Novas gestões de estatais tentam afastar medo de interferência política

A mensagem dos presidentes do Banco do Brasil, Petrobras e da Eletrobras foi de continuidade de programas de gestões anteriores, apesar das críticas de Bolsonaro a algumas medidas tomadas pelas administrações que foram substituídas

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São Paulo – Os novos presidentes de algumas das principais estatais brasileiras – Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras -, que tiveram suas administrações trocadas recentemente após descontentamentos evidenciados pelo presidente Jair Bolsonaro, tentaram afastar o receio sobre novas interferências políticas e prometeram continuar programas de eficiência de gestões anteriores, durante as suas primeiras comunicações com investidores nos últimos dias.

Os primeiros sinais foram positivos na avaliação de analistas ouvidos pela Agência CMA e há possibilidade de andamento de alguns planos em meio a uma pausa nas críticas feitas por Bolsonaro, que tem outros problemas no foco atualmente, como a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que avalia erros do governo no combate à pandemia. Porém, ainda há desconfianças entre agentes do mercado, que querem ver na prática como vão funcionar as novas gestões diante da imprevisibilidade do governo atual e de demais dificuldades do cenário.

“Me parece que o Bolsonaro não tem mais tanto gás para continuar interferindo em estatais, gastou muitas cartas que podia usar nessa área. Esse embate já causou um desgaste, que pode enfraquecê-lo. Isso faz com que possamos pensar em uma menor interferência daqui para frente, pelo menos, que não haverá novas mudanças radicais como trocas de presidente, mas isso não significa que haverá independência”, acredita o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.

O analista lembra que, apesar dos desgastes já trazidos, o estilo do presidente faz com que não sejam totalmente descartadas novas declarações polêmicas e interferências em questões mais centrais, como na política de preços de combustíveis da Petrobras, por exemplo. O presidente já fez diversas críticas à política atual, baseada nos preços internacionais do petróleo, que têm se recuperado. Os preços dos combustíveis têm impacto na inflação e recorrentemente trazem receios de greves de caminhoneiros.

Porém, o general Joaquim Silva e Luna, que assumiu a presidência da Petrobras no lugar de Roberto Castello Branco, disse na sua posse, no dia 14 de abril, que “a paridade internacional de preços será respeitada”, além de afirmar que o plano estratégico da Petrobras já sinaliza as linhas mestras a serem seguidas. Na ocasião, as ações da petrolífera reagiram positivamente. No último dia 30 de abril, a estatal anunciou a primeira mudança de preços dos combustíveis da nova presidência, com redução nos preços de 1,89% da gasolina e 1,81% do diesel.

A expectativa, agora, é pelo resultado do primeiro trimestre de 2021 da Petrobras, que será divulgado na próxima quinta-feira (13) após o fechamento do mercado. Investidores devem também devem acompanhar de perto as primeiras palavras de Luna na teleconferência de resultados na sexta-feira (14).

BANCO DO BRASIL

O analista de bancos da XP Investimentos, Marcel Campos, também destaca que “é difícil prever o que o governo pensa” e saber se haverá novas interferências ou não, já que “é um sócio muito instável” para as estatais, mesmo tendo avaliado como bastante positivo o discurso do novo presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro, na sua primeira teleconferência de analistas na última sexta-feira (7).

“Na nossa visão, a teleconferência foi muito positiva. O Fausto já tinha dado uma sinalização de que poderia ir por esse caminho numa carta para os funcionários. Diante da saída do antigo presidente, a surpresa em relação ao posicionamento do banco é positiva. Mas temos que ver se a prática vai estar alinhada ao discurso”, afirmou.

Fausto Ribeiro se preocupou em passar a mensagem de continuidade à estratégia já aprovada pelo banco, renovando o compromisso com os cortes de despesas anunciados, o que inclui o fechamento de agências iniciado pela gestão de seu antecessor, André Brandão. O plano de reestruturação e redução de gastos anunciado por Brandão também já levou à demissão de cerca de 5 mil funcionários em meio à pandemia, medidas que desagradaram Bolsonaro.

“5 mil e poucos funcionários já saíram do banco, nem tem como voltar atrás. Em relação à meta do ano de fechamento de agências, ela era exatamente essa [de cerca de 300 agências] e já estamos bem adiantados. Em relação ao futuro, a nossa rede quem determina é a base de correntistas, é determinante para saber se vai ser alterada lá na frente”, disse Ribeiro na teleconferência, ao ser questionado sobre as medidas.

Já sobre possíveis interferências políticas na sua gestão e nas mudanças na cúpula do banco que está fazendo, Ribeiro afirmou que a interferência “é zero”, mas que busca melhorar a comunicação com o governo sobre as medidas que estão sendo feitas.

Os analistas do Bank Of America (BofA), Mario Pierry e Giovana Rosa, afirmaram que as palavras do novo presidente do banco foram “reconfortantes”, mas lembraram que além do recente receio de interferências, também há alguns questionamentos sobre a capacidade de Ribeiro de cumprir tais metas em função “da baixa experiência em administração em uma grande instituição”, alta rotatividade na presidência e de mudanças no conselho de administração.

“Embora o Sr. Ribeiro tenha 33 anos de carreira no Banco do Brasil, ocupou cargos menos expressivos e, mais recentemente, foi chefe da unidade do Consórcio”, afirmaram, em relatório.

ELETROBRAS

O recado também foi de continuidade da gestão anterior na posse do novo presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp Nascimento, na última sexta-feira (7), com encaminhamento da capitalização e privatização da estatal, mensagens reforçadas pelo presidente do conselho, Ruy Flaks Schneider, e pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

“Daremos prosseguimento às estratégias da empresa, tanto na racionalização das participações societárias, como na geração de valor. O setor elétrico demandará R$ 300 milhões em investimentos e a companhia precisará estar capitalizada para dar avanço a essas iniciativas”, disse.

O ministro, também presente na cerimônia de posse, disse que há total confiança em Limp e que a estatal precisa seguir sem amarras do Estado. “O novo plano decenal estima investimentos de R$ 360 milhões em “geração e transmissão e a Eletrobras deve seguir suas concorrentes para se capitalizar e trabalhar sem as amarras do Estado”.

Limp substituiu Wilson Ferreira Júnior, que foi muito elogiado pelo mercado e se mostrou frustrado com a lentidão na condução do processo de privatização da estatal, que também encontra resistências no Congresso Nacional.

Danielle Fonseca e Cynara Escobar / Agência CMA