Otimismo externo faz Bolsa subir e dólar fechar em queda

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São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 4,69%, aos 81.194,29 pontos, acompanhando as fortes altas de Bolsas no exterior em meio a notícias sobre uma possível vacina contra o novo coronavírus, a retomada de atividades em alguns países e as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell.

Com isso, o índice ignorou a cena política local ainda conturbada e registrou a maior alta percentual desde o dia desde o dia 6 de abril (+6,52%), além de encerrar no maior patamar de fechamento desde o dia 29 de abril (83.170,80 pontos). O volume total negociado foi de R$ 34,079 bilhões, sendo que o exercício de opções sobre ações movimentou hoje R$ 7,5 bilhões.

“A Bolsa vem vivendo de sopros, a Europa já está voltando a trabalhar, e isso abriu um horizonte. Pode ser que a economia volte a andar um pouco a partir de julho e agosto”, disse o economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa.

Além da volta a atividades em alguns países, analistas destacaram a entrevista de Powell ontem, que disse acreditar em uma melhora da economia norte-americana a partir do segundo semestre, além de afirmar que há mais ferramentas para evitar os riscos trazidos pela pandemia. Há pouco, em texto preparado para depoimento amanhã ao Comitê Bancário do Senado, Powell voltou a afirmar que usará todas as ferramentas necessárias para apoiar a economia.

Notícias sobre possíveis vacinas contra o coronavírus também impulsionaram as Bolsas hoje. Nesta manhã, a Moderna Inc. anunciou que seres humanos produziram respostas imunes a uma vacina candidata ao covid-19, na sua primeira fase de testes, o que a empresa disse ser um sinal positivo e fez suas ações dispararem.

Entre as ações, as ligadas as commodities, como as da Petrobras (PETR3 9,88%; PETR4 7,81%) e das da Vale (VALE3 7.07%), ficaram entre os destaques de alta, já que os preços do petróleo e do minério de ferro tiveram forte valorização em meio ao otimismo no exterior. A Vale também informou que retomou as operações de carregamento em seu centro de distribuição na Malásia no último dia 16 de maio. As operações estavam interrompidas desde 24 de março em meio à pandemia do novo coronavírus.

Já as maiores altas do Ibovespa foram das ações da Azul (AZUL4 29,33%), da CVC (CVCB3 19,14%) e da Braskem (BRKM5 15,05%). As ações de empresas de aviação e turismo refletem reabertura de alguns países e a queda do dólar hoje. Na contramão, as maiores quedas do índice foram de ações de algumas empresas exportadoras, que não se beneficiam do dólar em baixa, caso da Suzano (SUZB3 -8,43%), da Klabin (KLBB11 -7,68%) e da JBS (JBSS3 -6,30%).

Com o otimismo externo, a cena política doméstica ainda conturbada foi ofuscada. Investidores ainda não se preocuparam, pelo menos por enquanto, com possíveis consequências da denúncia do empresário Paulo Marinho, que afirmou ao jornal “Folha de S.Paulo” de que a Polícia Federal (PF) segurou uma operação para não prejudicar a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência. O senador Flávio Bolsonaro teria sido avisado da existência de uma operação que o envolveria entre o primeiro e segundo turno das eleições de 2018.

O analista do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, destaca que os mercados estão ficando mais resiliente em relação à cena política, já que turbulências são frequentes no governo Bolsonaro, mas não resultaram ainda em uma mudança significativa de cenário. “Parece que o mercado se acostumou com esse ritmo do governo Bolsonaro. Às vezes, sai algo comprometedor e os ativos sentem um pouco, mas não chega mais a mexer tanto com os preços, já há muita coisa precificada”, disse.

Amanhã, na agenda, investidores devem ficar atentos ao Powell, em depoimento às 11h via webcast perante o Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado, embora seu discurso já tenha sido divulgado hoje. Além disso, os mercados podem repercutir novas declarações do presidente norte-americano, Donald Trump, após os fechamentos do mercado. Trump voltou a acusar a China em relação ao coronavírus e disse ter tomado uma dose de hidroxicloriquina, apesar de não ter tido covid-19. A cena política local também deve continuar no radar.

O dólar comercial fechou em queda 1,98% no mercado à vista, cotado a R$ 5,7250 para venda, em dia de forte otimismo no exterior impulsionado pela notícia de resultados positivos nos estudos sobre uma vacina para a prevenção do novo coronavírus, além das declarações do presidente do Fed visto como positivas em relação à recuperação da economia dos Estados Unidos.

Para a equipe econômica do banco Fator, Powell mudou o tom de seu discurso em relação às declarações dadas na semana passada, “trocando” a expectativa de lenta recuperação da economia norte-americana para esperado movimento já no segundo semestre deste ano, se não houver segunda onda de contaminação por covid-19 no país.

“Contudo, manteve previsão de que a economia deve voltar ao nível anterior a pandemia somente no final do ano que vem, com o pico do desemprego chegando a taxas de 20% a 25%. Além disso, Powell descartou novamente a possibilidade de juros negativos nos Estados Unidos”, acrescentam os analistas do banco.

O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, ressalta que o conjunto de notícias “boas” vindas do exterior estimulou o apetite ao risco dos investidores. “O progressivo retorno de importantes economias [da Europa] à atividade deram um contorno bastante positivo, além da valorização de mais de 8% do contrato de petróleo”, comenta.

Para o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, depois de uma semana de notícias negativas e incertezas, a semana começou com investidores mais otimistas. “Até afastando o receio de uma segunda onda de contaminação com o novo coronavírus, principalmente na Europa. Há uma expectativa de que a economia reaja antes do previsto”, diz.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, Spyer destaca que as declarações de Powell, prevista para o fim da manhã, podem voltar a fazer preço no mercado. Porém, o dólar tem um cenário “arisco’, e segue suscetível a forte volatilidade. “A volatilidade implícita do real ante o dólar é a maior do mundo no momento”, reforça.