Onda de IPOs perde fôlego com excesso de ofertas e piora na Bolsa

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Por Danielle Fonseca

São Paulo – Preços de ações abaixo ou no piso das faixas indicativas nas últimos ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) e a desistência de pelo menos três empresas recentemente apontam que o “boom” de IPOs e a demanda de investidores estão perdendo fôlego em setembro, embora o cenário de juros baixos prossiga e exista uma fila de 52 pedidos de abertura de capital em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O excesso de ofertas iniciais, em especial em setores como os de construção civil, e o quadro ainda de incertezas em meio à pandemia do coronavírus fazem investidores ficarem mais criteriosos e são os principais motivos que explicam o movimento, segundo os analistas ouvidos pela Agência CMA.

Das 16 ofertas iniciais já feitas este ano até hoje, quatro foram precificadas abaixo da faixa indicada pela empresa e cinco ficaram no piso da faixa. Outros quatro IPOs foram precificados no meio da faixa prevista e apenas três ficam no topo da faixa. Das quatro companhias que tiveram que colocar preços mais baixos para conseguir emplacar suas ofertas, todas ocorreram em setembro e três eram do segmento de construção.

São elas a Lavvi Empreendimentos Imobiliários, a Plano & Plano e a Cury Empreendimentos Imobiliários, todas do grupo Cyrela, além da rede de drogarias Pague Menos. A exceção este mês foi a abertura de capital da rede de pets shop Petz, que mostrou boa demanda e precificação no meio da faixa sinalizada, já a da Hidrovias do Brasil, que acabou de ser finalizada, foi precificada no piso da faixa indicativa.

Recentemente, algumas empresas também desistiram de lançar suas ofertas. Entre elas, a Riva 9 Empreendimentos Imobiliários, da Direcional, a You Inc Incorporadora, de acordo com veículos de imprensa, e o banco de investimentos BR Partners, que disse ontem que decidiu cancelar a oferta devido à forte volatilidade nas últimas semanas, preferindo esperar outra janela mais favorável.

“As últimas precificações foram bem ruins, talvez o exagero de ofertas em um mercado ainda frágil explique esse movimento”, disse o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino. Ele destaca a concentração de IPOs principalmente em alguns mercados e ausência de “dinheiro novo” para participar de ofertas.

Cozzolino lembra que no ano passado, que contou com alguns IPOs e ofertas subsequentes (“follow ons”) maiores, investidores estrangeiros entraram com maior participação. Já as ofertas deste ano são de porte um pouco menor e estão mais restritas a investidores locais, que já estão comprados também em outros papéis na Bolsa.

O especialista em ações da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães, é outro que destaca o exagero de IPOs, principalmente de empresas de construção. Já no caso da Pague Menos, a oferta concorreu com as de outras redes de farmácias como a oferta secundária da Panvel e a inicial da D1000, do grupo Profarma, realizadas em agosto.

“Investidores estão um pouco mais seletivos. Você vai por cinco incorporadoras em uma carteira de uma vez? Não faz muito sentido. No caso de subsidiárias, como as da Cyrela, às vezes faz mais sentido ficar posicionado na Cyrela mesmo, que já está na Bolsa, do que entrar em IPOs”, avalia.

Para Guimarães, é possível que ocorram novos cancelamentos, mas ainda vê boas ofertas podendo ocorrer em breve, embora a tendência seja as precificações “virem do meio para baixo” em relação à faixa indicativa.

O diretor de renda variável na Eleven Financial Research, Carlos Daltozo, por sua vez, explica que o processo de formação de preço de uma ação em um IPO leva em conta vários fatores, com os bancos que o organizam buscando equilibrar tanto os interesses das empresas quanto dos investidores institucionais e do varejo. Muitos investidores institucionais também buscam ancorar sua participação nas ofertas antes de elas serem feitas. No entanto, Daltozo reiterou, em live sobre o assunto, que “dada à quantidade de ofertas, o poder de barganha está maior do lado comprador”.

Apesar dos sinais de perda de fôlego, os analistas ainda afirmam que podem existir boas opções de investimentos e empresas em setores interessantes, independentemente até do aspecto preço.

“A Petz, por exemplo, veio em um preço justo, fez o seu dever de casa, tem um bom market share. Não adianta entrar em IPO querendo sair logo depois ou só entrar com o preço barato também, é importante pensar no futuro, no crescimento futuro da companhia”, acredita o sócio e head de produtos da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini.

Edição: Eduardo Puccioni (e.puccioni@cma.com.br)