Mudanças na Petrobras aumentam incertezas e expectativa de interferências políticas; ação despenca

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Foto: Divulgação / Petrobras

São Paulo – Os analistas digerem as informações divulgadas a pouco pela Petrobras, em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) às 12h37 (horário de Brasília). Após anunciar a saída de Jean Paul Prates da presidência e a indicação de Magda Chambriard pelo governo para substituí-lo, o conselho de administração, em reunião realizada hoje, aprovou o encerramento antecipado do mandato do atual CEO e nomeou como presidente interina da companhia a diretora de Assuntos Corporativos, Clarice Coppetti, até a eleição e posse da nova presidente. Adicionalmente, o colegiado destituiu do cargo de diretor financeiro e de Relacionamento com Investidores, Sergio Caetano Leite, nesta data, e nomeou para a posição, de forma interina, o atual gerente executivo de Finanças, Carlos Alberto Rechelo Neto, até a eleição de novo CFO pelo órgão.

“Conforme temíamos, a Petrobras confirmou, via fato relevante, a saída do CEO Jean Paul Prates e do CFO Sergio Caetano Leite. Acreditamos que mais mudanças poderão ocorrer ao longo das próximas semanas”, comenta a Ativa Investimentos, que reitera sua visão negativa sobre a saída do CEO e CFO da empresa.

A corretora lembra que Leite conduziu o call de resultados ontem, onde revelou uma série de questões relevantes sobre a companhia, que acredita que passarão por uma reavaliação com a nova gestão da empresa. São estes: o fato da distribuição do dividendo extraordinário ainda retido ser, àquele momento, uma questão de quando e não se; a intenção em seguir como minoritário na Braskem; a necessidade de se realizar uma transição energética com cautela; a complexidade das negociações envolvendo o retorno da companhia à Refinaria de Mataripe; e a a possibilidade da Petrobras renovar o seu programa de recompra de ações.

Para o presidente do Instituto Empresa, Eduardo Silva, o que inquieta os investidores são as motivações e, sobretudo, o que antecedeu a mudança da presidência da Petrobras. “Os rumores de interferência política, revelado sobretudo no episódio do pagamento dos dividendos, já fizeram a companhia perder a confiança no mercado, com queda significativa da cotação de seus ativos. Hoje, aliás, a imprensa registra abertamente que a queda de Prates tem origem em sua aproximação ao mercado. Mas não era exatamente isso que deveria fazer o gestor de uma empresa de capital aberto?”, indaga o executivo.

Na esfera política, o professor de Politicas Públicas da UERJ e Doutor em Economia Política Internacional pela UFRJ, Samuel Braun, avalia que a escolha de Magda Chambriard sinaliza uma vitória do campo “à esquerda” do governo, representada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, enquanto “a ala liberal”, representada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, sai enfraquecida.

“A escolha de Magda para presidir a Petrobras me parece acertada. Além disso, expõe uma disputa aberta no governo entre uma ala liberal e outra de esquerda”, opina o professor, em postagem no “X”.

Na avaliação de Braun, Prates não tinha condições de permanecer há muito tempo, por ter “desobedecido orientação da Presidência e decidido priorizar lucros acionários à estratégia do acionista majoritário, o governo federal” e, por outro lado, saem fortalecidos Mercadante, a ministra da Gestão, Esther Dweck, Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB ou Banco do Brics). “Sim, a presidente do Banco do BRICS foi uma das consultadas por Lula para indicar Magda, que agora pode se somar aos citados no bloco mais desenvolvimentista, o que deve ser contrabalanceado em breve com a indicação de Haddad do nome do próximo presidente do Banco Central.”

Petrobras perde R$ 34 bilhões em valor de mercado

A Petrobras encerrou o pregão desta quarta-feira com um valor de mercado de R$ 509 bilhões, representando uma queda significativa de R$ 34 bilhões em relação ao dia anterior, quando estava avaliada em R$ 543 bilhões. Essa perda de valor equivale ao valor de mercado da Hapvida, segundo atualização da Elos Ayta Consultoria. O movimento reflete o humor dos investidores após o anúncio de substituição, pelo governo federal, de Jean Paul Prates por Magda Chambriard na presidência da Petrobras, além da demissão do CFO Sergio Caetano Leite.

Os papéis preferenciais (PETR4 PN, com preferência por dividendos) fecharam o pregão em R$ 38,40, com uma queda de 6,04%. No ano de 2024, o papel acumula uma valorização de 10,58% e, em 12 meses, de 84,31%. Já as ações ordinárias (PETR3) registraram uma queda de 6,78% no pregão de 15 de maio, com uma valorização de 9,72% em 2024 e de 69,92% em 12 meses.

Durante o pregão, as ações chegaram a cair até 9,57%, na mínima do dia, e a entrar em leilão na B3, devido à forte oscilação nas cotações.

Segundo a análise, a ação preferencial da Petrobras atingiu o maior volume alugado na véspera da saída de Jean Paul Prates da presidência da empresa. No dia 14 de maio, a ação da Petrobras PN (PETR4) registrou o maior volume de estoque de aluguel em 12 meses. Encerrando o pregão com R$ 13,3 bilhões na CBLC, o que representa 7,3% do free float da ação, com uma taxa de aluguel de 0,61% – o maior nível desde novembro de 2023. No dia anterior, essa taxa estava em apenas 0,04%. Durante o pregão do dia 14, foram realizados 8.020 contratos com a PETR4, com um valor médio por contrato de R$ 202 mil.

Já a ação ordinária PETR3 teve 295 contratos, com um volume médio de R$ 3,0 milhões por contrato e uma taxa média de 0,44%, a mais alta no mês de maio. O estoque de aluguel do papel PETR3 em 14 de maio foi de R$ 5,18 bilhões, representando 77% do máximo atingido nos últimos 12 meses.

“Muitos investidores que operaram os contratos de aluguel nesse dia registraram ganhos significativos com a queda das ações, devido à saída de Prates da presidência da Petrobras. Este evento influenciou fortemente o mercado, resultando em oportunidades lucrativas para aqueles que estavam envolvidos em operações de aluguel de ações da Petrobras”, diz a consultoria.

Outra queda expressiva ocorreu em 8 de março de 2024, quando a Petrobras anunciou a retenção dos dividendos extraordinários de 2023, resultando em uma perda de R$ 55,3 bilhões, com o valor de mercado fechando o pregão em R$ 473,7 bilhões.

“Destacamos que o pico foi alcançado em 19 de fevereiro, atingindo R$ 566,9 bilhões, enquanto o ponto mais baixo ocorreu em 11 de março, com R$ 465,9 bilhões, logo após o bloqueio dos dividendos extraordinários de 2023. Em 3 de maio, houve uma queda acentuada no valor de mercado da Petrobras, devido às ações terem ficado ex-dividendos, resultando em um valor de mercado de R$ 530,7 bilhões”, acrescenta Einar Rivero, diretor da Elos Ayta.

“É importante ressaltar que o valor de mercado de uma empresa é calculado multiplicando-se o preço da ação pelo número total de ações em circulação. Quando há pagamento de dividendos, o preço da ação tende a diminuir, afetando o valor de mercado da empresa”, explica.

Para Hayson Silva, analista de mercado da Nova Futura Investimentos, a mudança na presidência da Petrobras afeta o preço das ações devido às expectativas do mercado sobre a nova gestão, abrindo espaço para especulações sobre políticas de preços, incertezas sobre dividendos e a influência política na empresa.

“Enquanto houver indefinições sobre esses fatores, que impactam diretamente na percepção de risco e projeções de rentabilidade, a alta volatilidade deve continuar”, comenta o analista.