Oportunidades de crescimento podem ser limitadas por reformas e custos, dizem cias

731
ESG, sustentabilidade
Imagem de Freepik

São Paulo – Em bate-papo com o setor privado promovido pela Amcham Brasil na manhã desta segunda-feira, os executivos de empresas brasileiras disseram que energias renováveis, infraestrutura logística e redução de desigualdades representam uma oportunidade de expansão dos negócios e crescimento do País, mas que juros elevados, reformas e ambiente político podem gerar insegurança jurídica e elevar os custos de capital e, com isso, reduzir os investimentos.

Clarissa Sadock, CEO da empresa de energia AES Brasil, disse que o setor de energia renovável está num momento especial, com muitas empresas tentando reduzir sua pegada de carbono e anunciando investimentos nessa área.

“Muito tem se falado do hidrogênio verde, é uma oportunidade de exportar energia e que deve crescer muito nos próximos anos”, comentou a executiva.

Ela disse que o parque renovável do Brasil é muito grande, com os maiores fatores de capacidade do mundo, com enorme atração do setor, mas o custo é muito elevado. “Houve redução de investimentos no ano passado por que o custo é muito elevado. É claro que há uma preocupação com a taxa de juros. Considerávamos uma redução da taxa de juros em 2023, agora já temos que manter”, comentou a CEO da AES.

A executiva disse que o Brasil tem um grande potencial para energias renováveis, inclusive eólica offshore, mas que é um setor à frente, que precisa ser desenvolvido.

Sadock avalia que é preciso avaliar como conciliar os custos com os investimentos que serão necessários para a expansão da carga.

Paulo Sales, presidente do conselho de administração da Rede Moura, especializada em fabricação de baterias, acha que a sociedade tem que se organizar para resolver a redução da desigualdade. “Começamos em Belo Jardim (PE) e hoje equipamos metade dos carros no Brasil, isso no encoraja a seguir em frente apesar das questões políticas.”

Sales acha que o ambiente político atual não é favorável para uma reforma tributária por que está impregnado de ideologia. “Quando houver um momento de paz, a gente faz a reforma tributária. A prioridade é reduzir a desigualdade.”

O empresário também acredita que o atual nível de juros leva os investimentos do setor produtivo para o financeiro. “Se tivéssemos uma política industrial para fomentar as commodities brasileiras e o agro, seria uma oportunidade de crescimento imensa”, comentou Sales. “O mercado de energia é enorme, a Moura é uma empresa de energia, acreditamos muito no crescimento desse mercado.”

João Alberto Abreu, CEO da Rumo, empresa de logística do grupo Cosan, destacou sua atuação na concessão ferroviária e portuária e disse que a mudança de governo traz expectativas em relação à segurança jurídica e custo de capital, já que os investimentos no setor são muito relevantes. “O governo anterior fez uma série de concessões, há um pipeline gigantesco de projetos e o volume de custo de capital é de cerca de 15%. Há um cenário de redução do crédito, então, todas essas variáveis são os pontos de atenção em 2023”, disse o CEO da Rumo.

Para Abreu, a proposta de reformas do governo eleito não contribui para a segurança jurídica e a manutenção do custo de capital e que as condições oferecidas pela gestão anterior deveriam ser mantidas.

Em relação ao BNDES, o executivo defende que o banco deve oferecer apoio com o custo de capital do mercado, sem subsídios.

O CEO da Rumo diz que é possível olhar para o ESG de forma mais concreta, com métricas e metas e que isso já está sendo exigido pelos clientes. “Existem ferramentas para emitir dívida atreladas a metas ESG, nossas políticas de remuneração de executivos também são atreladas as metas e os clientes buscam saber suas emissões por meio de auditoria, então, já é possível quantificar e trazer essas ações para o dia a dia”, detalhou.

Carlos Takahashi, chairman da BlackRock Brasil, disse que a gestora tem diversificado seu portfólio em real state, infraestrutura e ESG. “Hoje tem sinais de luta contra a inflação pelos bancos centrais e sua reação nos ativos. Achamos que o investidor vai buscar diversificação, mas ele vai para o conforto. Hoje há muitos investidores pessoa física na Bolsa, é preciso oferecer educação para esse público”, comentou Takahashi.

“Estamos enfrentando a questão do ciclo de crédito, é preciso ter muita transparência do que precisa ser feito e ter cuidado para que eventos não contaminem toda a cadeia de investimentos”, disse o chairman da BlackRock.