedicados aos pacientes sintomáticos, que devem fazer nas Unidades Básicas de Saúde o teste rápido de antígeno”, disse Queiroga. Aqueles cujo teste der positivo devem ser isolados, assim como as pessoas com quem tiveram contato.
Para os assintomáticos, os testes devem ser feitos em ambientes de grande circulação – a exemplo do metrô, grandes rodoviárias e aeroportos, disse Queiroga. “É fundamental que tenhamos parceira da iniciativa privada, testando funcionários para que casos positivos sejam afastados e consigamos conciliar o combate à pandemia com o retorno sustentado das atividades econômicas”, afirmou o ministro.
“Distribuímos 3 milhões de testes rápidos de antígenos e o Ministério da Saúde tem tratativa avançada para aquisição de mais 10 milhões destes testes rápidos para num primeiro momento serem distribuídos a estados e municípios. O objetivo é testar 20 milhões de brasileiros todos os meses, sendo 1,8 mi testes na atenção primária e os outros no setor público”, disse Queiroga.
CRONOGRAMA DE VACINAS
Queiroga afirmou que até setembro o Brasil terá vacinado todas as pessoas com 18 anos ou mais contra a covid-19, e afirmou que até o final do ano será possível concluir a vacinação desta população com a segunda dose da vacina.
“Pelo ritmo que campanha vem adquirindo nas últimas semanas, último mês, é possível antever que toda população brasileira acima de 18 anos pode ser imunizada com uma dose da vacina até o mês de setembro. É possível antever que tenhamos população brasileira acima de 18 anos vacinada até o final do ano de 2021”, afirmou.
Queiroga disse que este cronograma é “bastante razoável” diante das dificuldades que o Brasil enfrenta para garantir o suprimento constante de insumos para a produção das vacinas, e acrescentou que a campanha deve caminhar com “muita celeridade” daqui para frente, em particular com a possibilidade de produção dos imunizantes sem a necessidade de importar as matérias-primas para a fabricação.
O ministro disse que a partir do segundo semestre a Fundação Oswaldo Cruz conseguirá produzir vacinas sem a necessidade de importação de insumos, e ressaltou que há outras pesquisas para o desenvolvimento de vacinas totalmente nacionais no radar do Ministério – entre elas as da Universidade de São Paulo, da Universidade Federal de Minas Gerais e a do Instituto Butantan, cujo estudo clínico já foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)>
“Todas estas vacinas são alvo do nosso interesse”, disse Queiroga. Ele disse também que o Ministério da Saúde vai fazer estudos para avaliar se é possível vacinar as pessoas com imunizantes produzidos por diferentes empresas e se será necessária a aplicação de uma dose de reforço das vacinas contra a covid-19.
JANSSEN
O ministro disse que o Brasil receberá amanhã 1,5 milhão de doses da vacina da Janssen contra a covid-19. Estas vacinas deveriam ter sido entregues na semana passada e em maior quantidade – eram 3 milhões, segundo o anúncio original -, mas tiveram a entrega adiada.
A chegada das 3 milhões de doses de vacinas da Janssen estava prevista para 15 de junho como parte de uma entrega antecipada de parte das 38 milhões de doses compradas pelo Ministério da Saúde e que estava previstas para chegar no quarto trimestre.
As vacinas da Janssen imunizam com apenas uma dose – diferentemente das que têm sido usadas até agora no Brasil, que exigem duas doses. A expectativa é de que elas sejam usadas unicamente nas capitais, porque tem um prazo de validade relativamente curto – precisam ser usadas até 8 de agosto.
A vacina da Janssen possui autorização para uso emergencial no Brasil desde 31 de março. Depois de 28 dias de aplicação, a vacina tem eficácia de 85% na prevenção da forma severa da covid-19 e de 66% nos casos moderados. Os dados de eficácia e segurança se baseiam em estudo com 43.783 participantes em oito países, incluindo o Brasil, de três continentes com uma população diversa e ampla, sendo 34% dos participantes com mais de 60 anos de idade.
