Nova revisão do PIB pelo FMI mostra que crescimento do Brasil é sustentável, diz Haddad

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e André Roncaglia, diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), concedem entrevista à imprensa em Washington D.C.. Foto: Diogo Zacarias/MF (22/10/2024).

São Paulo, 22 de outubro de 2024 – De acordo com André Roncaglia, diretor-executivo do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), a atualização da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para um crescimento de 3% neste ano, foi a primeira vez que o fundo fez o maior ajuste da previsão de crescimento para todos os países que ele acompanha, incorporando os efeitos de várias políticas que o governo brasileiro vem adotando ao crescimento da economia. O FMI aumentou a previsão de crescimento em 0,9 ponto percentual para esse ano, o maior em toda a amostra do fundo.

“Para o fundo, é um reflexo das medidas que vem sendo tomadas do ponto de vista fiscal, mas também efeito dos investimentos e gastos que o governo vem fazendo na recuperação do Rio Grande do Sul e também o próprio efeito da reforma tributária sobre as expectativas da economia e da melhoria do ambiente de negócios”, afirmou Roncaglia, em entrevista a jornalistas nesta terça-feira, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está em Washington D.C. (EUA) para participar das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial. Na agenda de hoje, estava prevista uma reunião bilateral com Ajay Banga, presidente do Banco Mundial.

Haddad disse que “é importante lembrar que o FMI refez a projeção do PIB potencial brasileiro muito recentemente. O nosso PIB potencial estava lá trás e na última projeção passou para 2,5%. Essa revisão no fim do ano demonstra que a economia está crescendo, com uma inflação relativamente controlada, é sinal de que nós temos um potencial de crescimento sustentável, que não é uma coisa que vai acontecer esse ano e, daqui a pouco, para. Nós temos toda a condição de continuar crescendo.”

O ministro da Fazenda disse que o estímulo fiscal foi muito menor em 2024 do que no ano passado, mas a economia cresceu mais nesse ano do que em 2023, o que não confirma a visão de que a economia brasileira só cresce por receber incentivos do governo.

“Entendo que [o crescimento] depende de uma série de variáveis que precisam ser ajustadas até o final do ano, mas não é verdade que o Brasil está crescendo por estímulo fiscal”, comentou Haddad, em resposta a questionamento sobre o assunto.

Ele disse que o déficit fiscal do 2023, em função do pagamento de calotes do governo passado é 3 vezes superior ao programado para esse ano, segundo as projeções do mercado, e não obstante a economia está crescendo mais.

Haddad disse que a reunião em Washigton foi um convite da Casa Branca e que o G20 e as reuniões bilaterais estiveram entre os temas tratados no encontro.

O ministro disse que também foi abordado o tema do potencial da América do Sul em relação aos minerais críticos, mas que não foi um tema da reunião. “Os americanos sabem do potencial da América do Sul, em geral, com relação aos minerais críticos, mas não foi tema. Falou-se disso, mas falou muito da participação dos Estados Unidos na transformação ecológica brasileira, coisa que o Brasil tem insistido desde o começo do ano passado, desde a primeira reunião bilateral entre os presidentes.”

Na avaliação do Haddad sobre as conversas, “tudo é um pouco lento, mas o potencial de parceria é muito grande”.

Em relação ao futuro das negociações com o próximo governo dos Estados Unidos, o ministro avalia que as questões climáticas devem pautar as decisões futuras. E que o Brasil respeitará o resultado eleitoral, qualquer que seja.

“Eu acredito que a questão climática, que tem sido objeto de disputas ideológicas muito grandes, está se impondo de uma tal maneira que não se trata mais de saber quem está certo. Trata de reconhecer as evidências que a ciência expõe todos os dias revela que algo pelo planeta vai ter que ser feito. O que se espera de governos responsáveis é que eles cedam às evidências pela urgência do que é preciso fazer.”

Por fim, sobre o resultado da arrecadação divulgado hoje, Haddad voltou a dizer que “a base fiscal do Estado brasileiro foi corroída de 2014 a 2022, muito fortemente” e que é preciso recompor essa base fiscal, até por que as despesas herdadas, para as quais não havia fonte de financiamento, terão que ser pagas.

“Precisamos recompor essa base fiscal, ao mesmo tempo que restringimos as despesas que devem cair como proporção do PIB, se o PIB continuar crescendo acima dos 2,5%, que é o teto do arcabouço fiscal. Esse é o nosso objetivo.”

O ministro da Fazenda não quis adiantar as medidas que devem ser anunciadas em relação a um possível corte de despesas, apenas disse que tem reuniões agendadas com ministros e com o presidente Luís Inácio Lula da Silva para tratar do assunto. “Temos um longo caminho a percorrer”, disse.

“Agora, está acontecendo uma convergência entre despesas e receitas, coisa que não acontecia desde 2015. E agora, sem maquiagem”, concluiu.