São Paulo – Após um dia volátil, o Ibovespa voltou a acelerar perdas perto do fim do pregão acompanhando a derrocada das Bolsas norte-americanas e fechou em queda de 2,58%, aos 102.983,54 pontos, no quarto dia seguido de baixa. O aumento de casos suspeitos de coronavírus nos Estados Unidos e no Brasil deixaram investidores ainda mais tensos ao longo do dia.
Ontem, o índice já tinha caído 7% e caminha para encerrar o mês de fevereiro, cujo último pregão é amanhã, com forte perdas. Até o pregão de hoje, as perdas do mês são de 9,47%
Os principais índices do mercado norte-americano de ações terminaram a sessão com mais de 4% de queda, no pior desempenho desde agosto de 2011 – quando os Estados Unidos perderam a classificação ‘AAA’ pela Standard and Poor’s. O Dow Jones despencou 1.190,95 pontos na maior queda diária da história. A Califórnia está monitorando 8.400 casos suspeitos do novo coronavírus, segundo o governador do estado, Gavin Newson.
Já o número de casos suspeitos do novo coronavírus no Brasil subiu de 20 para 132, informou ministério da Saúde há pouco. A maior parte dos casos suspeitos e o único confirmado estão em São Paulo, que abriga 55 pessoas que podem ter a doença.
“Vamos ficar a mercê do noticiário, hoje veio uma enxurrada de notícias negativas”, disse o analista da Necton Corretora, Glauco Legat. Para ele, a questão do coronavírus deve continuar trazendo volatilidade para a Bolsa enquanto não houver uma diminuição da sua propagação ou algum avanço clínico, como a criação de uma vacina.
Para o operador de renda variável da Commcor, Ari Santos, o Ibovespa está bastante sensível ao noticiário e aos movimentos de Wall Street. “Chegou a ocorrer uma entrada de recursos, com compra de ações bancos e varejistas, mas depois o índice voltou a piorar. Quando o investidor vê uma melhora lá fora também aproveita para comprar e vice e versa”, disse.
Entre as maiores quedas do Ibovespa ficaram as ações da Gol (GOLL4 -8,90%), as da Ambev (ABEV3 -8,02%) e do Pão de Açúcar (PCAR4 -6,51%). Além dos efeitos do coronavírus, as ações da Ambev refletiram um balanço trimestral mais fraco do que o esperado pelo mercado.
Na contramão, as maiores altas foram do IRB Brasil (IRBR3 7,00%), que refletiu a notícia da “Coluna do Broadcast” de que o fundo Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffet, praticamente triplicou a fatia que detinha na empresa em fevereiro, o que foi visto como bom sinal depois de acusações de que o IRB estaria manipulando número contábeis. Ainda entre as maiores altas ficaram as ações da Usiminas (USIM5 0,67%) e do Banco do Brasil (BBAS3 1,23%).
Na agenda de amanhã, investidores devem observar indicadores como os dados sobre a renda e gastos pessoais de janeiro nos Estados Unidos. No entanto, afirmam que a preocupação e o noticiário sobre o coronavírus pode prevalecer novamente
O dólar comercial fechou em alta de 0,58% no mercado à vista, cotado a R$ 4,4770 para venda, renovando pelo sexto pregão seguido a máxima histórica de fechamento, além de engatar a sétima alta seguida. A aversão global ao risco prevalece tendo os desdobramentos do coronavírus como pano de fundo. No movimento intraday, a moeda renovou a máxima histórica a R$ 4,5020.
Na reta final dos negócios, a moeda voltou a acelerar os ganhos – abaixo de R$ 4,50 – com a notícia de que a Califórnia (EUA) está monitorando 8,4 mil casos suspeitos de coronavírus, segundo o governador do estado. Aqui, o Ministério da Saúde confirmou que os casos suspeitos subiram de 20 para 132, enquanto apenas um está confirmado.
“O principal catalizador foi o temor global sobre a expansão do coronavírus, que tem ditado forte demanda por ativos seguros e punido os ativos de maior risco”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.
O economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, ressalta que não há “qualquer indício” de reversão do dólar no curto prazo. “Ele seguirá pressionado e volátil”, reforça.
Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque são os dados de renda e gastos pessoais nos Estados Unidos em janeiro. Para Campos, os dados não devem ter relevância enquanto o coronavírus seguir como “pano de fundo”, além dos impactos da doença na economia global.
“A gente segue na dependência desse clima pesado no exterior. Há um movimento claro de busca por proteção”, reforça.