CORONAVAC
Queiroga negou que o governo federal avalie encerrar o uso da CoronaVac – vacina contra a covid-19 desenvolvida pela SinoVac e envasada pelo Instituto Butantan – no programa de imunização contra a doença no Brasil. “Não há nenhum tipo de mudança de estratégia do Ministério da Saúde em relação a esse imunizante”, afirmou.
“A vacina tem sido útil para o programa nacional de imunização brasileiro e esta é a posição oficial do Ministério da Saúde até que exista algum dado científico que faça com que nós tenhamos posição diversa”, afirmou.
O jornal Correio Braziliense afirmou em reportagem que Queiroga pretendia remover a CoronaVac do calendário de vacinas porque a vacina teria eficácia baixa. Hoje, ao Senado, o ministro comentou o assunto dizendo que o governo avalia a eficácia de todas as vacinas em uso.
“O que há em relação à vacina CoronaVac é que ainda não tem registro definitivo da Anvisa. Isso não se deve a nenhum tipo de ação do Ministério da Saúde. Há uma série de comentários nas mídias que fala acerca da efetividade da vacina, sobretudo nos indivíduos idosos, mas da parte do Ministério da Saúde estávamos avaliando não só a CoronaVac, mas todas as vacinas”, disse ele.
Ele indicou que o governo federal aguarda a divulgação dos resultados de estudos feitos pelo Instituto Butantan em Serrana, município do estado de São Paulo. A população da cidade foi vacinada com a CoronaVac e os resultados divulgados até agora mostram queda de 80% nos casos sintomáticos, 86% nas internações e de 95% nas mortes após a segunda vacinação do último grupo.
As informações que colocam em dúvida a eficácia da CoronaVac mencionadas indiretamente pelo ministro em sua fala ao Senado baseiam-se essencialmente em dois questionamentos a respeito da vacina. O primeiro na continuidade de infecções e mortes por covid-19 no Chile, que vacinou a maioria da população com o imunizante, e o outro sobre o grau de eficácia da vacina em pacientes mais velhos.
O Ministério da Saúde do Chile divulgou pesquisas sobre a eficácia da CoronaVac em maio e afirmou que a vacina evita 65,3% dos casos com sintomas, 87% das hospitalizações, 90,3% dos ingressos na UTI e 86% das mortes provocadas pela covid-19. À época, haviam participado do estudo 10,2 milhões de pessoas (cerca de metade da população) – 5,5 milhões que não receberam vacinas, 550 mil vacinadas com uma dose e 4,2 milhões com duas doses.
O Butantan apontou que ainda havia casos no Chile à época por uma série de fatores, mas entre eles um que já é conhecido justamente por causa do estudo de Serrana – que é necessário ter pelo menos 70% da população vacinada para a CoronaVac começar a ter efeito de redução dos casos de forma geral, inclusive entre os não vacinados.
Sobre a eficácia por faixa etária, há vários estudos apontando a eficácia da vacina CoronaVac em indivíduos de todas as idades, e há evidências na própria curva de casos e óbitos no Brasil, que vem afetando pessoas mais jovens desde o início da vacinação. Apesar disso, Queiroga ressaltou que “o estudo de Serrana é importante para trazer respostas em relação à CoronaVac e seus resultados”.
VOLTA ÀS AULAS
O ministro Queiroga defendeu que os professores voltem a dar aulas mesmo se tiverem recebido apenas uma das duas doses de vacinas contra a covid-19. “No meu entendimento não é fundamental que todos os professores estejam imunizados com duas doses para retorno das aulas”, disse ele durante uma audiência com uma comissão do Senado.
“Educação é setor estratégico. Sabemos que alunos nas escolas não só tem educação, tem outras ações importantes e fundamentais, como segurança alimentar, assistência à saúde e estamos há mais de um ano sem aulas. Já distribuímos doses para professores da atenção básica”, disse ele.
Queiroga acrescentou que com a introdução de um programa de testagem em massa pelo governo, seria possível retomar as aulas no segundo semestre – em particular após setembro, quando o ministro prevê que toda a população adulta brasileira estará vacinada com pelo menos uma dose das vacinas contra a covid-19.