Negócios em dólar papel desabam em corretoras diante do coronavírus

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São Paulo – A pandemia provocada pelo novo coronavírus atingiu em cheio o turismo global em meio ao isolamento social e ao fechamento de fronteiras. Além da aviação e da hotelaria, a negociação da moeda em papel nas corretoras foi fortemente impactada não apenas pela pausa no setor, como também pela disparada do dólar, que sofre os efeitos da pandemia desde meados de janeiro e sobe quase 45% no ano.

“O turismo desacelerou fortemente diante o fechamento de fronteiras agregado a alta da moeda, algo que só deve se recuperar gradualmente a partir do momento que as economias forem sendo reabertas”, comenta o operador de uma corretora paulista que prefere não se identificar. Ele destaca que não só as mesas de turismo foram prejudicadas, como também as casas de câmbio. “Todas estão fechadas com o isolamento social”, diz.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as medidas preventivas na tentativa de controle da disseminação do novo coronavírus foram adotadas na terceira semana de março. Desde então, as vendas da moeda em papel caíram “drasticamente”, afirmam os profissionais das corretoras ouvidas pela Agência CMA. Na Europa e nos Estados Unidos, o isolamento social foi adotado uma semana antes.

Na corretora onde o operador trabalha, as mesas de dólar turismo foram incorporadas às mesas de negociação de dólar comercial. “A unificação das mesas foi a forma encontrada para minimizar impactos. Houve também realocação de profissionais em outras áreas. Infelizmente, essa reorganização não foi possível para todos devido a fraca demanda observada no turismo”, acrescenta.

O diretor de câmbio do grupo Ourominas, Mauriciano Cavalcante, pondera que, com a queda na venda de dólar turismo, a diversificação de serviços foi “essencial” para o trabalho da corretora nas últimas semanas. Além dos negócios por meio de vendas eletrônicas.

“Estamos conseguindo passar pela crise. A venda online tem ajudado muito. Como já fazíamos isso, não tivemos tanto impacto. Nosso serviço de entrega [delivery] aumentou significativamente”, diz Cavalcante. Ele explica que a fidelização de clientes nos últimos anos contribuiu para o percentual de vendas da moeda ainda “sustentar” a corretora.

“A nossa venda caiu, mas nós aumentamos a compra de outras pessoas. Ou seja, de turistas [pessoas físicas] que não estão viajando. Nisso, conseguimos manter um ganho com a alta da moeda”, diz. Cavalcante explica que o “montante” adquirido com esses clientes reverte em venda para investidores. “Estamos tendo liquidez porque também vendemos para bancos”, reforça.

Já Ricardo Gomes, diretor da corretora paranaense Correparti, declara que a demanda por moeda em papel “foi para o chão”, já que a não há procura por dólar e nem por outra moeda. “Aqui, a demanda caiu 100% porque é sempre para viagem. Mas não teve impacto nas nossas operações porque quem geralmente compra são nossos clientes e com eles temos outros tipos de contratos”, salienta.

O economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa, estima que 80% dos negócios em dólar papel são destinados para o turismo. Ele reforça que, com viagens suspensas e forte valorização da moeda, quem tinha dólar para vender teve ou está tendo dificuldade para negociar já que as casas de câmbio estão fechadas.

“O mercado está instável e quem está comprando ou vendendo, está sem parâmetro de preço. Ninguém compra e ninguém vende, principalmente, quem cancelou viagem e não encontra casa de câmbio. Aqui, o telefone não toca há 15, 20 dias. Perto do período de férias, normalmente, o telefone não para”, comenta.

De acordo com a corretora Travelex Confidence, clientes que, anteriormente compravam dólar para turismo, estão aproveitando a valorização para trocar a moeda estrangeira por reais. Com isso, cerca de 80% do volume de operações de moeda em espécie da rede já são dessa natureza. Em 2019, o volume desse mesmo tipo de operação representava 20% da demanda por moeda.