São Paulo – A Bolsa operou praticamente todo o pregão em queda desprezando o movimento positivo em Nova York, mas perto do fechamento deu sinais de melhora com Petrobras e encerrou a sessão em alta de 0,50%, aos 120.817,71 pontos, apesar da baixa liquidez.
Mais cedo, os investidores ficaram temerosos em relação à inflação após o resultado acima da expectativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo- 15 (IPCA-15) – aumentou 0,89% em agosto, e a previsão era alta de 0,82% – e o grande vilão foi a energia elétrica.
O mercado está na expectativa do evento de Jackson Hole, nos Estados Unidos, na próxima sexta-feira com a fala do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell. Alguns analistas acreditam que Powell terá um discurso mais “dovish”(menos propenso ao aperto monetário).
Para Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, a virada na Bolsa foi motivada pela melhora das ações ligadas às commodities “com uma tendência de consumo nos próximos mês e com um receio menor em relação à inflação”.
Para Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa Publicações, o mercado externo menos favorável que na véspera e as pressões internas levam à queda da Bolsa. “Ontem o mercado se empolgou um pouco demais e hoje está colocando o pé no chão de novo, está em uma ressaca”.
Natali comentou que a arrecadação poderia ser considerada boa, mas “não é porque é puramente inflação e o Guedes [ministro da Economia] e o Banco Central dizem todo o tempo que a arrecadação virá boa e devemos ficar tranquilos, mas em nenhum momento referem-se ao PIB e aos serviços”, desabafou.
A arrecadação do governo federal somou R$ 171,3 bilhões em julho, um aumento de 35,4% em relação ao mesmo período do ano passado e alta de 24,9% ante junho deste ano.
O analista Jose Costa Gonçalves, da Codepe Corretora, disse que a Petrobras está colocando no mercado R$ 21 bilhões de dividendos a seus milhares de acionistas. “Provavelmente os acionistas vão reinvestir parte desse valor na Petrobras pra poder pegar o dividendo de 81 centavos”.
O estrategista, Filipe Villegas, da Genial Investimentos, disse que o mercado está entrando em compasso de espera para o evento de Jackson Hole, que pode trazer sinalizações sobre os estímulos à economia. “Enquanto isso, o mercado externo monitora o processo de acomodação do crescimento econômico que vem assustando o investidor em relação à China e se espalha por Europa e Estados Unidos”.
O dólar comercial fechou o dia em R$ 5,2110, com queda de 0,95%. A forte desvalorização deve-se ao ambiente interno menos conturbado, com um fluxo de notícias mais positivas – arrefecimento do embate entre os poderes executivo e judiciário e sinalização de cumprimento das metas fiscais.
De acordo com o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “a curva de juros brasileira começa a ficar interessante para o investimento estrangeiro. Na comparação com outras moedas emergentes, o real tem sido uma boa aposta no curto prazo”.
“Também existe a questão do risco político e fiscal, então é difícil enxergar um espaço para melhora. Quanto maior o risco, mais o mercado fica preocupado fica preocupado que o governo tome medidas populistas que esbarrem na área fiscal”, contextualiza Leal.
Para o analista de investimentos da Toro, Lucas Carvalho, “as declarações pacificadoras de Arthur Lira (presidente da Câmara dos Deputados) dizendo que irá cumprir o teto fiscal, acalma o mercado”.
“O temor com a inflação é cada vez mais crescente, com a expectativa que na próxima reunião (do Comitê de Política Monetária – Copom) o aumento de juros seja de, ao menos, 1 p.p. É importante ancorar as expectativas de inflação futura”, analisa Carvalho.
Já no exterior, os olhos estão voltados para o simpósio anual do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que ocorre nesta sexta, 27: “Existe uma expectativa para a fala de Jerome Powell, se os Estados Unidos irão começar a retirar os incentivos à economia”, pontua Carvalho.
Segundo o head de renda variável da Levante, Flávio Conde, “o risco fiscal continua sendo monitorado com foco em qual será o financiamento do novo Bolsa Família. Há rumores de que o governo federal pode tirar o subsídio de alguns setores, para bancar este gasto extra”.
“Caso o governo consiga encontrar uma maneira de não estourar o teto, o mercado irá comemorar e o dólar pode voltar a R$ 5,20”, pontua Conde.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, com os investidores repercutindo os dados mais salgados que o esperado do Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), prévia da inflação oficial no Brasil, em agosto. O movimento prevaleceu nos vértices mais curtos, que reagiram às pressões de curto prazo sobre a taxa Selic, enquanto vencimentos mais longos devolveram taxas na esteira da queda do dólar em relação ao real.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,725%, de 6,690% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,450%, de 8,415%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,41%, de 9,56% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,79%, de 9,98%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam em alta, com o S&P 500 e o Nasdaq em novo recorde, apoiados pelo avanço do setor bancário e também pelo desempenho dos papéis de empresas ligadas à reabertura econômica.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,11%, 35.405,50 pontos
Nasdaq Composto: +0,15%, 15.041,90 pontos
S&P 500: +0,22%, 4.496,19 pontos