Na contramão do exterior, Bolsa fecha em alta na esteira das eleições com Petrobras e varejo; dólar sobe

794

São Paulo- A Bolsa fechou em alta, em mais um pregão descolado de Nova York, ainda na esteira do resultado das eleições e, em meio a esse cenário, as ações de varejo e da Petrobras (PETR3 PETR4) se destacam.

A estatal ainda conta com a ajuda alta do petróleo, após o corte na produção de 2 milhões de barris por dia (bpd) na véspera pela Opep+. Também se observa o ingresso de fluxo estrangeiros.

Com as últimas pesquisas para o segundo turno sinalizando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente, as empresas ligadas as setor de educação se valorizavam apostando na volta do FIES [programa de acesso ao ensino superior gerenciado pelo Ministério da Educação]. Os papéis da Cogna (COGN3) subiram 6,84% e Yduqs (YDUQ3) avançou 4,97%.

As ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) cresceram 2,95% e 3,41%.

Enquanto por aqui os ventos sopram mais a favor, no exterior segue o temor de recessão em meio aos juros altos e inflação às vésperas do payroll.

O principal índice da B3 subiu 0,30%, aos 117.560,83 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro caiu 0,08%, aos 117.705 pontos. O giro financeiro foi de R$ 32,7 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em baixa.

João Beck, economista e sócio da BRA, disse que o fluxo segue “bastante positivo na Bolsa desde as eleições e já começa a ver a entrada de investidor estrangeiro impulsionando os movimentos”.

Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que a nossa Bolsa está totalmente descolada das bolsas internacionais e é “impulsionada pela alta do petróleo após a Opep+ cortar a produção e pelas eleições”.

Cohen também chama atenção para alguns setores que se destacam como da educação. “Com o Lula à frente, o setor é um dos principais beneficiados no governo dele”. As duas pesquisas para o segundo turno que saíram ontem mostraram que o ex-presidente lidera a intenção de votos.

Em relação aos bancos e varejo, o analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos acredita que como estamos à frente de outros países na elevação dos juros, também a redução da taxa será antes que de outras economias. “O mercado já precifica esse cenário e, também, já existe uma expectativa de aumento nas vendas com o fim do ano e proximidade da Black Friday e Natal, com isso, as empresas do setor de varejo podem ver bons resultados”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, head de renda variável da Rio Negro Investimentos, disse que o Ibovespa sobe na contramão do exterior. “Fazia tempo que não víamos uma Bolsa tão pujante e o motivo desse rali são as eleições; o mercado está vendo com maior segurança o Congresso eleito e está reprecificando risco de cada ativo.

O head de renda variável da Rio Negro Investimentos ressaltou que “vê com bons olhos o cenário para a Bolsa nos próximos meses e a bola da vez é Brasil; o estrangeiro entra na Bolsa porque estamos na contramão do mundo, com política econômica ajustada e com as empresas bem descontadas enquanto o exterior vive uma crise inflacionária forte”.

Segundo Rodrigues, os setores de varejo e consumo são beneficiados pelas eleições da mesma forma que as petroleiras, que também são favorecidas pelo corte da Opep+. “3R Petrolium e Petrorio podem se beneficiar mais com a redução na produção do petróleo porque são empresas privadas e não têm o risco político da Petrobras”

O dólar fechou em alta de 0,44%, cotado a R$ 5,2100. Além do temor de uma recessão global, a moeda refletiu a animação do mercado com as alianças políticas formadas para o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras.

De acordo com o sócio-fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o dia está esvaziado, com o mercado aguardando o nível de agressividade dos presidenciáveis a partir da próxima semana”.

“Caso o Lula confirme o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o mercado iria gostar muito, com a confirmação da continuidade de uma agenda liberal”, opina Fraga.

Para o analista-sócio da Ajax Capital, Rafael Passos, “o resultado do emprego nos Estados Unidos reforça uma aceleração e faz com que o mercado comece a enxergar um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) menos hawkish (duro, propenso ao aumento dos juros”.

Ainda assim, Passos acredita em um aumento na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), e explica que o mercado agora prevê uma taxa terminal dos juros em 4,35%, abaixo dos 4,75% previstos anteriormente.

“O fator político tem influenciado. Isso gera uma volatilidade, mesmo com o quadro se desenhando mais favorável, com a agenda fiscal e continuidade das reformas favorecidas”, contextualiza Passos.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o câmbio reflete mais o Brasil que o cenário externo: “As alianças políticas de ambos os candidatos vão se concretizando, e as eleições caminham para uma condução relativamente mais saudável”, analisa.

Sanchez acredita que o número de pedidos do seguro-desemprego nos Estados Unidos, que foi a 219 mil na semana encerrada em 1 de outubro (as projeções eram de 203 mil), estão em linha com as expectativas, e que o problema no país é a inflação, que deve ser o foco do Fed.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas. A sessão foi pautada pelo temor de uma recessão global e pelas alianças políticas que estão sendo costuradas para o segundo turno das eleições brasileiras, que são classificadas como positivas pelo mercado.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,676% de 13,674% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,740%, de 12,755%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,560%, de 11,540% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,345% de 11,345%, na mesma comparação.

No mercado internacional, os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com os investidores de olho no relatório de empregos norte-americano para setembro, que será divulgado amanhã e poderá sinalizar quais os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,15%, 29.926,94 pontos
Nasdaq 100: -0,68%, 11.073,3 pontos
S&P 500: -1,02%, 3.744,52 pontos

 

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA