São Paulo – Os investidores voltaram a entrar em pânico depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu que o surto de coronavírus é uma pandemia em função do número de casos e países afetados, o que fez o Ibovespa fechar em queda de 7,63%, aos 85.171,13 pontos, no menor patamar de fechamento desde do dia 28 de novembro de 2018 (84.914,11 pontos).
Após a declaração da OMS, o índice chegou a cair mais de 10%, o que ativou o segundo circuit breaker da semana, já que o mecanismo já havia sido ativado na última segunda-feira. Dois circuit breakers não ocorriam em um intervalo tão pequeno de tempo desde 1999, véspera da adoção do câmbio livre no Brasil. Após o circuit breaker, o Ibovespa ainda caiu mais e chegou a atingir a mínima de 80.795,50 pontos, voltando a patamares de outubro de 2018. O volume total negociado foi de R$ 33,9 bilhões.
No fim do pregão, o índice chegou a reduzir levemente as perdas refletindo declarações do presidente norte-americano, Donald Trump, de que está preparado para usar todos o seu poder contra o coronavírus. Trump também deve fazer um pronunciamento ainda hoje.
“Tudo que os investidores desejam nesse momento são propostas, esforços no combate”, disse o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbertman. Para ele, o fato de Trump ter anunciado que tomaria medidas ontem, mas não ter se aprofundado nelas já havia pesado nos mercados pela manhã.
No entanto, afirma que medidas como corte de juros e injeção de liquidez na economia ajudam, mas são paliativas, já que não se sabe ainda quais são os desdobramentos da pandemia. “Só teremos uma simetria maior com maiores informações da doença e com o desenvolvimento de métodos combatentes ao vírus. Medidas econômicas previnem mas não destroem a ameaça”, ponderou.
Para o consultor de investimentos Renan Sujii, o grande receio do mercado continua a ser o impacto econômico da agora pandemia e um ponto importante a ser observado é como será o enfrentamento por parte dos países afetados. “O risco continua sendo termos uma desaceleração econômica mundial, principalmente em um contexto em que ocorrem quarentenas que afetam diretamente dois canais: o do consumo e da produção, como observamos na Itália”, disse.
Entre as ações, as maiores quedas do índice foram da Azul (AZUL4 -15,14%), do BTG Pactual (BPAC11 -14,16%) e da CSN (CSNA3 -14,19%). Os papéis de companhias aéreas seguem sofrendo com redução de viagens e demanda em função da pandemia.
Apenas as ações da TIM (TIMP3 0,77%) e da Telefônica Brasil (VIVT4 0,07%) fecharam em alta, depois que as companhias mostraram interesse em comprar juntas a operação móvel da Oi.
Amanhã, além de repercutir declarações de Trump e continuar acompanhando os desdobramentos do coronavírus, investidores também devem acompanhar a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE).
Para o analista da Ativa, os próximos dias ainda devem ser de volatilidade para o Ibovespa. “Não me recordo de dois circuit breakers tão rápidos. De fato, o nível de volatilidade está bem forte. Apesar de inusual, nada impede que tenhamos mudanças drásticas nas expectativas e, então, mecanismos de proteção como os circuits breakers ativados”, disse.
O dólar comercial fechou em forte alta de 1,57% no mercado à vista, cotado a R$ 4,7200 para venda, devolvendo praticamente toda a desvalorização exibida ontem quando a moeda norte-americana fechou na maior queda percentual desde setembro do ano passado, de 1,69% (a R$ 4,6470). Com disso, este foi o segundo maior valor de fechamento da história. No início da tarde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou pandemia mundial do coronavírus, o que resultou em forte aversão ao risco global.
“A moeda renovou máximas consecutivas quando a OMS declarou uma pandemia com o seu espalhamento pelo mundo”, comenta o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek. A doença tem mais de 120 mil casos confirmados em 118 países. Há pouco, o Ministério da Saúde revisou para cima o número de casos no Brasil, de 37 para 54 casos. São Paulo tem o maior número de pacientes infectados pelo vírus, 30 até o momento.
Diante do alerta da OMS, o dólar chegou à máxima do dia de R$ 4,7590 (+2,41%). “Após atingir a taxa de R$ 4,75, o dólar se afastou das máximas com fluxo vendedor”, acrescenta o gerente da corretora.
Os economistas do Rabobak avaliam que, em um cenário de pandemia, as perdas econômicas em 2020 podem quase dobrar. “Existe um risco adicional de que a crise econômica neste cenário possa levar a problemas de liquidez nas empresas em todo o mundo, o que ameaçaria a estabilidade financeira. Esse é um risco adicional”, ponderam.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o destaque deverá ser a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), no qual a expectativa é de que sejam anunciados estímulos monetários na região, a mais atingida pelo coronavírus após a Ásia. Enquanto aqui, as apostas quanto ao corte da taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem divide o mercado.
Para o economista da Guide Investimentos, Victor Beyrutti, o Banco Central brasileiro deveria manter as operações de venda de dólares no mercado à vista. “O BC e o governo poderiam ter adotado outro tom. O dólar estaria alto, mas não nesse nível. Quando o dólar chegou a R$ 4,30, as declarações do [ministro da Economia] Paulo Guedes, de que aquele era o novo ‘normal’ do dólar, fizeram a moeda ter novas altas por vários dias. Enquanto isso, o BC também não entrou no mercado”, ressalta.
Há pouco, o Congresso derrubou veto do presidente Jair Bolsonaro a um projeto de lei que aumenta o limite de renda para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Segundo o Ministério da Economia, o efeito nas contas públicas deverá ser de, aproximadamente, R$ 20 bilhões por ano. Após a notícia, o contrato futuro para abril disparou mais de 3%, sendo cotado acima de R$ 4,80.