Monitorar núcleo de inflação é essencial para determinar política monetária, diz Lane, do BCE

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Em um discurso hoje mais cedo, Philip Lane, membro da Comissão Executiva do Banco Central Europeu (BCE), falou sobre como o núcleo da inflação (chamado também por inflação subjacente) é importante para determinar as políticas monetárias.

“O banco central enfrenta o problema de distinguir em tempo real o ‘sinal’ de pressão inflacionária de médio prazo contido nos dados de inflação do índice harmonizado de preços ao consumidor do ‘ruído’ decorrente de fatores temporários ou idiossincráticos. Para tanto, medidas de inflação subjacente são rotineiramente monitoradas”, afirmou.

O núcleo da inflação se tornou particularmente importante nos últimos anos, devido aos efeitos da pandemia do coronavírus e à guerra na Ucrânia. “É útil pensar na inflação plena como atualmente impulsionada por três fatores: ruído puro; componente de reversão; e inflação subjacente. Esses fatores contribuíram para o forte aumento da inflação desde meados de 2021 e, mesmo que tenha havido alguma flexibilização ou mesmo reversão desses fatores, o processo de ajuste a esses choques ainda está em andamento e não deve ser interrompido repentinamente”.

No caso do BCE, o banco analisa vários indicadores do núcleo da inflação para determinar o caminho da política monetária. “O indicador padrão mais proeminente da inflação subjacente é o núcleo da inflação definido como o índice de preços ao consumidor excluindo produtos energéticos e alimentares, que se situa em 5,6% nos dados de fevereiro”.

Ele fala também que é necessário observar a dinâmica das leituras dos índices de preços ao consumidor, para saber para qual direção a inflação está indo. No caso da zona do euro, os fatores que contribuíram para o aumento da inflação foram basicamente o aumento nos preços da energia e os gargalos na cadeia de distribuição. “A pandemia afetou a dinâmica da inflação não apenas por meio de gargalos na oferta, mas também por descompassos entre oferta e demanda”.

O dirigente do BCE citou que o aumento nos salários também ajuda a disparar a inflação. “O processo de reajuste salarial pode pressionar a inflação de preços para cima nos próximos dois ou três anos, mesmo que o comportamento de longo prazo dos salários não tenha sido afetado pelo choque inflacionário atual”.

Por conta disso, a análise da inflação subjacente se torna mais complicada em vista destes fatores, “uma vez que a crise energética e a pandemia geraram choques inflacionários que não se enquadram perfeitamente nem no ‘ruído puro’ nem nos componentes de ‘médio prazo’ da inflação, mas também contribuem plausivelmente para um componente de ‘reversão’ da inflação”.

Lane reforçou que o BCE fará o que for possível para que a inflação chegue à meta de 2% ao ano e, para chegar a isso, vai analisar o próximo fluxo de dados que o banco vai analisar para determinar as próximas taxas de juros, como a inflação para março e abril; o PIB do primeiro trimestre; PMIs e outros indicadores; pesquisas de expectativas do consumidor; a informação atualizada sobre a dinâmica do emprego e dos salários; dados recebidos sobre criação de crédito e taxas de empréstimos bancários; “e, em relação à política fiscal, as Atualizações do Programa de Estabilidade que serão apresentadas em abril pelos Estados membros”, conclui.