São Paulo – O aumento de casos do novo coronavírus em diversos países, incluindo no Brasil, e temor de que isso impacte ainda mais economias já fragilizadas em todo o mundo, fez o Ibovespa fechar em queda de 4,14%, aos 97.996,77 pontos.
Trata-se do menor patamar de fechamento desde o dia 27 de agosto de 2019 (97.276,19 pontos). O volume total negociado foi de R$ 39,6 bilhões, considerado acima da média.
O índice também caiu pela terceira semana seguida, recuando 5,93% na primeira semana de março, depois de já ter caído 8,37% na semana anterior.
“Não estava na perspectiva do mercado esse nível de perda de valor das empresas, a aversão ao risco está muito forte. Há receio que ocorra em outros países o que ocorreu na China, com mais fechamento de cidades, entre outras medidas”, disse o sócio da RJI Gestão e Investimentos, Rafael Weber.
Weber também lembra que entrou um grande número de investidores pessoa física na Bolsa recentemente, que não estavam acostumados a fazer investimentos em Bolsa e a lidar com a volatilidade. “O psicológico desse investidor sente mais, ele fica mais assustado porque não está acostumado, só investia em renda fixa”, afirmou.
O sócio-gestor da TAG Investimentos, Dan Kawa, por sua vez, destaca que o desempenho da Bolsa brasileira está pior que a de outras Bolsas globais, sentindo o movimento de “stops de fundos multimercados e pessoas físicas”. “A Bolsa do Brasil não está passando no primeiro teste de fogo”, disse em seu perfil no Twitter.
No exterior, chamou a atenção a proximidade dos 100 mil casos do vírus. Dados coletados nas últimas 24 horas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 2.736 casos do novo coronavírus foram relatados em 47 países.
Atualmente, existem 98.023 casos registrados globalmente e 3.380 mortes. No entanto, a OMS também destacou que o desenvolvimento de uma vacina está cada vez mais próximo, informações que ajudaram em uma ligeira redução de perdas de Bolsas no exterior. As Bolsas norte-americanas caíram cerca de 1%.
No Brasil, o Ministério da Saúde afirmou que houve um aumento de sete para 13 casos de coronavírus. Os casos suspeitos aumentaram de 636 pontos para 768 pontos.
Entre as ações, as da Petrobras (PETR3 -10,25%; PETR4 -9,72%) ficaram entre as maiores perdas do Ibovespa, já que os preços do petróleo fecharam em queda de cerca de 10% depois que foi anunciado que a OPEP não chegou a um acordo sobre a redução da produção da commodity. “O mercado esperava esse acordo para dar sustentação aos preços”, disse Weber.
Ainda estão as maiores perdas ficaram as ações da Via Varejo (VVAR3 -17,19%), da B2W (BTOW3 -9,76%) e da Cogna (COGN3 -9,81%). Na contramão, as maiores altas foram da CVC (CVCB3 14,40%), do IRB Brasil (IRBR3 2,50%) e da Smiles (SMLS3 2,50%). As ações da CVC refletiram o anúncio da renúncia do presidente da companhia, enquanto os outros papéis se recuperaram após fortes perdas esta semana.
Na semana que vem, entre os indicadores que podem impactar o início da semana estão os dados de inflação da China, com investidores de olho em sinais de impacto do coronavírus. A semana também será de reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE).
Para o sócio da RJI Gestão e Investimentos, é possível que o Ibovespa veja alguma recuperação na semana que vem, com investidores buscando oportunidades e vendo algumas ações mais baratas, embora a volatilidade poder continuar diante do noticiário em torno do coronavírus.
O dólar comercial fechou em queda de 0,40% no mercado à vista, cotado a R$ 4,6340 para venda, interrompendo uma sequência de 12 altas seguidas e de 11 pregões renovando máximas históricas de fechamento em meio à injeção de liquidez do Banco Central (BC) no mercado futuro. Hoje foram colocados US$ 2,0 bilhões após o montante de US$ 3,0 bilhões ontem. No início dos negócios, porém, a ação não inibiu que a moeda norte-americana renovasse a máxima histórica intraday a R$ 4,6720.
“O dólar mostrou mais uma sessão de intensa volatilidade alternando entre momentos de forte pressão e relativa calmaria, em meio à um clima tenso no exterior”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho. Com a leitura de que o Banco Central do México deverá cortar a taxa de juros do país em 0,50 ponto percentual (pp), a moeda caiu mais de 2% frente ao dólar.
Na semana, marcada por forte estresse dos ativos globais e da moeda local após os desdobramentos do coronavírus ao redor do globo e da decisão inesperada do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de cortar a taxa de juros em 0,50 pp, o dólar acumula valorização de 3,34%. É a terceira semana seguida de alta.
Mesmo com o BC realizando quatro operações de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólares no mercado futuro – no qual colocou no mercado US$ 5,0 bilhões, o patamar da moeda estrangeira segue “indiscutivelmente exagerado”, diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Ela avalia que a percepção é que a autoridade monetária “subestimou” a extensão de valorização da divisa estrangeira. “A gente sabe que o BC tenta estancar a situação. O cenário antes do coronavírus já indicava um ambiente negativo para o mercado doméstico. Quando começou a trajetória de alta do dólar, o BC já deveria ter começado a agir”, comenta.
Ela acrescenta que, sem essas intervenções “mais robustas”, o Banco Central tem um “problema nas mãos”: o câmbio e a taxa de juros. “As duas se conversam. O desafio do BC hoje é muito maior do que semanas atrás. Agora ele precisa lidar com essas duas variáveis. Além disso, a retirada de recurso estrangeiro segue muito forte, isso também contribui para a forte depreciação”, avalia.
Na semana que vem, dados da China devem mostras os efeitos concretos do coronavírus no país com a divulgação de dados da balança comercial e de inflação ao consumidor e ao produtor no mês passado. “Indicadores ruins para China são esperados, então, talvez não pegue nos mercados. É importante acompanhar como o coronavírus vai evoluir ao longo do fim de semana”, destaca.