Moody’s diz que aumento de endividamento das famílias prolongará pressões de risco para além de 2023

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São Paulo – A renda disponível das famílias brasileiras mostra as tensões dos elevados custos de vida e do serviço da dívida e eleva os índices de inadimplência dos bancos de varejo, de acordo com um relatório da Moody’s Investors Service.

Além disso, o aumento das renegociações de empréstimos ao consumidor e uma expansão acelerada de produtos de crédito ao consumidor com margens mais altas são os principais indicadores de estresse futuro no desempenho do crédito do sistema.

“Taxas de juros persistentemente elevadas e uma provável desaceleração da atividade econômica aumentarão as dificuldades relacionadas à qualidade dos empréstimos em 2023, inclusive para empréstimos corporativos, embora esperemos que a deterioração seja mais limitada para os últimos”, dizem os analistas da Moodys.

O documento diz, ainda, que embora a taxa de desemprego no Brasil tenha caído para 8,1% e a inflação esteja diminuindo gradualmente, a renda real total do trabalho permanece abaixo dos níveis pré-pandemia. A pressão sobre a renda familiar continua alta, apesar da recuperação nos mercados de trabalho e da redução da inflação.

“O aumento da dependência de crédito e endividamento das famílias atingiram um recorde de 50% da renda anual total, e os custos do serviço da dívida alcançaram o maior patamar histórico, de 28,2% da renda mensal familiar, em novembro de 2022,”, lembra a agência.

“Esse déficit tem sido coberto pelas linhas de crédito sem garantia mais caras, inclusive cheque especial e dívida rotativa de cartão de crédito, que juntos subiram 47% nos 12 meses encerrados em 31 de dezembro, o que reflete a restrição de fluxo de caixa dos consumidores.”

O relatório mostra, ainda que os empréstimos em atraso nas carteiras de pessoas físicas apresentaram uma deterioração constante em 2022, mas ainda estão abaixo dos níveis alcançados em ciclos econômicos negativos anteriores. Os empréstimos ao consumidor sem garantia, particularmente cartões de crédito, cresceram rapidamente e sob padrões de subscrição mais flexíveis e continuarão a acumular riscos à medida que esses empréstimos amadurecem em um cenário de altas taxas de juros e baixo crescimento.

Os bancos, no entanto, continuam a manter níveis conservadores de reservas para enfrentar o enfraquecimento da qualidade dos empréstimos. No médio prazo, uma expansão do crédito governamental provavelmente prejudicará os sólidos fundamentos financeiros dos bancos públicos no médio prazo. A Moodys diz que o ciclo de deterioração da qualidade do crédito em 2023 é administrável para a maioria dos bancos no Brasil.

As condições de crédito mais fracas testarão o baixo índice de inadimplência em empréstimos corporativos, dizem os especialistas. A desaceleração gradual do consumo prevista para 2023 acabará por restringir a geração de receitas futuras das empresas, ao mesmo tempo em que os custos de empréstimos permanecerão elevados enquanto a política monetária brasileira não for flexibilizada, de acordo com os analistas da Moodys.

As pequenas e médias empresas (PME) que captaram durante 2020 com taxas fixas limitadas em programas subsidiados pelo governo estão se refinanciando com taxas significativamente mais altas à medida que esses empréstimos vencem. “Mas a inadimplência em empréstimos corporativos provavelmente aumentará apenas moderadamente, e as perdas serão contidas pelas fortes garantias e programas oferecidos pelo governo em carteiras de PMEs de maior risco”, conclui.