Oferta de crédito será mais apertada por cenário de juros elevados, diz CEO do Bradesco

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São Paulo – O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse que as previsões para o segmento de atacado estão baixas mas que espera uma normalização ao longo de 2023, mesmo considerando o atual cenário em que as empresas estão sinalizando maior endividamento, reestruturação de dívidas e alguns pedidos de recuperação judicial. Mas a expectativa para o segmento especializado no atendimento de grandes empresas é de um cenário mais apertado por conta das taxas de juros elevadas.

“O banco tem quase R$ 58 bilhões provisionado, o que consideramos um bom nível de proteção para possíveis instabilidade”, disse o presidente executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, em entrevista a jornalistas na manhã desta sexta-feira.

Ele não considera que as empresas brasileiras são muito alavancadas e que o cenário de juros altos no país está intensificando o nível de inadimplência corporativo.

Lazari disse que espera que o governo e o Banco Central encontrem um ponto de convergência e foco para resolver as conversas relacionadas à inflação e taxa de juros.

Sem mencionar o nome da Americanas, o presidente do Bradesco disse que o caso específico que trouxe a dívida decorrente de operação de risco sacado, e que no balanço do Bradesco foi provisionado em R$ 4,9 bilhões referente a 100% de exposição neste caso, ele disse que foi uma fraude, um caso isolado e que o risco deste tipo de operação é pontual. As operações de risco sacado são feitas há muitos anos e não trazem inadimplência. É claro que quando aconteceu esse caso específico, começamos a revisitar processos e a governança nessas operações, mas a carteira de risco sacado é sadia, disse Lazari Jr.

“Essas operações são feitas há muito anos e não consideramos a possibilidade de extingui-las por conta de um caso específico”, acrescentou.

Ao final do exercício de 2022, o Bradesco registrou lucro líquido de R$ 20,7 bilhões, apesar da provisão integral para um cliente específico. O resultado foi apresentado na noite de quinta-feira após o fechamento do pregão.

Segundo o Bradesco, o resultado foi afetado pelo impacto negativo da margem com o mercado aumento da inadimplência no crédito para o segmento massificado de pessoas físicas e jurídicas em razão da alta da inflação, que afetou a renda dos clientes; e, adicionalmente, uma provisão de R$ 4,9 bilhões referente a 100% de exposição de crédito para um cliente específico do atacado.

Os segmento de pessoa física, baixa renda e pequenas empresas tiveram o poder de compra corroído e o Bradesco espera a continuidade desse cenário em 2023. “Acho que concedemos mais crédito do que deveríamos durante a pandemia, que fica de aprendizado. Mas estamos ajustando, diminuindo o apetite a risco, trabalhando a recuperação de crédito e, no tempo, pelo menos até o fim do primeiro semestre, esperamos um fechamento de curva de inadimplência”, disse Lazari.

O banco também anunciou o fechamento de 200 a 250 agências, que serão ajustadas para reduzir custos e melhorar a rentabilidade.

Guidance é ponto de partida, esperamos superar

Nesta sexta, em conferência com o mercado, o presidente do Bradesco, Octávio de Lazari Jr., disse que o guidance (projeções) apresendo ontem à noite é um ponto de partida e que buscará superar. Em suas perspectivas para 2023, o Bradesco projeta um crescimento da carteira de crédito total entre 6,5%-9,5%; uma NII de clientes com crescimento entre 7,0%-11%; um crescimento das Receitas de Seguros entre 6,0%-10,0% e um custo do crédito entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões.

“O guidance é ponto de partida, não ponto de chegada. Ele está bem crítico, bem correto, mas nossa expectativa é buscar superar”, disse o presidente do Bradesco, na apresentação de resultados aos investidores e analistas, finalizada a pouco.

Segundo executivo, o foco em alta renda, na melhora do nível de investimentos dos clientes e do crescimento em seguros, o banco espera retomar o nível de rentabilidade ao redor de 18%.

O CEO disse que espera retornar ao ROAE de 18% ou acima disso nos próximos meses – o indicador caiu para 13,1% em dezembro de 2022, queda de 5 pp em 12 meses. “Os resultados de ALM, com diferença de quase R$ 11 bilhões, é difícil reverter. Já em PDD, pela nossa presença em todo o Brasil, exposição à baixa renda e microempresas, fomos mais afetados por inadimplência, então tivemos que fazer ajustes, mas as novas safras já mostram comportamento melhor.”

O Bradesco disse que pretende usar todo o benefício do pagamento de juros sobre capital próprio e que eventos como a regulamentação do RWA [mudança que o Banco Central deve fazer na exigência de patrimônio mínimo baseado no valor dos ativos ponderados pelos riscos das atividades diversas], por isso considera que, mesmo com o cenário macro mais desfavorável por juros altos, inflação e inadimplência, espera maior expansão do capital.

O executivo confirmou a entrada de Guilherme Leal na diretoria voltada ao atendimento de clientes de alta renda.

SEGUROS

O diretor da área de Seguros disse que espera crescer entre 6% e 10% em 2023, com foco na sustentabilidade do negócio e expansão dos negócios em previdência, seguros e capitalização, com produtos novos. “Depois da pandemia, passamos a ter maior procura em previdência. Em saúde, aumentamos a nossa base e atingimos 4 milhões de segurados, voltando ao patamar pré-pandemia. Também tivemos crescimento em seguro residência, com o aumento do home office”, disse o executivo.

A empresa lançou um novo produto com foco na área do Pantanal e espera ter bons resultados com a sua comercialização.

