São Paulo- Após três dias consecutivos em alta, a Bolsa fechou em queda de 3,38%, aos 102.224,26 pontos, em um dia de forte aversão ao risco global com a notícia da descoberta da nova variante da covid-19, ômicron, na África do Sul, mostrando que a pandemia não acabou. O temor dos investidores é de que a cepa possa desencadear problemas econômicos com os novos contágios. Na semana, o Ibovespa encerrou com recuo de 0,78%.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a nova variante é preocupante devido às várias mutações. A Bélgica informou, hoje, que foi identificado o primeiro caso de contaminação pela cepa.
As ações listas em Bolsa sofreram com o impacto negativo, apenas dois papéis fecharam em alta-Suzano da Suzano (SUZB3) e Taesa (TAEE11) com ganho de 0,14% e 0,11%, nessa ordem. As maiores baixas do índice ficaram para as empresas ligadas ao turismo, como as companhias aéreas-Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) – e a CVC CVCB3), caíram 11,81%; 14,18% e 11,06%, respectivamente.
O petróleo Brent recuou mais de 11% refletindo nos papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4), que perderam 4,36% e 3,88%.
Alexsandro Nishimura, head de conteúdo e sócio da BRA, comentou que as ordens de venda predominaram aqui e no exterior com o temor em relação à variante encontrada na África do Sul, mas ainda não dá para dizer que a cepa “vai reagir às vacinas ou como os países vão lidar caso haja novas ondas de contaminação”.
João Addouni, especialista em investimentos da Inversa Publicações, comentou que em um primeiro momento o Ibovespa acompanha a queda global e fica assustado com um possível lockdown, mas enxerga um movimento mais otimista para o mercado de ações. “Como a nossa Bolsa já está mais barata, estão sendo tomadas ações para conter a inflação, com taxa de juros subindo, além de o déficit fiscal estar mais controlado que o restante do mundo, como se estivéssemos à frente em todas as etapas, vamos observar nos próximos meses que a Bolsa deve performar melhor em relação ao resto do mundo”.
O especialista em investimentos da Inversa Publicações comentou que, até então, as variantes novas foram combatidas pelas vacinas e no Brasil a vacinação está adiantada, diferentemente da Europa e Estados Unidos que têm mais resistência à imunização. “Se as pessoas que foram vacinadas aqui tiverem defesa para essa variante, ficamos tranquilos, mas se a cepa for superior aos imunizantes já aplicados, a situação fica complicada”.
Segundo José Costa Gonçalves, analista da Codepe Corretora, a Bolsa abre em queda com os impactos que mais uma variante pode causar globalmente. “Essa nova variante assusta o Brasil e o mundo e o impacto é forte no mercado financeiro porque fica o fantasma de um novo lockdown, principalmente na Europa, que já enfrenta restrições, e devido à experiência passada pode fechar ainda mais”.
O analista da Codepe Corretora comentou que se a Europa fechar, o PIB pode cair e provocar uma recessão, no entanto, mas pode aliviar a inflação, cai preço do minério, gás, petróleo”. E por aqui, “devemos ficar atentos ao carnaval para não repetir os problemas europeus”. Na sessão de hoje haverá fortes ajustes nos ativos e “a preocupação com a variante pode ser um fator para retardar o aumento de juros nos Estados Unidos”.
Embora a situação da variante seja preocupante, Gonçalves salientou que esse cenário pode trazer excelentes oportunidades para os investidores, “se ganha na compra e não na venda”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,5950, com alta de 0,53%. A moeda norte-americana foi fortemente influenciada pelo surgimento da nova variante da Covid, na África do Sul, o que afetaria a recuperação econômica global.
Segundo a analista da Toro Investimentos, Stefany Oliveira, “a primeira reação com a nova variante foi de susto, mas agora o investidor entende que estamos muito mais preparados do que antes, a começar pela vacinação”.
Oliveira não acredita que nesta sexta os fatores domésticos sejam relevantes: “O dólar é o lugar de fuga quando existe cenário de risco. A protagonista de hoje é a nova variante”, enfatiza.
De acordo com o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “além da nova variante da Covid, a inflação nos Estados Unidos mostra que o Fed terá de aumentar os juros antes do previsto, talvez no próximo semestre”.
Nagem acredita que os problemas são tão sérios quanto os externos: “O dólar dificilmente vai ficar abaixo dos R$ 5,30, até reverter a parte fiscal.
Até agora ninguém sabe responder se realmente estourou o teto. A regra do jogo mudou e quem garante que não irá mudar novamente?”, questiona.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “a nova variante da Covid gerou um aumento da percepção de risco, reforçando a percepção de inflação global, o que postergaria a recuperação da cadeia logística. Isso causa uma valorização do dólar”.
Por outro lado, o cenário doméstico continua repleto de incertezas, capitaneadas pelos precatórios: “A percepção do mercado para a aprovação da PEC mudou, é de que o planalto não tem votos suficientes para a votação da próxima semana”, pontua Abdelmalack.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda, apesar do dólar em alta, o que pressionaria a inflação, mas com sinais de que a nova variante do coronavírus pode escapar da cobertura vacinal. o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,700% de 8,714% no ajuste anterior;
O DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,900%, de 12,095%; o DI para janeiro de 2025 ia a 11,730%, de 11,860% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,710% de 11,810%, na mesma comparação.
Os principais índices de mercados de ações norte-americano fecharam a sessão em queda brusca, de mais de 2%, após a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertar sobre a circulação de uma nova variante do coronavírus detectada na África do Sul. O pregão fechou mais cedo devido ao feriado de Ação de Graças.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -2,53%, 34.899,34 pontos
Nasdaq Composto: -2,23%, 15.491,7 pontos
S&P 500: -2,27%, 4.594,62 pontos