No primeiro pregão do ano, Bolsa fecha em queda de 3,06% com preocupação à fala de Lula e medidas do novo governo; dólar sobe

895

São Paulo – No primeiro pregão do ano, a Bolsa fechou em queda de 3,06% em um dia sem o mercado norte-americano devido ao feriado de ano novo, mas com os investidores locais reagindo às falas, da véspera, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua posse, prorrogação da desoneração dos combustíveis e temor de maior intervenção do Executivo nas estatais.

Somado o discurso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre responsabilidade fiscal não convence o mercado. As ações da Petrobras e do Branco do Brasil tiveram forte perda. Petrobras (PETR3 e PETR4) desvalorizou 6,66% e 6,44%. Banco do Brasil (BBAS3) caiu 4,23%.

O principal índice da B3 caiu 3,06%, aos 106.376,02 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 3,07%, aos 107.700 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,9 bilhões.

Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, disse que o mercado reage às falas de Lula na posse e do ministro da Fazenda hoje “Lula criticou a reforma trabalhista, a privatização das estatais e chamou de estupidez o teto de gastos; Haddad fala com tom de conciliação e de diálogo inclusive citando cuidado com os gastos, mas parece que o mercado não está gostando da falta de clareza dos caminhos e das ações concretas; os investidores temem atuação do governo nas estatais”.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse a Bolsa cai forte refletindo o discurso de posse do novo presidente. “Sem a referência dos EUA, o local está mais receoso com o novo governo; Lula criticou o teto de gastos e prorrogou a isenção dos combustíveis, quando no final do ano Haddad tinha solicitado ao Guedes [ex-ministro da Economia] que não estendesse a desoneração, porém Lula passou caneta na frente; Petrobras e Banco do Brasil recuaram”.

Guilherme Paulo, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que as estatais estão pressionando a Bolsa para baixo com as falas recentes do presidente da República. “O mercado teme que de fato quem vai comandar a companhia e o banco será o Executivo, por mais que as nomeações tenham sido medianas de Jean Paul Prates [Petrobras] e Tarciana Medeiros [BB]”.

O operador de renda variável da Manchester também comentou que os investidores refletem as medidas do novo governo. “O Haddad disse que não aceitará déficit de R$ 220 bilhões em 2023, mas o mercado está receoso, quer ver como funcionará na prática, se será como no primeiro mandato de Lula”.

No pregão de hoje, segundo Paulo, o mercado busca “conservadorismo” como ativos do setor de energia elétrica, principalmente que não têm endividamento, empresas posicionadas no exterior ou exportadoras-setor de celulose, óleo em gás e siderurgia. Suzano (SUZB3) e Vale (VALE3) foram destaque de alta, subiram 1,53% e 0,58%.

Os papéis da Meliuz (CASH3) estão entre as maiores altas do índices-3,38%- por conta de um acordo, na semana passada, com o Banco Votorantim.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, comentou que a sinalização sobre a medida da desoneração dos combustíveis desagradou o mercado. “É um indicativo ruim, qualquer dúvida que tiver, provavelmente vai pender para o populismo e não para a responsabilidade fiscal”. O analista se refere ao discurso de Haddad na semana passada que foi bem recebido pelo mercado quando disse que não haveria prorrogação da isenção dos impostos sobre os combustíveis.

Komura afirmou que hoje Haddad disse que tem que ficar de olho no social, mas “o social não é descasado com o fiscal, na verdade eles andam juntos, você só tem recurso para o social se tem um fiscal ajuste e aí está o problema na visão do mercado”.

O mercado não recebeu bem o nome de Prates como CEO da empresa, que defende a mudança na política de preços da companhia. “A pior parte da Petrobras é a mudança na paridade e ela pode voltar a ter prejuízo”.

Na sessão de hoje, os estrangeiros estão otimistas com Bolsa e os investidores locais totalmente pessimistas. “Prevalece o investidor doméstico, mas esse movimento de venda pode ser exagerado”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,357 para venda, com valorização de 1,47%. Às 17h05min, o dólar futuro para fevereiro tinha alta de 1,29% a R$ 5,390. As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a extensão da isenção de PIS e Cofins para os combustíveis foram mal recebidos pelos investidores e determinaram a elevação da moeda americana.

Ontem, em seu discurso, Lula reforçou a revogação do teto de gastos, o uso de bancos públicos e empresas estatais como principal indutor do desenvolvimento econômico local e antecipação de uma revisão de marcos (como reforma trabalhista). Sinalizou ainda um freio no processo de privatizações.

Segundo Rafael Passos, economista da Ajax Capital, o discurso de Lula é contrário à agenda fiscal mais rigorosa, em meio a um ambiente de gastos públicos maiores e incertezas de como será feita a recomposição de receitas.

“Estas propostas, conforme o volume e intensidade a serem adotados, causam preocupação pelos seus impactos negativos nas contas públicas, na eficiência de alocação dos recursos e na política monetária, disse Passos”. O cenário local seguirá desafiador no curto prazo, completou.

Já Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, lembrou que o discurso duro na posse mostra que o governo deve intervir nas estatais.

“A gente vê um fluxo de saída de dólar do investidor local, o que já tínhamos visto em dezembro, disse. O investidor estrangeiro já conhece o presidente, precisamos ver como será a reação durante a semana, com a volta do feriado no exterior”, afirmou.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, comentou que a sinalização sobre a medida da desoneração dos combustíveis desagradou o mercado. “É um indicativo ruim, qualquer dúvida que tiver, provavelmente vai pender para o populismo e não para a responsabilidade fiscal”. O analista se refere ao discurso de Haddad na semana passada que foi bem recebido pelo mercado quando disse que não haveria prorrogação da isenção dos impostos sobre os combustíveis.

Komura afirmou que hoje Haddad disse que tem que ficar de olho no social, mas “o social não é descasado com o fiscal, na verdade eles andam juntos, você só tem recurso para o social se tem um fiscal ajuste e aí está o problema na visão do mercado”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte alta, assim como o dólar, com mercado digerindo falas do presidente Lula durante solenidade de posse, no último domingo (1).

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,520% de 13,440% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,910%, de 12,685%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,860%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,890% de 12,625% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,3610 para venda.

Pedro do Val de Carvalho Gil / Dylan Poitevin Della Pasqua