São Paulo – O desespero visto nos mercados em todo o mundo em função da derrocada dos preços do petróleo e da disseminação do coronavírus fez o Ibovespa encerrar em queda de 12,17%, aos 86.067,20 pontos, mostrando a maior queda percentual desde 10 de setembro de 1998 (-15,82%), quando ocorreu a crise da moratória russa e superando as quedas vistas durante a crise econômica mundial de 2008.
Com as perdas de hoje, o índice também apagou os ganhos vistos nos últimos 14 meses, fechando no menor patamar desde o dia 27 de dezembro de 2018 (85.460,20 pontos). O volume total negociado na Bolsa hoje foi de R$ 43,9 bilhões, acima da média.
Mesmo o circuit breaker ocorrido logo após a abertura não foi suficiente para amenizar perdas. O mecanismo foi acionado às 10h31, quando o índice registrou queda de 10,01%, aos 88.178,33 pontos. Um circuit breaker não ocorria desde o “Joesley Day”, no dia 18 de maio de 2017, refletindo a notícia de que o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, faria uma delação premiada depois de gravar uma conversa com ex-presidente Michel Temer.
Para o economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, “somando o coronavírus com a queda do petróleo há um potencial deflacionário” que pode colocar a economia global em recessão ou em um cenário de crescimento muito baixo. “Não há explicação para entender a decisão da Arábia Saudita em relação ao petróleo, se aproveitando de uma situação já difícil com o coronavírus, o que provoca um movimento de irracionalidade nos mercados”, disse ainda o economista.
Os preços dos contratos futuros do petróleo terminaram o dia terminaram o dia com mais de 24% na pior performance desde 1991, depois que a Arábia Saudita indicou que aumentaria sua produção e venderia seus barris com desconto após o fracasso da reunião da Opep+ na semana passada.
Com isso, as ações da Petrobras (PETR4 -28,82%; PETR4 -28,51%) também tiveram um dia de perdas históricas, na maior queda do Ibovespa. A derrocada dos preços do petróleo ainda levou a ruídos sobre a política de preços do petróleo da estatal, com o presidente Jair Bolsonaro afirmando que não haverá interferência do governo na política.
Ainda entre as maiores perdas do índice ficaram as ações da CSN (CSNA3 -24,84%), da Marfrig (MRFG3 -23,53%) e da Gerdau (GGBR4 -17,64%).
Para o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, essas quedas exemplificam que investidores buscaram proteção e fizeram resgates de fundos, em meio a um processo de aumento de investidores pessoa física no Brasil, que não estão acostumados com renda variável. Na sua avaliação, também deve seguir a expectativa de que governos e bancos centrais tomem mais medidas para evitar uma recessão.
Já se especula no mercado que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) possa anunciar um novo corte de juros, depois de já ter feito um corte extraordinário na última terça-feira.
Sobre os próximos dias, Bandeira acredita que é difícil prever se os mercados podem continuar a mostrar uma correção, dependendo muito de como seguirá o mercado de petróleo, e se Arábia Saudita voltará a negociar, além de como continuará a questão do coronavírus. No entanto, afirma que, uma hora, o índice também pode “voltar” um pouco depois de uma perda tão expressiva.
Na agenda de indicadores, investidores devem ficar atentos a dados de inflação na China e a dados da produção industrial brasileira, que serão divulgados amanhã.
O dólar comercial fechou em forte alta de 2,0% no mercado à vista, cotado a R$ 4,7270 para venda, na maior alta percentual desde 6 de novembro de 2019 quando a moeda subiu 2,20%. Diante o cenário caótico que prevaleceu nos mercados globais em meio à crise do petróleo, a moeda estrangeira renovou as máximas históricas de fechamento e no movimento intraday ao alcançar o patamar de R$ 4,79.
“A moeda exibiu intensa volatilidade em um dia de caos nos mercados mundiais, que levaram ao derretimento do petróleo, das bolsas e das moedas emergentes ligadas às commodities”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.
A Arábia Saudita indicou que aumentaria a produção de petróleo e venderia os barris com desconto após o fracasso da reunião da Opep+ na semana passada travando uma disputa com a Rússia. Com isso, os preços dos contratos futuros do petróleo desabaram aos menores níveis desde 1991. A queda chegou a mais de 30%, com o barril abaixo dos US$ 30. No fechamento, a commodity acumulou perdas de 24% tanto o WTI quanto o tipo Brent.
Em dia de negócios suspensos (circuit breaker) na bolsa brasileira e nos Estados Unidos após as ficarem acima do limite, o destaque foi a atuação mais agressiva do Banco Central (BC) no qual ofertou US$ 4,0 bilhões em dois leilões de venda de dólares no mercado à vista.
No primeiro, realizado logo após a abertura dos negócios com a autoridade monetária aumentando o valor de US$ 1,0 bilhão anunciados na sexta-feira para US$ 3,0 bilhões em meio ao caos nos mercados globais. À tarde, o BC entrou de forma inesperada com o volume de US$ 1,0 bilhão, porém, foram aceitos US$ 465,0 milhões.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o foco deverá seguir no petróleo e ainda, nos desdobramentos do coronavírus que se espalha por mais de 100 países e leva autoridades a elevar o tom quanto às medidas para conter o avanço da doença em países como Itália, onde se concentra o maior número de mortes em decorrência do vírus depois da China.
“A crise do petróleo não deve dar trégua nos próximos dias. A tendência é de os ativos continuarem se desvalorizando. Acho que o Banco Central deveria manter os leilões à vista, usando as reservas cambiais do país, para conter a alta da moeda. Do contrário, a moeda seguir nesse patamar, acima de R$ 4,70”, avalia o diretor de câmbio do Ourominas, Mauriciano Cavalcante.