São Paulo – O senador José Serra (PSDB-SP) considera que a operação deflagrada mais cedo pelo Ministério Público de São Paulo e pela Polícia Federal contra ele para investigar doações eleitorais não declaradas – caixa 2 – foi “abusiva”.
“O senador José Serra foi surpreendido esta manhã com nova e abusiva operação de busca e apreensão em seus endereços, dois dos quais já haviam sido vasculhados há menos de 20 dias pela Polícia Federal. A decisão da Justiça Eleitoral é baseada em fatos antigos e em investigação até então desconhecida do senador e de sua defesa, na qual, ressalte-se, José Serra jamais foi ouvido”, disse ele em nota divulgada por sua assessoria de imprensa.
“Serra lamenta a espetacularização que tem permeado ações deste tipo no país, reforça que jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos. Importante reforçar que todas as contas de sua campanha, sempre a cargo do partido, foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.”
A operação ocorrida mais cedo previa mandados de prisão temporária e de busca e apreensão em São Paulo, Brasília, Itatiba e Itu para apurar um caixa 2 de R$ 5 milhões em benefício da campanha eleitoral de Serra em 2014. O fundador da Qualicorp, José Seripieri Filho, era um dos alvos dos mandados.
Os pagamentos, segundo as autoridades, teriam sido feitos “supostamente a mando de acionista controlador de importante grupo empresarial do ramo da comercialização de planos de saúde” – a Qualicorp -, disse o Ministério Público em nota, acrescentando que após acordos de colaboração premiada e quebras de sigilo bancário foram encontrados “fundados indícios do recebimento por parlamentar de doações eleitorais não contabilizadas.”
As doações eram repassadas por meio de operações financeiras e societárias simuladas para ocultar a origem ilícita dos R$ 5 milhões recebidos. Além disso, durante as investigações, foram detectados outros pagamentos não declarados “em quantias também elevadas” feitos por “grandes empresas, uma delas do setor de nutrição e outra do ramo da construção civil”, todos eles direcionados ao então candidato.
SEGUNDA DENÚNCIA EM UM MÊS
No início de julho Serra também foi alvo de outra operação, esta capitaneada pelo Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP), que denunciou o ex-governador de Sâo Paulo e sua filha, Verônica Allende Serra, por lavagem de dinheiro.
A acusação é de que entre 2006 e 2007 ele usou o cargo e influência política para receber, da Odebrecht, pagamentos indevidos em troca de benefícios relacionados às obras do Rodoanel Sul.
“Milhões de reais foram pagos pela empreiteira por meio de uma sofisticada rede de offshores no exterior, para que o real beneficiário dos valores não fosse detectado pelos órgãos de controle”, disse o MPF-SP num comunicado.
Segundo as investigações, o empresário José Amaro Pinto Ramos – amigo pessoal de Serra – e Verônica Serra constituíram empresas no exterior, ocultando seus nomes, e por meio delas receberam os pagamentos da Odebrecht ao então governador de São Paulo.
Várias transferências foram feitas para dissimular a origem dos valores, que foram mantidos uma conta de offshore controlada, de maneira oculta, por Verônica Serra até o final de 2014, quando foram transferidos para outra conta de titularidade oculta, na Suíça.
O MPF-SP afirma que os pagamentos da Odebrecht a Serra eram intermediados por Pedro Augusto Ribeiro Novis, executivo da Braskem que era vizinho do senador e está colaborando com as investigações.
Na época, Serra também rebateu a denúncia, disse que a ação era ilegal e buscava constrangê-lo.