São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda de 5,21%, aos 63.569,62 pontos, no menor patamar desde 10 de julho de 2017 (63.025,46 pontos), puxado por ações de bancos e refletindo o impasse na aprovação do pacote de ajuda à economia nos Estados Unidos, além do aumento de casos de coronavírus em todo o mundo.
Investidores seguem nervosos e cheios de incertezas em relação à pandemia, o que ofuscou medidas mais agressivas de estímulos anunciadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e pelo Banco Central (BC) brasileiro. Na mínima do dia, o índice chegou a cair mais de 7%, atingindo os 62.261,68 pontos. O volume total negociado foi de R$ 24,8 bilhões.
“O mercado fica um pouco a mercê disso, se vai ou não ter pacote”, disse o sócio-analista da Eleven Financial Research, Raphael Figueredo. Senadores norte-americanos ainda não chegaram a um acordo para aprovar o pacote de estímulos de cerca de US$ 1,0 trilhão, já que moção foi rejeitada por 47 votos a favor e 47 contrários, ficando abaixo dos 60 votos necessários. Os democratas disseram que bloquearam a votação porque o pacote elaborado pelos republicanos com contribuição democrata favoreceu as corporações em detrimento de trabalhadores.
Hoje, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também afirmou que os casos de coronavírus no mundo chegaram aos 350 mil. Segundo o órgão, levou apenas quatro dias para o número passar de 200 mil para 300 mil no mundo, o que significa que a taxa de infecção só cresce. Só o estado de Nova York, nos Estados Unidos, relatou 5.707 novos casos nas últimas 24 horas, levando o total de infectados na região para 20.875, afirmou o governador do estado Andrew Cuomo em coletiva de imprensa.
Entre as ações, as de bancos tiveram com fortes perdas hoje, puxando o índice para baixo, já que possuem grande peso no Ibovespa. É o caso das ações do Bradesco (BBDC4 -8,05%) e do Banco do Brasil (BBAS3 -9,87%).
“Eles [os bancos] vão ser pressionados a emprestar mesmo com spread bem baixo, todo mundo terá que fazer a sua parte”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, afirmando que mesmo a notícia de redução da taxa de compulsório, anunciada mais cedo pelo BC, acabou não afetando positivamente os bancos como seria normalmente esperado. Também já analistas que preveem um aumento da inadimplência.
O BC anunciou a redução da taxa de compulsório sobre depósitos à prazo, que bancos têm que recolher, para 17%, o que deve injetar R$ 68 bilhões na economia. A autoridade monetária também anunciou outras medidas para estimular o crédito, entre elas a decisão de conceder empréstimos lastreados por debêntures, o que deve proporcionar uma liquidez de aproximadamente R$ 90 bilhões a este setor.
Entre as maiores perdas do Ibovespa ficaram as ações da Hering (HGTX3 -16,59%), da Natura (NTCO3 -15,77%) e da Braskem (BRKM5 -13,97%). Na contramão, as maiores altas foram da WEG (WEGE3 9,77%), da Suzano (SUZB3 4,45%) e da Marfrig (MRFG3 5,20%).
Na agenda de indicadores de amanhã, investidores devem ficar atentos aos dados de vendas no varejo no Brasil e à leitura preliminar do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade dos setores industrial e de serviços de março dos Estados Unidos. No entanto, o foco deve continuar no noticiário em torno do coronavírus, que pode continuar trazendo volatilidade na avaliação de analistas.
O dólar comercial fechou em forte alta de 2,27% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1360 para venda, em mais uma sessão de forte volatilidade acompanhando o cenário mais negativo no exterior em meio ao avanço do novo coronavírus e com medidas mais drásticas de governos enquanto a doença avança nos países, incluindo o Brasil. Nem os leilões do Banco Central (BC) foram suficientes para conter a escalada da moeda.
O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a sessão de forte mau humor no mercado externo em meio à possibilidade de recessão na economia mundial decorrente da pandemia do coronavírus. “Internamente, nem mesmo três leilões de venda no mercado à vista por parte do nosso Banco Central conseguiram segurar o ímpeto da moeda”, ressalta.
O BC ofertou hoje US$ 1,0 bilhão das reservas cambiais, no qual US$ 739 milhões foram tomados em três operações realizadas de forma inesperada a o longo da sessão.
O diretor de câmbio do Ourominas, Mauriciano Cavalcante, ressalta que o ambiente deverá seguir negativo com a expectativa para o país nos próximos 15 dias é “sombria”, visto que o número de casos confirmados do novo coronavírus tende a ter forte crescimento nas próximas duas semanas.
“Com isso, o dólar deverá apresentar bastante volatilidade. O recomendado para investidores, nesse momento, é ter o máximo de cautela possível, procurando assegurar pelo menos o valor de seu capital, podendo aplicar em portos seguros a médio prazo como o ouro e o próprio dólar”, pontua Mauriciano Cavalcante.
Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque é o número preliminar do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade dos setores industrial e de serviços no mês no qual deverá trazer uma leitura dos impactos do coronavírus na economia norte-americana. “Será mais uma sessão de instabilidade com o mercado reagindo às notícias nada positivas sobre o coronavírus e os impactos”, comenta o consultor de uma corretora local.