Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São paulo – Após operar sem uma direção clara, o Ibovespa acelerou ganhos perto do fim do pregão e subiu 0,80%, aos 105.319,40 pontos, no maior patamar de encerramento desde o dia 10 de julho (105.817,06 pontos), quanto bateu o recorde histórico de fechamento e a máxima histórica de 106.650,12 pontos.
A valorização de papéis como Itaú Unibanco e Petrobras ajudou a impulsionar o índice durante à tarde, com investidores ainda acompanhando a questão da guerra comercial e o processo do impeachment do presidente norte-americano, Donald Trump. O volume total negociado foi de R$ 13,9 bilhões.
As ações de bancos passaram a subir com mais força
durante à tarde e ajudaram o Ibovespa a se descolar das bolsas
norte-americanas, com destaque para os papéis do Itaú (ITUB4 2,88%), que
passaram a ficar entre as maiores altas do Ibovespa, ao lado das ações da Via
Varejo (VVAR3 2,88%), da Smiles (SMLS3 2,87%) e da Azul (AZUL4 2,82%). Os
papéis da Petrobras (PETR4 1,20%) também aceleraram ganhos.
Para o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi,
porém, não houve um motivo específico para a alta de ações de bancos e o Ibovespa
ainda pode mostrar alguma volatilidade no curto prazo. “Está faltando um
gatilho para o nosso mercado, o exterior ainda pesa, a questão da guerra
comercial está difícil e ainda tem, agora, a questão do impeachment de
Trump”, disse.
Já o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico
Cozzolino, destaca que apesar do cenário externo e um fator adicional de
cautela, que é o pedido de impeachment de Trump, a tendência para o Ibovespa
ainda é de alta, com investidores ainda aproveitando alguns momentos para
voltar a comprar.
No cenário externo, as bolsas norte-americanas chegaram a
ensaiar uma melhora, mas fecharam em queda. Investidores seguem atentos ao
noticiário em torno da guerra comercial, com a China reafirmando que deve
comprar mais produtos agrícolas dos Estados Unidos.
No entanto, a divulgação, pelo Comitê de Inteligência da
Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, das informações que geraram o pedido
de impeachment de Trump ajudou a deixar o mercado um pouco mais cauteloso. A denúncia
foi de um funcionário da inteligência dos Estados Unidos, que alega que o
presidente do país está usando seu poder para solicitar interferência de um
país estrangeiro nas eleições presidenciais norte-americanas de 2020, detalhando
o telefonema de julho entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr
Zelensky.
Entre as maiores quedas do Ibovespa ficaram as ações de
frigoríficos, como Marfrig (MRFG3 -2,76%), da Embraer (MEBR3 -2,15%) e da
Qualicorp (QUAL3 -1,99%).
Na agenda de amanhã, o destaque são indicadores
norte-americanos como os dados sobre renda e gastos pessoais de agosto. Já no
Brasil, o IBGE divulga os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (Pnad contínua), que traz a taxa de desocupação referentes a agosto.
O dólar comercial fechou em alta de 0,16% no mercado à
vista, cotado a R$ 4,1620 para venda, em sessão de fortes oscilações influenciado
pelo fluxo de saída de recursos estrangeiros e pelo exterior, com eventos que
têm provocado ruído nos mercados como a guerra comercial entre Estados Unidos e
China e as tensões políticas envolvendo o nome do presidente norte-americano,
Donald Trump. Com isso, a moeda estrangeira acumula 30 pregões acima de R$
4,00, na maior sequência acima deste patamar na história.
“Os fatores externos têm prevalecido no câmbio aqui
e a moeda não sustenta queda”, comenta o economista e CEO da Veedha Investimentos,
Rodrigo Tonon Marcatti. Na primeira parte dos negócios, o dólar renovou mínimas
sucessivas no menor valor em uma semana, a R$ 4,1230 (-0,77%), na sequência, operou
com forte volatilidade antes de firmar alta ante o real.
O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho,
reforça que o bom humor externo, exibido na abertura dos negócios, foi sendo
dissipado com as incertezas políticas que rondam Donald Trump, após um pedido
de abertura do processo de impeachment contra ele feito pela Câmara dos
Representantes. “Gera incertezas e pode atrasar a agenda legislativa
norte-americana”, diz.
Em dia de forte saída de recursos estrangeiros e baixa
liquidez, o analista da corretora destaca que as declarações do presidente do
Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmando que a autoridade monetária
não tem nenhum “dogma” em relação a instrumentos de intervenção no
câmbio. “O que frustrou as expectativas de players que esperavam
intervenções [no mercado] à vista”, avalia.
Acima do nível de R$ 4,00 há 30 sessões – desde 16 de
agosto, Marcatti ressalta que, diferentemente do período anterior quando o
dólar se sustentou acima deste nível na marca histórica de 26 pregões seguidos,
o evento era local – à época influenciado pelas eleições presidenciais – e não
como agora, refletindo as incertezas externas.
“As expectativas de crescimento mais fraco da
economia global e a guerra comercial entre as duas maiores economia do mundo refletem
nessa pressão global do dólar”, diz. O economista acrescenta que, por mais
que o BC realize leilões de venda de dólares no mercado à vista ou operações de
swap cambial, não adianta a autoridade monetária “queimar” as
reservas cambiais se o exterior não ajudar ou “acender uma vela”,
sugere para a moeda cair abaixo de R$ 4,00.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, à exceção
dos dados sobre renda e gastos pessoais de agosto nos Estados Unidos que podem
influenciar na cotação na abertura dos negócios, o economista da Veedha pondera
que há tendência de queda em meio às altas recentes. “Se tiver alguma
novidade sobre Estados Unidos e China, que se encontrarão daqui alguns dias
[segunda semana de outubro]
, há espaço para queda”, reforça.