Brasília – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso em defesa da democracia, nesta segunda-feira, na cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), última etapa do processo eleitoral. Lula chorou ao dizer que chega ao Palácio do Planalto pela terceira vez, mas não tem diploma universitário.
“Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário – o diploma de presidente da República”, afirmou Lula, agradecendo pela “honra de presidir pela terceira vez o Brasil”.
Ao entrar no plenário do TSE, o presidente eleito foi saudado com “boa tarde, Lula” por petistas que participaram da vigília na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ficou preso por 580 dias.
O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, abriu a sessão especial de diplomação pouco depoias das 14h, com um plenário lotado. Lula e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin foram conduzidos ao local por ministros do TSE.
Entre os presentes estavam os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Supremo Tribunal Federal, ministra Rosa Weber, e do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, além dos ex-presidentes da República José Sarney e Dilma Rousseff.
PAÍS JUSTO
O presidente eleito reafirmou o compromisso de governo de “fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo os mais necessitados”.
Segundo Lula, a diplomação do presidente eleito é a celebração da democracia, tão ameaçada neste momento no Brasil. “Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida”, afirmou.
Para o presidente eleito, a democracia precisa ser semeada, cultivada, cuidada e defendida para que seja seja generosa a todos. “Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam, a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder”, disse.
“Felizmente, não faltou quem a defendesse neste momento tão grave da nossa história”, destacando “a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular”.
Conforme Lula, os ministros das duas Cortes agiram com “firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis”. “A história há de reconhecer sua coerência e fidelidade à Constituição”, completou.
VISÕES DE MUNDO
Para Lula, a eleição presidencial de 2022 mostrou uma disputa entre visões diferentes de mundo e de governo. “De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história”, afirmou.
“Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo”, completou Lula, citando os ataques às urnas eletrônicas feitos pelo presidente Jair Bolsonaro, que não teve o nome pronunciado pelo presidente eleito.
Além disso, Lula afirmou que seus adversários tentaram impedir os eleitores de chegar aos locais de votação, comprar votos “com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público e intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores”.
Em vez de debater programas de governo, segundo Lula, a população brasileira “envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais”. “Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa história. E no entanto, a democracia venceu”, completou.
FRENTE AMPLA
O presidente eleito afirmou que teve o apoio de 14 partidos políticos. “Tenho consciência de que essa frente se formou em torno de um firme compromisso: a defesa da democracia, que é a origem da minha luta e o destino do Brasil”, afirmou.
Segundo Lula, o Gabinete de Transição Governamental identificou um “deliberado processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional”. Para o presidente eleito, “o legado perverso” atinge especialmente a população vulnerável.
Lula afirmou que as ameaças à democracia não são exclusivas do país, mas vêm crescendo na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos. “[Os inimigos da democracia] usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável”, afirmou. “A máquina de ataques à democracia não tem pátria nem fronteiras”, completou.
O presidente eleito defendeu a liberdade de expressão, mas condenou a difusão de “mentiras e manipulações que levam ao ódio e à violência política”. Para Lula, seu governo terá o papel de fortalecer a democracia no Brasil e nas relações multilaterais.
“Precisamos de instituições fortes e representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba aventuras autoritárias. Precisamos de coragem”, afirmou.
PARTICIPAÇÃO POPULAR
Lula defendeu a participação popular nas decisões do governo. “É preciso entender que democracia é muito mais do que o direito de se manifestar livremente contra a fome, o desemprego, a falta de saúde, educação, segurança, moradia. Democracia é ter alimentação de qualidade, é ter emprego, saúde, educação, segurança, moradia”, afirmou.
“Quanto maior a participação popular, maior o entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo”, completou.
Para o presidente eleito, a democracia só será defendida pela população em geral se promover a igualdade de direitos e oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, cor, crença religiosa ou orientação sexual.
“É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro”, afirmou.