São Paulo – Após chegar a cair mais de 2% perto da abertura, o Ibovespa reduziu levemente as perdas refletindo os ganhos de ações de bancos, como Bradesco e Itaú Unibanco, mas segue em queda com o temor em relação à disseminação do coronavírus e pressionado pelas ações da Ambev. Analistas também alertam que o índice pode seguir mostrando volatilidade diante das incertezas do cenário externo.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 1,25% aos 104.394,06 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 15,9 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em abril de 2020 apresentava recuo de 1,13% aos 104.860 pontos.
“O dia é mais negativo não só aqui, o contexto segue sendo a propagação do coronavírus. Ações com Vale, Petrobras e Ambev contribuem negativamente. Mas ações de empresas mais voltadas para o mercado interno, menos dependentes do cenário externo, como bancos, estão melhores”, disse o analista da Necton Corretora, Glauco Legat.
As ações da Vale mostram perdas acompanhando a queda de cerca de 3% dos preços do minério de ferro no mercado futuro, enquanto os papéis da Petrobras refletem a desvalorização de mais de 4% dos preços do petróleo. Já as maiores quedas do Ibovespa são das ações da Ambev, que refletem um balanço mais fraco do que o esperado pelo mercado.
Na contramão, as maiores altas do índice são do IRB Brasil, que reflete a notícia da “Coluna do Broadcast” de que o fundo Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffet, praticamente triplicou a fatia que detinha na empresa em fevereiro, o que foi visto como bom sinal depois de acusações de que o IRB estaria manipulando dados contábeis. Ainda entre as maiores altas estão as ações do Itaú Unibanco e do Bradesco.
O dólar comercial acelerou a alta que exibe desde a abertura e rompeu mais um patamar inédito, o de R$ 4,50, em meio ao forte cenário de aversão ao risco global com o temor da disseminação do coronavírus para países fora da Ásia, além da percepção de um crescimento moderado da economia mundial.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava alta de 0,47%, sendo negociado a R$ 4,4720 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em março de 2020 apresentava avanço de 0,48%, cotado a R$ 4,472.
Para a estrategista de câmbio do banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, o real vem “sofrendo” muito sendo a moeda de país emergente que mais subiu desde o surgimento das notícias sobre o coronavírus.
“Adicionalmente a esse fator, temos a política interna que mostra todama falta de articulação. Não temos uma história boa interna para contar. A falta de boa notícia na política prejudica ainda mais os ativos.”, comenta. Quartaroli se refere ao vídeo gravado pelo presidente Jair Bolsonaro e que circula em um aplicativo de troca de mensagens no qual ele convoca uma manifestação contra o Congresso Nacional em março.
“Temos um presidente que não apoia o seu próprio Congresso. E como a agenda de reformas pode andar? E o cenário de juros baixos que temos precisa da continuidade da agenda de reformas. Corremos o risco de a agenda econômica não andar neste ano por conta dessa falta de coordenação política”, acrescenta.
Ela pondera que a perspectiva de um crescimento mais moderado da economia global e com a expectativa de crescimento da economia doméstica ainda baixa, pode piorar e as projeções reduzirem mais dependendo de quanto tempo pode durar o evento do coronavírus.
A intervenção do Banco Central (BC) no mercado cambial ontem e hoje não surtiu efeito. Ontem, foram colocados no mercado US$ 500,0 milhões enquanto hoje, o total de US$ 1,0 bilhão foi tomado pelo mercado após a abertura dos negócios em operações de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólares no mercado futuro.
Teve vida curta a tentativa de queda ensaiada no mercado de juros futuros. A disparada do dólar para a marca inédita de R$ 4,50, em meio à queda acelerada das bolsas, apagou o viés negativo ensaiado pelo trecho curto da curva a termo, ao passo que acelerou o ritmo de alta dos vértices mais longos.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 4,180%, de 4,195% após o último ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2022 estava em 4,73%, de 4,76% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 5,38%, de 5,37%; e o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 6,23%, de 6,19%, na mesma comparação.