São Paulo – A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou o tão aguardado relatório sobre as origens do novo coronavírus, indicando que é pouco provável que o SARS-CoV-2 tenha sido criado em laboratório. O documento, no entanto, não é conclusivo e as investigações devem continuar.
O documento é resultado de uma visita de 28 dias de especialistas da OMS feita em janeiro à província chinesa de Wuhan, onde o vírus foi inicialmente detectado em dezembro de 2019. Os especialistas pesquisaram laboratórios, hospitais e mercados em busca de pistas sobre as origens do vírus.
“A introdução por meio de um incidente de laboratório foi considerada um caminho extremamente improvável”, diz o relatório da OMS, indicando que os três laboratórios em Wuhan que trabalham com coronavírus são instalações de “alta qualidade e bem administradas”, sem nenhum registro de doença compatível ou indicações de infecção antes de dezembro de 2019.
Ainda assim, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu uma investigação mais aprofundada da hipótese de um possível incidente com o coronavírus SARS-CoV-2 de um laboratório chinês.
“Embora o grupo tenha concluído que um vazamento de laboratório é a hipótese menos provável, uma investigação mais aprofundada é necessária, provavelmente com missões adicionais envolvendo especialistas especiais que estou disposto a enviar”, disse Ghebreyesus.
Os especialistas da OMS que estiveram em Wuhan também disseram que é provável que o vírus tenha sido transmitido para humanos por meio de “um hospedeiro intermediário”.
“A introdução por meio de um hospedeiro intermediário é considerada um caminho provável”, diz o relatório.
Em coletiva de imprensa sobre o relatório, o chefe da investigação da OMS, Peter Ben Embarek, disse que ainda há muito trabalho a ser feito e que a investigação das origens do coronavírus SARS-CoV-2 ainda continuará.
“A China nos deu acesso a muitos dados, mas ainda não foi possível ter acesso total a essas informações, então o trabalho deve continuar e esperamos ter acesso aos dados completos em uma segunda etapa da investigação”, afirmou Embarek. “Estamos trabalhando em conjunto com o governo chinês”, acrescentou.
OUTROS CENÁRIOS
O relatório, resultado de um esforço conjunto de 17 pesquisadores chineses e 17 internacionais, também traz sugestões de como os outros cenários poderiam ser investigados. Essas recomendações incluem estudos fora da China – algo que Pequim há muito sugere que seria necessário à luz das teorias de que a covid-19 se originou fora de suas fronteiras.
O relatório fornece ainda uma visão sobre os esforços para entender o início do surto e encontrar casos anteriormente desconhecidos antes de dezembro de 2019, além de trazer detalhes sobre a busca por animais infectados que podem ter ajudado a transmitir o vírus.
O relatório recomenda mais amostragem de animais hospedeiros em potencial, como morcegos, na China e em outros países onde parentes virais próximos foram encontrados. O documento sugere pesquisas em fazendas de vida selvagem que eram conhecidas por abrigar morcegos portadores de vírus relacionados.
O relatório também observa que nenhuma evidência foi encontrada para transmissão substancial do coronavírus Sars-CoV-2 nos meses anteriores ao surto em dezembro de 2019, mas diz que essa hipótese ainda não poderia ser descartada.