AÇÃO DESPENCA APÓS NÚMEROS

As ações do Bradesco abriram o pregão desta sexta-feira em forte queda e encerraram os negócios entre as piores baixas do Ibovespa após a divulgação de resultados avaliada negativamente pelos analistas. Os papéis BBDC3 e BBDC4 caíram 6,07% e 8,18%, a R$ 11,59 e R$ 12,67. O Ibovespa subia 0,06% às 18h17 (de Brasília).

A XP disse esperar uma reação negativa para a ação do Bradesco e manteve sua visão conservadora sobre o banco, após os resultados do 4T22 divulgados na noite de ontem (10/2) pelo banco, que considerou fracos em grande parte devido à considerável provisão relacionada a um evento subsequente (provavelmente o caso da Americanas). Este fato arrastou seu lucro líquido para R$ 1,6 bilhão (-69% A/A e 62% abaixo de nossa projeção), implicando um ROAE de 3,9% no quarto trimestre. Além disso, sua inadimplência continuou crescendo e pressionando seus resultados trimestrais, aponta a XP.

“Pelo lado positivo, sua exposição à Americanas já está totalmente provisionada, eliminando assim possíveis impactos deste caso em 2023. Adicionalmente, sua margem de lucro de mercado apresentou alguma melhora T/T e os resultados de seu segmento de seguros melhoraram consideravelmente”, disseram os analistas da XP, em relatório a clientes.

Para Jader Lazarini, analista CNPI da Agência TradeMap, o resultado do período foi ruim, mesmo considerando que o Bradesco tenha apresentado toda a exposição ao risco de Americanas no balanço já no quarto trimestre, assim como o Itaú, deixando caminho livre para a operação de 2023, o resultado foi ruim.

“O índice de inadimplência acima de 90 dias subiu 1,5 ponto percentual em um ano, atingindo 4,3%. Ao mesmo tempo, em relação ao mesmo trimestre de 2021, o índice de cobertura caiu 56,7 pontos percentuais”, detalha o analista.

Ele também destaca que a carteira de crédito expandida terminou o ano passado em R$ 891,9 bilhões, avanço de 9,8% na comparação anual e crescimento de 1,5% ante o terceiro trimestre.

“A carteira de crédito para pessoas físicas, a mais arriscada, voltou a ganhar protagonismo e representou pouco mais de 40% do portfólio total do banco. O cartão de crédito saltou 27%, sendo responsábel por quase 20% de tudo o que se refere às pessoas físicas”, avalia.

Como o crescimento do banco pautado em crédito de risco, a qualidade do ofertado foi por água abaixo e o NPL de 90 dias do Bradesco agora se assemelha à do Nubank, que tem seu portfólio totalmente alocado em pessoas físicas.

Além disso, a projeção de 2022 não foi atingida em carteira de crédito e PDD expandida, inclui baixas contábeis em aplicações financeiras. A estimativa de margem com clientes foi superada, com a reprecificação dos empréstimos ao longo da alta da taxa de juros.

Para 2023, o banco não informou a estimativa para margem com clientes, diferentemente do que fez no ano passado, o restante do guidance é pouco animador. A carteira de crédito deve crescer abaixo de 10%, enquanto a PDD expandida deve ser ainda maior do que o ano passado, de no mínimo R$ 36,5 bilhões.

A Ativa Investimentos disse que o Bradesco reportou resultados ruins e que o banco continua sofrendo com o avanço da inadimplência em sua carteira, o índice subiu 0,4 p.p., para 4,3%. “Além disso, vemos um guidance fraco, que, embora esperado, nos surpreendeu negativamente no crescimento das despesas operacionais. Quando somamos esses fatores ao provisionamento de 100% da exposição do banco à Americanas, que por sua vez, é o maior entre seus pares, temos novamente um resultado abaixo das expectativas.”

A Genial Investimentos disse que, conforme apresentado em sua prévia do 4T22, já esperava um desempenho fraco do banco com um aumento substancial de provisões para crédito e resultado de tesouraria ainda negativo machucando o desempenho das receitas do banco. “Excluindo o impacto da Americanas, o lucro seria de R$ 4,26b com um ROE ainda fraco de 10,9%, em linha com nossas estimativas.”

“Não bastasse, o guidance anunciado para 2023 enfraquece qualquer esperança de uma recuperação rápida de rentabilidade no curto prazo. Acreditamos que eventualmente o ROE volte ao patamar de 18% somente em algum trimestre de 2024. No meio do faixa indicativa do guidance, estimamos a um lucro de apenas R$ 20,4b e ROE ainda anêmico de 12,7% para 2023, praticamente igual a 2022”, disse a Genial em relatório divulgado na manhã desta sexta-feira.

“Desse modo, apesar do valuation historicamente descontado de 0,91x P/VP 22 e 6,86x P/L 23E (meio do guidance), sem muitos motivos para nos animarmos no curto prazo, reiteramos nossa recomendação de MANTER. Acreditamos que o mercado reaja mal ao fraco resultado e ao guidance”, acrescentou a Genial.

A Genial aponta que os principais pontos de atenção no 4T22 do Bradesco são a provisão de 100% da dívida tóxica da Americanas; continuação do aumento da inadimplência, que deve atingir o pico no 2T23; margem com o mercado melhorando t/t, mas ainda longe do lado negativo; seguros com resultado robusto, fruto de melhora operacional e do financeiro Benefício fiscal do JCP ajudando o resultado.