Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda de 0,22%, aos 105.077,63 pontos, refletindo a maior cautela no cenário externo depois de notícias de que os Estados Unidos estudam limitar investimentos na China, o que fez investidores verem novamente uma menor chance de um acordo comercial entre os dois países. Já na semana, depois de volatilidade em função da guerra comercial e do pedido de impeachment do presidente norte-americano, Donald Trump, houve leve alta de 0,25%.
O volume total negociado hoje foi de R$ 13,2 bilhões,
considerado fraco por analistas, assim como nos pregões anteriores nesta
semana.
“A possibilidade de a Casa Branca limitar
investimentos em empresas chinesas deu uma azedada, isso antes da reunião que
deve ocorrer em outubro, o que reduz expectativas de uma resolução para a
tensão comercial, mesmo que fosse parcial”, disse o analista da Guide
Investimentos, Luís Salles.
A notícia fez os índices norte-americanos ampliarem
quedas, com destaque para o Nasdaq, que caiu mais de 1%. Ontem à noite, o
noticiário sobre a guerra comercial havia sido mais positivo, com expectativa
de que os dois países voltassem a negociar no dia 10 de outubro e informações
de que a China estava ampliando compras de produtos agrícolas dos Estados
Unidos. Porém, os sinais contraditórios mantêm dúvidas em torno das negociações
e têm mantido investidores mais cautelosos e céticos quanto a um acordo.
Entre as ações, as de bancos pesaram negativamente, como
as do Banco do Brasil (BBAS3 -0,80%), com exceção do Santander (SANB11 1,84%),
que ficou entre as maiores altas do Ibovespa.
Já as maiores quedas do índice foram das ações do setor
aéreo, como Gol (GOLL3 -6,51%) e da Smiles (SMLS3 -5,29%). Os papéis refletiram
o anúncio de que que a Delta Air Lines vai comprar 20% da chilena Latam
Airlines por US$ 1,9 bilhão e deve vender sua participação de 9,40% na Gol. Já
para a CVC (CVCB3 4,83%), a maior alta do índice, a notícia repercutiu
positivamente, já que a Delta terá parceria com a Tam e pode aumentar
concorrência de voos a partir do Brasil.
Na próxima segunda-feira, último dia de setembro e do
trimestre, há expectativa de que investidores possam “puxar” o índice
em busca de melhores resultados. Já ao longo da semana, os destaques serão a
votação da reforma da Previdência no Senado e os dados do mercado de trabalho norte-americano
(payroll), além de discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco
central norte-americano), Jerome Powell. Porém, o feriado na China a partir de
terça-feira pode esvaziar o noticiário em torno da guerra comercial, com o
índice podendo continuar sem grande ímpeto.
“A segunda-feira é fechamento de trimestre, podemos
ter um movimento mais especulativo para deixar números mais
interessantes”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente
Matheus Zuffo.
O dólar comercial fechou em queda de 0,12% no mercado à
vista, cotado a R$ 4,1570 para venda, com investidores calibrando a expectativa
para o encontro marcado entre Estados Unidos e China, em 10 de outubro, e as
incertezas em torno do pedido de processo de impeachment do presidente
norte-americano, Donald Trump, à véspera do fim de semana e com o início da
disputa pela formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apurada pelo
Banco Central (BC) – de fim de mês.
O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, ressalta que a perspectiva da retomada das conversas entre Estados Unidos e China levou o dólar às mínimas da sessão [R$ 4,1470, -0,36%]. “A moeda teve uma reação pontual de alta, transitando pela casa dos R$4,16 [indo às máximas de R$ 4,1690, +0,17%] com a informação de que norte-americanos consideram limitar seus investimentos na China”, acrescenta.
Na reta final dos negócios, um movimento de baixa
liquidez à véspera do fim de semana levou a moeda a firmar viés de queda.
“Em semana movimentada de notícias sobre as negociações da guerra
comercial, o dólar exibiu forte volatilidade”, reforça. Com isso, a moeda
norte-americana fechou a semana com ligeira alta de 0,09% e acumula seis
semanas acima de R$ 4,00 – 31 sessões – na maior sequência histórica acima
desse patamar.
A estabilidade na semana é atribuída também pelas
intervenções do BC no mercado cambial com a realização leilões conhecidos como
“de linha” – recompra de dólares – para “reduzir a pressão sobre
a moeda”, comenta o analista de uma corretora estrangeira.
Na semana, a moeda voltou a repetir a maior cotação
intraday do ano, a R$ 4,1960 após a votação de emendas da reforma da
Previdência ser adiada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado,
para terça-feira. “O atraso do andamento da reforma frustrou o
mercado”, diz o analista.
Assunto que investidores devem seguir atentos, à espera
de avanços da Previdência no Senado. Segundo o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre, os trâmites entorno da reforma podem terminar até 15 de outubro.
“Um possível novo adiamento da reforma não está precificado. O processo
está atrasado e estamos praticamente no quarto trimestre sem nada
resolvido”, diz o operador de câmbio da Advanced, Alessandro Faganello.
O operador chama a atenção para o movimento de formação
de preço da Ptax na segunda-feira, o que deverá provocar volatilidade na
cotação da moeda na primeira parte dos negócios, com o mercado internacional
digerindo os números do índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês)
da China, às vésperas de um longo feriado no país (entre 1 e 7/10). “O que
reduzirá a liquidez no mercado ao longo da semana”, lembra o diretor da
Mirae, Pablo Spyer.